Aumentar a libido, atenuar os sintomas da TPM, dormir melhor, reforçar a imunidade, render mais e evitar lesões quando se pratica esporte. Esses são alguns desejos da grande maioria das mulheres nas mais diversas fases da vida. Sabendo disso, a empreendedora Ana Júlia Kiss, que construiu sua carreira na indústria química, criou cinco fórmulas spray com cannabis, especialmente desenvolvidas para lidar com as questões acima citadas, apresentando a maconha como mais uma ferramenta para o incremento da qualidade de vida das mulheres. 

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“A gente acredita que todo mundo deveria usar a cannabis. Ninguém precisa estar doente, nem com algo crônico, para fazer uso dessa planta, por isso trabalhamos o conceito de microdosagem de CBD, devolvendo todos os dias um pouco dos canabinoides que nosso sistema precisa”, conta Ana Júlia, sobre o pilar central que deu origem à Humora, marca que começou a operar no Brasil no início de julho. Os sprays serão os primeiros produtos à base de cannabis que a marca promete ser a nova aliada do bem-estar feminino.

A cannabis auxilia no combate a uma variedade de desequilíbrios

Um número cada vez maior de mulheres saudáveis se dedica a observar com mais atenção sinais do corpo e da mente, como o humor, o sono e a disposição, para prevenir que desordens leves, se não tratadas, dêem origem a doenças graves. Diversas ervas já são velhas conhecidas e utilizadas, mas o que muita gente começa a descobrir só agora é que a cannabis também é uma dessas ervas que auxiliam no combate a uma variedade de desequilíbrios.

A cannabis desempenha um papel importante na regulação de vários sistemas do corpo humano ao conectar-se, assim como chave na fechadura, com o sistema endocanabinoide – presente em todos os mamíferos –, que regula vários outros sistemas, como o nervoso e o imunitário. Nos sprays da Humora, a cannabis vai se juntar a outras plantas poderosas para intensificar seus efeitos: em uma mistura com valeriana, na solução para o sono; com cúrcuma no de esporte, com vítex no de TPM, e assim por diante.

CBD: suplemento alimentar

O time da Humora é composto 80% por mulheres e decidiu, por ora, ofertar apenas produtos feitos com CBD isolado, sem outros canabinoides. “Fazia sentido agora ir para 0% de THC [tetra-hidrocarbinol, componente da planta da maconha responsável por seus efeitos alucinógenos], para mostrar que ninguém vai ficar chapado, mas temos ambições de criar um produto para momentos sociais”, revela a empresária, que montou a operação da marca na Califórnia pelo acesso facilitado a fornecedores e matéria-prima de qualidade.

Para receber os sprays no Brasil, as interessadas devem passar por uma consulta a fim de receber uma prescrição médica e, necessariamente, pelo processo de autorização da Anvisa, comum a outros produtos à base de cannabis utilizados em tratamentos médicos – a marca auxilia as clientes em todas as etapas.

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Enquanto o canabidiol é categorizado no Brasil como substância altamente controlada, equiparável aos medicamentos de tarja preta, nos EUA, o canabinoide é designado pelo FDA (órgão equivalente à Anvisa) como suplemento alimentar, sob o mesmo tipo de regulação que ômegas e vitaminas. Assim, produtos à base de CBD estão, sem exagero, em todos os lugares. Nos supermercados, nas lojas especializadas, farmácias e até nas conveniências dos postos de gasolina. E em diversos formatos: bebidas, gomas, azeites, pomadas, cremes, e o que mais a criatividade puder imaginar.

Uma categorização mais amena para o CBD abre espaço para pesquisas e desenvolvimento, para a melhoria dos produtos. Estudar cada composto e os blends entre eles abre um leque de possibilidades sobre como poderiam ser utilizados de forma eficiente para sanar as dores do mercado. 

Além disso, os norte-americanos passaram a entender os canabinoides como aliados do seu bem-estar, o que estimulou, é claro, o surgimento de uma série de negócios que criam produtos com a finalidade de promover qualidade de vida com a cannabis. Marcas como Foria, Hello Again e Kikoko, por exemplo, nasceram com a promessa de cuidar do bem-estar feminino através do CBD e de outros canabinoides como o CBG e o CBN.

Xapa xana medicinal

Apesar da dificuldade de empreender com a cannabis e seus canabinoides no Brasil, observar o punante mercado norte-americano serve de inspiração. “Quando estava me mudando para o Uruguai, me deram de presente um lubrificante de cannabis feito por umas manas de SP e falaram que era parecido com o da Foria”, conta Débora Mello, a primeira mulher a empreender com cannabis no Brasil e criadora do Xapa Xana, lubrificante íntimo à base de cannabis.

A empreendedora por trás da marca é formada em arquitetura e assim que chegou no Uruguai, em 2017, começou a testar fórmulas com as flores que descolava facilmente no cenário recente da legalização da maconha no país, para criar seu próprio lubrificante íntimo. O negócio deu tão certo que se espalhou rapidamente pelo boca a boca.

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Atualmente, a produção de 2 mil unidades por ano esgota em questão de minutos quando aparece disponível no site. A maioria dos envios são feitos para o Brasil, mas alguns ficam pelo Uruguai.

“Descobri que muitas mulheres tinham problemas com libido, lubrificação vaginal, dor na hora do coito, coisas que conseguimos reverter com o produto. Eu nem sabia que podia ajudar a resolver esses problemas. O Xapa Xana teve intenção de ser recreativo e descobri que tem um lado medicinal muito grande”, conta a empreendedora, que foi para a Califórnia estudar seis cepas de cannabis para diferentes receitas, até encontrar a fórmula – AK-47 – que é sucesso há mais de cinco anos. 

“A cannabis estimula o hábito da gente se olhar, se cuidar”

Durante todos esses anos, a distribuição do produto foi feita de forma discreta, pelos Correios, com um potinho de 5ml de “brinde” na compra de um zine Xapa Xana, produto comercializado oficialmente, em que explica as indicações e modos de uso e conservação do lubrificante. Agora, Débora quer escalar o negócio, e está em fase de testes com um laboratório do Uruguai, que vai permitir que o Xapa Xana entre no Brasil através de prescrição médica, com autorização da Anvisa. 

O cânhamo pelo bem-estar

Trabalhar pelo bem-estar das mulheres por meio da cannabis no Brasil não precisa necessariamente passar pelos canabinoides, e aliás, mais fácil cumprir esse objetivo evitando lidar com todos os processos burocráticos que a cannabis enfrenta no país. Prova de que é possível empreender no Brasil com produtos à base de maconha feitos para mulheres é a Poli Rodrigues, criadora da FloYou, uma marca de cuidados menstruais cujo produto de estreia é uma calcinha menstrual de cânhamo com tecnologia inédita no mundo.

“Nunca me senti bem com absorventes descartáveis e sempre foi um entrave lidar com a minha menstruação”, conta Poli, que em 2020 trocou os absorventes de plástico pelas calcinhas menstruais e ganhou qualidade de vida. Quando decidiu empreender com cânhamo, ela fez uma lista de possibilidades onde poderia aproveitar os benefícios tech das fibras de cânhamo e as calcinhas surgiram como intersecção perfeita. “A cannabis estimula esse hábito da gente se olhar, de olhar pra dentro, se cuidar, se sentir confortável na pele que a gente habita e eu quis reproduzir isso na FloYou.”

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Os três modelos de calcinha (fluxo leve, moderado ou intenso) estão disponíveis em cinco tamanhos e têm quatro camadas que prometem toque seco e respirável, máxima segurança na absorção, propriedades anti odor, hipoalergênicas e bactericida.
Os passos seguintes, que devem acompanhar a evolução da regulação, incluem chás, chocolates infusionados, óleo de massagem e supositórios para cólicas. “A FloYou nasce em um período de pré-legalização e ela vai se alterando conforme os avanços do mercado, com todas essas possibilidades de intersecções ao longo da abertura da indústria no Brasil.”