Conselhos de amor para ignorar
Ele não tá a fim, não é assim que se faz, está te deixando de lado, sai fora, bloqueia. Não falta gente para dar conselhos sobre como agir com o novo crush. Mas o que devemos, de fato, escutar?
Quem está em campo sabe que, quando se trata de relações, as regras não são tão claras. Ainda mais nos primeiros dates. E é tão difícil a gente saber o que quer, o que o outro quer e, mais, como o outro é. Tá a fim? Me enrolando? Tem traumas? Trabalha muito? Um mar de questões dão uma ajuda na ansiedade que, no fim, deveria ser só um frio na barriga e muita emoção.
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E, sim, fica difícil ser assim na era das mensagens instantâneas e, pior, dos conselheiros amorosos de plantão. Já não bastasse a opinião daqueles mais próximos (amigos, mãe, manicure) ainda há uma enxurrada de reels para nos atazanar naquele momento em que você só queria pensar “ah, se tiver que ser será”.
“Se ele não manda, é por que não te ama”, “Não existe certo na hora errada”, “Quem quer, toma atitude”, “Está vendo outras pessoas? Não te curtiu”. As verdades nem tão verdadeiras que podem martelar sua cabeça devem ser vistas com cuidado. Acontece que fora das redes a vida não se resume no “ou é ou não é”, o velho “pão, pão, queijo,queijo”. Simplesmente pelo fato de estarmos falando de pessoas. E como a gente é complexa, né?
Conselhos clichê são só uma parcela da realidade, pois comportamentos mudam ao longo do tempo
Por isso, os conselhos amorosos-clichê devem ser vistos com cuidado, pois eles podem conter pistas importantes mas ao mesmo tempo simplesmente não levam em conta o fato de que há uma pessoa do outro lado. “Clichês falam sobre uma parcela da realidade, pois revelam comportamentos sociais que ao mesmo tempo são mediados ou atravessados por diversas questões que também são culturais e que vão mudando ao longo do tempo”, diz Ana Canosa, psicóloga e terapeuta sexual, que ajuda a não cair nas frases de efeito.
Quem não te responde rápido não tá a fim. (ou ‘Quem demora para responder, não tem como prioridade’ ou ‘Quem quer responder, arruma tempo’)
Depois do primeiro encontro, ainda mais se rolou sexo, uma das maiores angústias é saber como vai ser a comunicação no dia seguinte. Aqui temos dois pontos importantes, caso não role a iniciativa da outra parte. Primeiro, é que qualquer um pode tomar a iniciativa de mandar uma mensagem antes, na forma de bom dia ou de meme. Tirar o peso de cima do outro já ajuda a desbancar a expectativa.
Se você decidiu esperar, tudo certo, não quer dizer que a mensagem mandada na semana seguinte seja menos válida. “Pode ser verdade ou não esta frase, não dá para saber no começo. A pessoa talvez esteja atravessada pelo cotidiano, tem gente que não gosta de responder mensagem ou usar o telefone”, pondera Ana Canosa. “Em um terceiro, quarto encontro que as coisas começam a se desenhar, não é legal ter uma análise tão rasa dos comportamentos. E tem muita gente que não tem relacionamentos como prioridade, pois naquele momento outros projetos interessam mais.”
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No começo de qualquer relação, é preciso fazer jogo
O time dos que não fazem jogo, sincerões, contra aqueles que pensam bem, em cada vírgula de uma mensagem, em cada palavra de um story. “Pensar em joguinhos como uma dança do acasalamento, como nos animais, é inevitável e natural”, diz a psicóloga se referindo ao início da sedução, os primeiros olhares.
Mas, segundo ela, pensar muito em cada ação que vai fazer pode afastar sua espontaneidade. E se a pessoa não cair naquela dança, for do tipo mais direta ou perder a paciência, você pode deixar de ter conhecido alguém bacana.
A questão do jogar também passa sobre transar no primeiro encontro, o que (sim, estamos nessa ainda) pode martelar a cabeça das mulheres que acabam deixando de curtir um momento especial. “Sabemos que tem muitos homens pensando em novas masculinidades, principalmente os mais jovens, e eles não vão achar que não vai dar certo só porque a mulher fez sexo na primeira vez, Não tem isso”, fala.
Nunca seja a primeira pessoa a dizer o que sente. (ou espere o outro dizer que sente)
Quer ser emocionada? Seja! Se isso significar ser sincera, verdadeira, chamar pra sair, dar presente, tratar bem, nem tem porque discutir. “Isto é um absurdo absoluto, sentimento tem que ser expressado mesmo, dizer como se sente. Agora, um pouco de cuidado para não deixar transbordar todos seus sentimentos em alguém que acabou de conhecer.” Isto quer dizer que falar, sim, se der aos poucos conforme for entendendo o outro, melhor. Equilíbrio que chama.
Muita gente fica nervosa na hora do “eu te amo”, “te quero muito”, “muito na sua”, e isso pode tirar horas de sono, acelerar o coração só em pensar.
Deveria ser espontâneo, mas pode se tornar um super drama. “Você segurar um ‘eu te amo’ e depois receber e não saber o que fazer com isso, pois queria falar e não falou… A gente é sentimento e tem que compartilhar”, fala a psicóloga.
“Se os dois só quiserem sexo, qual o problema? O cara ligou, você quis ir, pronto!”
Você não é delivery para ir na casa do cara sempre que ele te chama
A gente pensa que avançou, como na questão da transa no primeiro date, e olha a gente de novo fazendo certos questionamentos inevitáveis. Quem não ouviu, sem acreditar, recentemente “ele só quer transar”, “você é só mais uma”, ou “se valorize”?. “Elas colocam a mulher como um objeto, é muito machista. Se os dois só quiserem sexo, qual o problema? O cara ligou, você quis ir, pronto”, diz Ana Canosa.
A troca entre duas pessoas pode acontecer de diversas formas e o sexo é uma delas. Se a relação for saudável, de respeito, tem conversa para saber os desejos, não tem motivo para não rolar. “Se você está olhando para esta relação com o prisma do desejo sexual, a outra pessoa também, não tem nada a ver esta história de objeto, é coisa do passado”, diz.
Se não for fácil, não é amor. (ou ‘Se não for fácil, não é para ser’ ou ‘Se for difícil, não é amor’)
“O amor traz muitos desafios e dores pois a gente é afetado pelo outro. Não há relação sem dilemas. Ainda há este ideal de que ‘quando eu encontrar alguém vai ser tudo lindo-maravilhoso’”, fala Ana.
Quando falamos de relação sempre há um “mas”, um “porém” para refletir e voltar naquela questão de que tudo nem sempre é claridade. “Logo no início da relação se você tem muitos desafios desgastantes, principalmente em personalidade, pode ser um sinal. Pois ao longo do tempo, com a convivência, pode ficar muito difícil.
A terapeuta alerta principalmente quando se faz a listinha do ideal, altura, cor do olho, time de futebol, gosto musical. Tirando o inegociável, que é te respeitar, ser leal, dar beijos e amor, melhor fugir dos padrões dos sonhos.
“Não é fácil encontrar alguém e ter uma relação saudável e duradoura, muitas pessoas legais podem não estar disponíveis ou dispostas. Então, não vai rolar de encontrar muita gente com as características que grudam na cabeça. Pense em ter alguém que te faça sentir bem, com o mesmo projeto de vida, energia sexual”. Tá aí o caminho para a gente seguir, se perder, voltar na rota, começar de novo. Bora?