O coração batendo forte e a respiração ofegante até poderiam ser indícios de que o orgasmo está chegando. Se não fosse a tontura generalizada e o peso no peito que vêm junto para vendedora Thais*, de 29 anos. Casada há dois, ela percebeu, em uma conversa sobre sexualidade, que estava, na verdade, com ansiedade do orgasmo. Ao invés de chegar ao ápice do prazer durante o sexo, o que vinha era esse desconforto angustiante.
“Não conseguia desligar o meu cérebro. Era como se tivesse um ruído dentro da minha cabeça que me tirava do lugar. Depois vinham pensamentos intrusivos que acabavam completamente com a minha concentração”, conta. Mas Thais não está sozinha. Segundo especialistas, muitas mulheres acabam passando por algo parecido, já que 56% das brasileiras cisgênero tem dificuldade para chegar ao orgasmo, segundo pesquisa de 2016 da Universidade de São Paulo.
A psicóloga e terapeuta sexual Paula Napolitano explica que a ansiedade do orgasmo não chega a ser um quadro de transtorno de ansiedade generalizada (TAG), mas traz sinais relevantes o suficiente para prejudicar o prazer. “Estou fazendo algo errado?”; “devo ter algum problema”; “não sou capaz de gozar” e “isso vai acabar com a minha relação” são algumas das preocupações que costumam passar pela mente da mulher que sofre do problema.
Muitas mulheres acabam evitando o sexo para não ficarem ansiosas para gozar
“Esses pensamentos desconectam a cabeça da relação em si, o que faz com o que o orgasmo fique ainda mais longe”, diz a especialista. Eles podem surgir durante o ato, no amasso ou até mesmo no encontro antes do clima esquentar e, quando se tornam recorrentes, podem até fazer algumas mulheres evitarem ter relações para não entrar nessa “noia”. “Outras acabam iniciando o sexo já pensando em agradar a outra pessa – ao invés de dar atenção ao próprio prazer. Vira um círculo vicioso em que, enquanto a cabeça de cima fica ruminando, a de baixo não funciona”, diz Paula.
O que causa a ansiedade do orgasmo?
São muitos os fatores que contribuem para essa situação. O principal é a forma que somos criadas, em que a sexualidade feminina ainda é bastante reprimida. Então, muitas mulheres não têm a oportunidade de conhecer o próprio corpo, se estimular e descobrir o que lhe dá prazer. E aí acabamos entrando nas relações com o copo do desejo meio cheio, sem saber o que pode nos fazer gozar.
“A desinformação faz com que, ainda, tenhamos uma ideia errada de como é um orgasmo. Achamos que é o que acontece nos filmes pornôs, em que as mulheres gozam em minutos. Ou que é como uma montanha-russa, que se vai à Lua. São expectativas irreais. O orgasmo feminino pode nem mesmo ser linear. Há intensidades diferentes, formas diferentes”, pontua a especialista.
Como resolver a ansiedade do orgasmo?
O bom é que esse não é um problema sem solução. E, caso perceba que possa ter esse tipo de ansiedade, há exercícios que você pode fazer em casa para lidar com a condição. A primeira parte é se masturbar – comprar um vibrador é ótimo para descobrir o que te excita. Isso ajuda a gerar autoconfiança e também dá uma engatilhada no tesão. Depois, exercite a conversa com a sua parceria durante o sexo. Mostre onde é mais sensível, como gosta de ser estimulada e por aí vai. Autoconhecimento e comunicação são muito importantes.
“Não precisamos chegar no orgamos sempre”
“Também é importante tirar a pressão: entender que não precisamos chegar ao orgasmo sempre. Não é a meta da relação”, afirma Paula. “Se ficamos fixas nesse objetivo, esquecemos de aproveitar o processo, o prazer. Quando estivermos focadas nas nossas sensações, na conexão com a parceria, o orgasmo é um resultado.”
Aqui entra uma estratégia interessante: o de narrar mentalmente o que você está vivendo naquele momento. Como em uma meditação mindfulness focada nas sensações eróticas. “Tenta prestar atenção e repita na sua cabeça o que achou daquele beijo no seio, daquele oral que você recebeu”, diz a terapeuta sexual. É uma maneira de afugentar os pensamentos intrusivos e focar nas sensações, fazendo com que você esteja 100% presente durante o sexo.
E se esses exercícios não derem certo? Aí talvez seja a hora de procurar ajuda: seja de um psicoterapeuta, de psiquiatra ou de um terapeuta sexual. Thais, por exemplo, sempre ouviu que antiosilíticos tiravam a libido. Mas, desde que começou a tratar a ansiedade, viu a sua vontade de transar aumentar. “Como parei de pensar demais durante o sexo, ficou tudo muito mais gostoso, foi como um afrodisíaco”, comenta a vendedora.
*O nome foi trocado a pedido da entrevistada.