Testamos o primeiro absorvente 100% biodegradável e que pode ser descartado no vaso sanitário - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

Testamos o primeiro absorvente 100% biodegradável que se dissolve em água

A reciclagem de produtos de higiene íntima tornou-se uma preocupação global: a cada ano, mais de 200.000 toneladas de absorventes são descartadas no planeta. Já estava mais do que na hora de termos alternativas ecológicas. Esse absorvente de desfaz em 30 dias em contato com a água.

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Estima-se que todos os dias 300 milhões de mulheres em todo o mundo estão menstruadas, gerando um descarte de mais de 1 bilhão de absorventes. Os dados são da  ONG Women’s Environmental Network e mais do que assustar, servem para fazer um outro alerta: cada um desses absorventes não orgânicos – feitos em sua maioria com 90% de plástico – podem levar até 500 anos para se decompor. Uma conta alta tanto para o meio ambiente quanto para o bolso da mulher, que vai usar, em média, mais de 12.000 produtos menstruais descartáveis ao longo da vida, de acordo com o Instituto Akatu, ONG voltada para o consumo consciente.

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É verdade que nos últimos anos surgiram alternativas mais ecológicas aos produtos tradicionais de higiene feminina, como absorventes feitos de pano ou algodão orgânico, calcinhas absorventes ou o copinho de silicone. Há também opções 100% biodegradáveis produzidas em pequena escala, como o EcoCiclo, criado por mulheres periféricas brasileiras. Mas o custo ainda é alto ou os produtos produzidos de forma mais artesanal.

A grande novidade (e aqui podemos dizer: já não era sem tempo!) surgiu recentemente no Reino Unido: é um absorvente biodegradável, que pode ser jogado diretamente no vaso sanitário. Pelo menos aqui na Inglaterra, de onde escrevo e que tem um sistema de esgoto pronto para decompor o papel higiênico. Nos banheiros daqui, os lixos só são usados para descarte de absorventes  – no Brasil, a Sabesp não recomenda jogar papel higiênico no vaso sanitário pois pode causar entupimentos. 

Zero resíduos permanentes, zero produção de microplásticos e zero poluição para o planeta

O novo produto se chama Fluus e, segundo o fabricante, se decompõe em até 30 dias, além de ser 15% mais absorvente do que os produtos tradicionais. A marca ainda garante zero resíduos permanentes, zero produção de microplásticos e zero poluição para o planeta. É emocionante, não é? Para se ter uma ideia, aqui na Europa, o fato de muitas mulheres jogarem o absorvente na privada (o que não é recomendado) fez com que os produtos menstruais passassem a ser o 5º item mais comum encontrado nas praias do continente – passando na frente até dos canudos plásticos.

Ainda é difícil encontrar o Fluus nas farmácias, mas a venda online funcionou bem: paguei 7 libras (cerca de R$ 43 porque a libra tá mais de R$6) por uma embalagem, de papel, com 15 absorventes. Para fazer um comparativo, o pacote de uma marca tradicional sai por no máximo 2 libras (R$ 12,30) no mercado.

De que é feito?

Segundo o fabricante, o absorvente é feito de fibras vegetais e um adesivo não tóxico, sem plástico, e derivado da seiva de árvores. Esse adesivo tem uma durabilidade menor, cerca de 6 meses, não vamos esquecer que ele se dispersa na água. O absorvente é bem fininho, o que a princípio me deixou na dúvida se realmente funcionaria para mulheres com um ciclo menstrual intenso. Mas, já dando um spoiler, deu certo.

“Ótimo poder jogar o absorvente na privada e não deixá-lo no lixo da casa do namorado”

Convidei duas pessoas para testar o produto. Fiquei de fora da lista porque sou dessas que resolveram parar de menstruar – tomo mini pílula contínua há 11 anos (se quiser saber mais sobre isso, a Mina fez uma matéria onde apareço contando sobre essa decisão). Acabei usando o absorvente um dia, apenas para saber se era confortável ou não, o que a gente não faz pelo trabalho, não é mesmo?

Minhas cobaias foram uma amiga, Daniela, de 46 anos, e sua filha, Malu, de 16. Elas usaram o Fluus durante um ciclo menstrual e os resultados, segundo as duas, foram surpreendentes. Vamos aos detalhes:

É confortável? 

Nós três podemos dizer que sim. O material que fica em contato com a pele – é uma fibra de algodão – deu zero reação alérgica e não incomodou nada. O fato de ele ser tão fino como um absorvente diário, do tipo care free, também foi um plus, principalmente para Malu, de 16 anos, que curte usar roupas justas. A cola das abas funcionou direitinho para manter o absorvente no lugar – e evitou vazamentos.

Funciona bem à noite? 

No geral, sim, mas tivemos um episódio de vazamento. Daniela, contou que acordou um dia com uma mancha na calcinha – o que para ela é comum de acontecer também com os outros absorventes. De resto, as duas ficaram felizes com o resultado.

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Segurou a onda nos dias mais intensos?

Mãe e filha disseram que não perceberam os tais 15% de maior absorção divulgada pelo fabricante, mas, sim, o Fluus deu conta. Dani disse que manteve a rotina de trocas como faz com as marcas que usa regularmente. Malu também não teve problemas, e ainda disse que achou ótimo poder jogar o absorvente na privada e não deixá-lo no lixo da casa do namorado.

O produto se manteve intacto? 

Sim. O produto não perdeu integridade nem no dia em que Malu teve que usá-lo por umas 8 horas no segundo dia da menstruação (ela esqueceu de levar um extra na mochila da escola).

O produto conseguiu reter o odor da menstruação? 

Mãe e filha me disseram que sim. A absorção foi boa e não sentiram odor nem mesmo nos dias de maior fluxo. Aliás, o que ginecologistas dizem é que muitas vezes o odor da menstruação está diretamente ligado aos componentes químicos dos absorventes. Quando eles entram em contato com sangue menstrual, provocam uma reação química que exala um cheiro mais forte.

Vale a pena pagar o triplo pelo Fluus? 

Aqui as opiniões se dividem. Malu disse que sim, pelo bem do planeta (ela já era adepta do copinho coletor). Dani, que paga as contas de casa, disse que ainda vai esperar um concorrente entrar no mercado para o preço baixar.

Um problema global

A reciclagem sustentável dos produtos descartáveis tornou-se uma preocupação global: cada embalagem de 14 absorventes contém a mesma quantidade de plástico que 5 sacolas dessas de mercado. E, antes mesmo de se decomporem em microplásticos, já poluem oceanos, rios, praias e contaminam o abastecimento de água.

No Brasil, ainda não é possível reciclar absorventes íntimos, mas aqui no Reino Unido já existe uma empresa chamada Knowaste que transforma absorventes e fraldas – tanto de bebês como geriátricas – em madeiras ou telhas plásticas. São 36 mil toneladas de material reciclado todo ano e, segundo a empresa, uma redução de 70% na emissão de carbono. Veja, isso equivalente a tirar 7.500 carros da estrada.

Quando chega no Brasil? 

Por enquanto a Fluus só faz entregas no Reino Unido, e não há informação sobre exportação para outros países, mas pra não deixar ninguém na mão, trazemos aqui algumas opções sustentáveis que são comercializadas no Brasil.

Absorvente biodegradável brasileiro: O EcoCiclo é um absorvente 100% biodegradável desenvolvido por quatro mulheres periféricas. Ele é feito a mão, demora 6 meses para se decompor e deve ser descartado no lixo. Ainda produzido de forma artesanal em pequena escala, pode ser encontrado pelo site. Preço: Uma caixa com 8 sai por R$ 25.

Absorvente orgânico: O Amai é feito de algodão orgânico e não de rayon, um derivado da celulose mais barato, é vegan friendly e também biodegradável, mas demora seis meses para se decompor após o uso. Outro benefício é que não são utilizados químicos, agrotóxicos ou pesticidas na sua produção. A parte inferior é feita com bioplástico à base de plantas respirável e à prova d’água. Pode ser encontrado no site. Preço: um pacote com 8 unidades custa, em média, R$ 30.

Coletores: copinho é feito de silicone, para ser usado internamente por até 10 horas, e pode durar de 5 a 10 anos. São reutilizáveis e basta higienizá-los a cada vez que for usado.
Preço: custam, em média, R$ 80 cada

Absorventes reutilizáveis: são feitos de tecido, mas com maior poder de absorção, e contam com abotoaduras para ficarem presos a calcinha. Precisam ser lavados após o uso e duram de 3 a 6 anos.
Preço: custam, em média, R$ 40 cada

Calcinhas absorventes: já existem no Brasil diversas marcas e modelos, a grande maioria feita de fibras naturais para absorver o sangue e deixar a pele respirando. Uma camada com ação antimicrobiana, também impede a proliferação de fungos e bactérias. Duram, em média, 2 anos e precisam ser lavadas após o uso.
Preço: custam entre R$ 50 e R$ 100, dependendo do modelo e do tipo de fluxo. 

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