Ter orgasmos – ainda mais quando se é mulher – é importante, sim, mas essa não é nossa única fonte de sentir prazer. E reconhecer isso é revolucionário. Em um dos textos mais poderosos de Audre Lorde, a autora feminista reflete sobre o “Poder do Erótico“. Para ela, o prazer feminino é tão temido pela sociedade atual que foi reduzido ao quarto, a quatro paredes, deixando de lado seu verdadeiro significado, físico e espiritual, de bem-estar e empoderamento das mulheres.
“O erótico oferece um manancial de força revigorante e provocativa à mulher que não teme sua revelação, nem sucumbe à crença de que as sensações são o bastante”, defende Audre.
Na visão da autora, que não é a única a pensar assim, as mulheres foram condicionadas a não sentir prazer porque isso as manteria insatisfeitas e uma mulher insatisfeita, com autoestima baixa, é mais fácil de ser controlada por um sistema patriarcal.
Uma mulher que sente prazer e explora o erótico, incomoda muita gente
E dentro dessa estratégia, resumir o prazer ao gozo, a algo particular e “sujo”, faz bastante sentido. A verdade é que uma mulher que sente prazer, e que explora o erótico para além do orgasmo, incomoda muita gente.
Prazer gera bem-estar
Esse papo pode parecer exagerado, mas quando olhamos para os benefícios do prazer (sexual ou não) entendemos o quanto ele é importante para a nossa saúde mental. A dopamina, por exemplo, o hormônio mais associado ao prazer, tem importante atuação no ciclo de recompensas, ajudando nosso cérebro a completar tarefas. A endorfina, por sua vez, atua como um poderoso analgésico em situações de dor e estresse.
Entender o prazer como algo que pode ser experimentado em diferentes situações é importante para nos sentirmos bem com nós mesmas. Para Lua Menezes, especialista em Sexualidade e Psicologia Positiva, “o bem-estar gera confiança e uma mulher confiante é capaz de mudar o mundo”.
Quem não tem prazer na vida, não tem prazer na cama
Ela acredita que um bom ponto de partida para se conectar com o prazer é através do “exercício da presença”, que ela explica a seguir: “Nossos sentidos estão o tempo todo captando coisas que podem ser prazerosas e que se a gente estiver presente e prestar atenção a gente vai conseguir se reconectar com o prazer. Quando a gente toma um banho de mar, por exemplo, e sentimos o sol tocar nossa pele, a água do oceano molhar nosso corpo, e fazemos isso realmente presentes… meu Deus, que delícia!”.
Claro que um “tipo de prazer” não está desconectado do outro e, como repete a ginecologista natural Débora Rosa para suas pacientes, “quem não tem prazer na vida, não tem prazer na cama”. Pelo contrário: é um ciclo.
Pessoas estressadas têm mais dificuldade de explorar seu potencial orgástico, argumenta a médica. Segundo Débora, ter uma rotina mais prazerosa – longe ou em cima da cama – devia ser um estilo de vida. “Precisamos explorar o prazer sem pressão, buscando todo o potencial dos nossos corpo, das nossas sensações, como um gesto de autocuidado”, diz.
Feitiço contra o feiticeiro
A verdade é que devíamos comemorar os avanços recentes que permitiram que tirássemos o sexo da ótica reprodutiva, mas ainda há muito pelo que lutar. Se antes diziam que o sexo servia apenas para reprodução, o discurso do sexo como única e principal fonte de prazer também é perigoso por reforçar a busca pela performance na cama.
“A busca incessante pelo ‘orgasmo perfeito’ pode, paradoxalmente, nos impedir de alcançá-lo. Ficamos tão focados em desempenho e técnica que negligenciamos aspectos mais profundos como sentimentos, emoções e até mesmo a dimensão espiritual do momento. Antes de nos lançarmos nessa corrida desenfreada, talvez devêssemos nos perguntar se essa busca é realmente necessária”, analisa facilitadora em consciência erótica Pamela Ribeiro, também conhecida como “A Bruxa Preta“.
Vem pra fora da caixa!
Na visão de Pamela, limitar o conceito de prazer ao gozo é viver em uma caixa restrita e, para sair dela, é essencial explorar diferentes aspectos da sexualidade, sensualidade e conexão. Ela explica que durante séculos, a sexualidade feminina foi suprimida, e o prazer feminino, ignorado. E, por isso, precisamos reconhecer a importância de reivindicar nosso direito ao prazer, mas também evitar criar uma nova armadilha onde a experiência sexual é medida apenas pelo orgasmo.
Prontas para viver um dia prazeroso e revolucionário hoje?
Esse tipo de abordagem pode ser limitante e até mesmo opressiva, criando expectativas irreais e desconsiderando as diversas formas de vivenciar a sexualidade. Enquanto celebramos a conquista do orgasmo como uma parte importante da sexualidade, devemos lembrar que o prazer é multifacetado e pode ser encontrado de muitas maneiras”, resume Pamela.
Prontas para viver um dia prazeroso e revolucionário hoje? Que seja comendo, rezando, viajando ou gozando: é necessário explorar o prazer em suas diferentes formas.