10 dicas para brigar de forma construtiva sem acabar com a relação - Mina
 
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10 dicas para brigar de forma construtiva sem acabar com a relação

O amor só é possível com conflitos, mas dá para discutir com respeito, aceitando as diferenças e sem apelar para ataques cruéis. Vem saber como fazer para cultivar uma relação com mais diálogo e menos embate

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Em algum lugar das idealizações amorosas vive a ideia de que um boa relação é aquela que não há conflitos. Para seu alívio, pesquisas comprovam o contrário. Esther Perel, psicoterapeuta especializada em relacionamentos e sexualidade, descobriu que casais que não brigam no início da relação tendem a terminar antes dos que brigam. Isso porque, na tentativa de não colocar a insatisfação para o outro para não manchar a relação, acabamos nos contaminando dos nossos próprios ressentimentos. 

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É comum que reclamemos do parceiro para pessoas próximas, buscando validação para nosso desconforto; ou, ainda, que “joguemos a toalha” antes da hora, numa lógica fatalista do “ele é assim, nem adianta conversar que não vai mudar”. Dessa forma, abismos se criam.


Como você briga importa mais do que pelo que você briga. 

A ausência de conflitos revela uma relação em que ambos estão se escondendo; onde têm medo de se expor e expor seu desconforto. E uma relação baseada no medo tende ao fracasso. Ou seja, precisaremos da turbulência – ela é parte do processo e não um presságio do fim. 

O psicólogo John Gottman, que há mais de cinco décadas pesquisa a felicidade e a estabilidade conjugal, defende a ideia de que como você briga importa mais do que pelo que você briga. Sim, porque o amor só é possível com conflitos. E relação boa não é a que não tem conflito e sim a que tem conflito com respeito; onde aceitamos opiniões diferentes e não apelamos para ataques cruéis com frases pesadas que ficam ecoando no ouvido do parceiro.

Veja 10 dicas de como ter conflitos com respeito e amor

1. Esfrie a cabeça e comece de maneira mais suave e propositiva

Sei que é difícil, mas aquela dica básica de respirar fundo, dar uma esfriada na cabeça e começar a conversa num tom de voz mais calmo muda tudo. Nos mais de 50 anos pesquisando casais, John comprova que toda vez que começamos levantando a voz e explodindo… tende a escalar. A pessoa se ofende, se defende te atacando, levantando a voz. 

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Rolou o stress? “Nunca durma brigado” – já ouviu esse conselho? Esqueça. Todo mundo precisa de um tempo para digerir as coisas, e voltar no assunto sem parar só vai desgastar o casal. Pode ser que tenham noites brigadas mas, ainda assim, espere baixar o fervor da emoção. Assim, você fica mais propensa a conversar para resolver e não para colocar tudo a perder.

2. Evite a livre associação na discussão e mantenha-se num tema único

Quem nunca começou uma briga porque a pessoa mais uma vez deixou a louça na pia e, de repente, se viu falando “você não lava a louça nunca, e toda vez que a gente almoça na sua mãe sou eu que lavo a louça, e ainda tenho que ouvir ela me comparando com sua ex. E não aguento ir lá todo  domingo, sendo que a última vez que você foi nos meus pais foi naquele Natal de 2019”. 

Sabe quando um rancor puxa o outro? Fazemos isso porque queremos atacar várias coisas similares para provar o ponto e mostrar que o problema é recorrente. Mas isso só atrapalha a conversa sobre a questão que está em jogo, porque desfocamos, abrimos várias histórias paralelas deixando todas correlatas – e elas nem sempre são. 

Relação boa é a que tem conflito com respeito

É como se começássemos várias brigas e não terminássemos nenhuma. A livre associação acontece também porque a gente vai empilhando louças de mini brigas que não existiram. Nessas, o ralo entope, a pia transborda e a gente também. Por isso, nada de deixar a pia encher. Espera os 10 minutos da primeira dica e lave um prato por vez.

3. Pratique a comunicação não violenta – fale dos seus sentimentos e comece com “eu” em vez de “você”

Em geral, nosso primeiro impulso é atacar o outro com frases como: “Você me desrespeitou porque não apareceu no aniversário da Bia e você sabia que era importante pra mim…”. “Essa de não atender o celular e depois dizer que estava na reunião…”. “Você sempre foge do problema e nunca prioriza minhas coisas.” Só nesses exemplos olha quanto ataque, construção de uma lógica em que o outro está te sacaneando.

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O melhor seria falar: “Fiquei chateada de você não ter ido, para mim é tão importante ter você próximo dos meus amigos e eu amaria poder ter você curtindo esse meu mundo também”. “Me sinto enrolada quando você não fala, e deixa para última hora, fico com uma sensação incômoda…” 

Por que é melhor começar no eu e não no você? Porque não existe certo e errado nas sensações e emoções. Ao contar como você se sente, abre espaço para o outro conhecer os efeitos das atitudes dele em você sem se sentir atacado. É menos provável que a colocação pareça crítica e, com isso, você evita o efeito rebote, colocando seu parceiro em uma posição defensiva. 

4. Troque o “você é” pelo “você fez” e saiba diferenciar questões circunstanciais de questões de personalidade e desvio de caráter

Pegando um exemplo simples: a pessoa atrasou num compromisso importante seu (e não foi a primeira vez). O que a gente fala: “Você é descomprometido com a gente, faz de propósito porque nunca leva a sério meus compromissos”.

Nessa lógica transformamos uma questão circunstancial em desvio de caráter. Se fossemos nós as atrasadas por causa do trânsito, a culpa seria do trânsito. Mas, no caso do seu parceiro ou parceira… Não presumir que a pessoa fez por mal torna as relações mais humanas e possíveis. Incomodou? Fale: “Você FEZ isso e não você É ASSIM”. 

Reforçar pontos positivos do vínculo ajuda o outro a se abrir para críticas

5. Evite generalizações – “você é sempre assim” nunca funciona 

Se você falar: “Você nunca faz…”  para reforçar o seu ponto de recorrência daquele comportamento, sabe o que vai acontecer? Ele vai dizer “você é ingrata porque semana passada eu cheguei antes de você no aniversário da sua prima Claudia e ainda tive que aguentar o papo chato do seu cunhado”.

Mais uma camada de conflito para o conflito.

Como contornar isso? Traz para o sentir: “Já aconteceram algumas vezes esse atraso e eu sinto que você faz isso com frequência, o que me deixa super frustrada, sempre aflita”. Olha aí a comunicação não-violenta partindo de si funcionando de novo.

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6. Se você ainda acha que a relação vale a pena, fale sobre seu amor enquanto expõe seu descontentamento

Nos momentos de raiva tendemos a querer jogar tudo no ventilador. Segundo os especialistas em pesquisas de casais, reforçar pontos positivos do vínculo ajuda, inclusive, a pessoa a estar mais aberta para ouvir criticas específicas: fale que gosta dela, mas não desse comportamento – assim você não quebra as pontes de afeto.

7. Entenda o quanto a briga é com a pessoa ou com seu passado

Desapontamentos são ecos de outras brigas que tivemos na vida. Muito provavelmente essa briga pela não presença nos eventos da sua família também tem a ver com seu primeiro namorado, que nunca ia nas festas e você acabou descobrindo que ele saía com outras meninas enquanto você estava lá.

Ou, você briga pela falta de organização na casa porque seu último namoro era vivido num lar caótico e não quer passar por isso de novo. E, nessas, passa a conta do anterior para o atual. Aqui, a terapia e a autoanálise são bem-vindas para calibrar o incômodo. O atual deve lidar com sua parte do latifúndio. O resto a gente leva para o divã.

E quando é você que pisa na bola?

Agora que falamos bastante sobre quando estamos bravas com o outro, vale pensar: no caso de você ter pisado na bola e o parceiro estar bravo com você (mesmo que ache que não tenha pisado).

Normalizar os desentendimentos viabiliza as relações amorosas

8. Não se justifique – dê espaço para a pessoa ficar brava

Nosso primeiro impulso é querer se explicar para resolver e, quanto mais a gente se justifica, menos a gente resolve as coisas. Acolha o incômodo do outro e valide ele no início da discussão: “Eu entendo que você se sentiu desprestigiado; entendo que isso te incomoda… Validar não é concordar, é acolher o sentimento e criar uma relação onde a pessoa também entende que amar é validar suas inseguranças, medos e neuras. Isso as torna menos paralisantess para os dois lados.

9. Assuma a responsabilidade, mas não a culpa

Se colocar como culpada cristaliza você no lugar de vilão e a outra pessoa no lugar de coitado. Isso é um prato cheio para relacionamentos tóxicos, onde a pessoa que se sentiu vítima vai sempre utilizar essa chave da culpa para fazer você se sentir mal. Nessa dinâmica, você corre o risco de estar sempre tentando reparar um erro muito maior do que o que aconteceu – isso quando não pedimos desculpas sem nem achar que tínhamos culpa. Quantas vezes você não pediu mil desculpas para ficar tudo bem? Esse exagero no pedido se volta contra nós. 

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Aprenda a sustentar esse climão da relação e entenda: pisei na bola é uma coisa. “Sou a pior pessoa do mundo, por favor não me abandone!” é outra bem diferente. Se a pessoa levar a discussão para esse lugar, volte para o começo do papo – nada de hipérboles, generalizações e livre associação

10. Mesmo brigados, mantenha a conexão

Mostre que você ainda está lá em pequenos gestos. Do tipo, “ainda tô digerindo, mas comprei o sucrilhos que você gosta no mercado”; “vi que tem passagem em promoção para um fim de semana no Rio de Janeiro”. Seguir implicado no cotidiano do casal é uma forma de manter a conexão sem forçar a barra e antecipar o “tá tudo bem, página virada”.

Isso faz com que você se sinta cuidando do relacionamento mesmo sem ter resolvido aquele ponto específico e as chances de conversarmos melhor e com mais amor são muito maiores 

Que a gente possa ter cada vez mais conflitos com afeto. Normalizar os desentendimentos é a única forma de viabilizar as relações amorosas, não acha?

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