Como acalmar a mente? - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

Como acalmar a mente em tempos de excesso de informação

Pensar demais cansa, faz mal pra saúde e pode afetar até a sua imunidade. Especialistas dão dicas de como desacelerar.

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É só colocar a cabeça no travesseiro para que uma enxurrada de pensamentos afaste o sono e as horas de descanso. Mesmo com o fim do expediente, a mente continua presa nos metros quadrados do seu escritório, junto com as obrigações profissionais. Para os pais, então… é ainda mais difícil relaxar.

Quando o mundo, a tecnologia, as obrigações e as angústias afastam cada vez mais a nossa cabeça dos momentos de descanso, dar um jeito de aquietar a mente é ainda mais necessário antes de sermos devorados pela exaustão – e ter a nossa saúde impactada. 

Já foi comprovado cientificamente que pensar demais pode afetar seu sono, seu apetite, causar ansiedade, tensão muscular, além de efeitos mais graves como mudança de pressão sanguínea (graças ao nível de estresse) e prejudicar seu sistema imunológico (o corpo libera cortisol para controlar o nível de esgotamento mental e isso enfraquece suas defesas naturais).

No livro Trilhas sonoras da mente, o autor Jon Acuff propõe saídas para quem está cansada de pensar demais – ou seja, todas em 2023. Para controlar esses malefícios, ele sugere transformar o “overthinking” em algo positivo. Ou melhor: em um superpoder ao invés de um superproblema… Será que é possível?

Canções do bem

Para transformar o pensar demais em um superpoder é preciso tratar os pensamentos como trilhas sonoras, defende Jon, levando em consideração que existem as boas e as ruins. 

“As trilhas sonoras negativas são histórias ruins em que acreditamos sobre nós mesmos e sobre o mundo. Elas tocam automaticamente, sem qualquer convite ou esforço da nossa parte, já que o medo, a dúvida e a insegurança não exigem esforço”, argumenta.

Jon Acuff defende que a gente aposente as trilhas sonoras negativas e substitua por novas

Na linha da neuroplasticidade (capacidade do sistema nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões de experiência), Jon sugere que a gente afaste as trilhas sonoras negativas com três perguntas – Isso é verdade? Isso é útil? Isso é gentil? – e as substitua por novas, repetindo até que elas se tornem automáticas na nossa cabeça. 

Para alcançar esse mérito, ele desenvolve a prática do “Novo Hino” que consiste basicamente em repetir por 30 dias, toda manhã e toda noite, uma espécie de oração para controle mental.

” Eu, [seu nome], escolho meus pensamentos. Sei que, para fazer as coisas da melhor forma possível, preciso pensar da melhor forma possível. Como se preparassem o caminho para uma aventura, esses pensamentos vão guiar minhas ações” e continua com frases motivacionais e de autoajuda.

Jon realizou teste com mais de 10 mil voluntários e os que aderiram ao método apresentaram uma redução de 15% na insegurança pessoal. O autor também concluiu que aqueles que readequaram o hábito de pensar demais demonstraram uma tendência quatro vezes maior de conquistar ou quase conquistar seus objetivos – ou seja: mostraram-se mais produtivas, dedicadas e esforçadas do que os colegas que não reduziram o excesso de pensamentos.

O tempo não para

O psicanalista Christian Dunker alerta para os riscos do “enxugamento” de momentos lúdicos e vazias da rotina neoliberal – ora estamos trabalhando, ora conectados à tela. Não há espaço para o vazio, para o lazer, para o nada, que é quando os pensamentos podem se reorganizar.

Mas ainda que funcione para algumas pessoas, Christian diz que o perigo de técnicas de autoajuda, como as de Jon Acuff, é que elas orientam as pessoas a otimizarem o tempo a todo custo, caindo na lógica perigosa da hiperprodutividade. “É a mesma lógica do alto desempenho, da melhor versão de si’, que não deixa espaço para intervalos e que torna tudo aquilo que não é produtivo em culpa, em matéria-prima mal-empregada”. 

Para romper o ciclo dos pensamentos circulares, transforme ideias em imagens, sugere Dunker

Anote a dica do psicanalista: para romper o fluxo de pensamentos circulares (os que roubam o sono e aumentam o estresse), transforme ideias em imagens. Sabe aquela preocupação que está tirando o seu sono? Imagine como seria (em imagens, ao vivo e a cores) caso aquela situação se tornasse real. Para Dunker, mudar a linguagem das preocupações e criar “um universo em que elas existem” é a melhor maneira de combatê-las. É a elaboração, e não a fuga, dos problemas. 

A patologia do desligamento

“Temos dificuldades de fazer passagens, de fazer transições; em um mundo que não para nunca, não sobra tempo para elaborar e redefinir os pensamentos. Nossa subjetividade está trabalhando por compressão e, assim, seguimos confundindo distância com desligamento”, analisa.

Ana Maria Rossi, psicóloga PhD e presidente do ISMA-BR (International Stress Management Association), defende que é preciso colocar a mente “em ponto morto” caso queiramos continuar a viagem. “A solução não é pensar de menos ou de mais, e, sim, tentar encontrar técnicas em que o pensamento seja ‘mais controlado’”.

Mais do que a análise terapêutica, Ana Rossi sugere atividades como yoga, meditação, atividades físicas e outras práticas que te ajudem a ficar no aqui e no agora, sem interferência externa, principalmente de natureza digital. 

Seja qual for o caminho que você escolher para seguir, o consenso entre os especialistas é o de que estamos indo rápido demais e que é preciso reduzir velocidade. Talvez o primeiro passo seja tratar o descanso como direito e não como privilégio.

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