Viih Tube fala sobre maternidade, sexo no puerpério e aceitação do novo corpo - Mina
 
Suas Emoções / Entrevista

Viih Tube: “A minha gravidez foi a minha libertação”

Muitas vezes polêmica, outras vezes incompreendida, Viih Tube virou referência da maternidade real, mostrando os perrengues que vive uma mulher no puerpério. Surpreendeu seu público e a si mesma, sem medo de ser cancelada.

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Viih Tube já deu muito o que falar. Surgiu novinha na internet, dez anos atrás, com seus vídeos sobre gostos adolescentes no YouTube, teve foto íntima vazada, foi agredida na rua, cancelada meia dúzia de vezes – por exemplo, ao apontar uma arte de Romero Britto como se fosse um Picasso na capa de um caderno –, passou por linchamento virtual, foi criticada no BBB 21, programa do qual saiu com 96% de taxa de rejeição.

Corta para 2023.

Grávida de sua primeira filha, Lua, do relacionamento com o também ex-BBB Eliezer, a youtuber surpreendeu seu público nas redes sociais ao mostrar as transformações de seu corpo: a barriga ganhando estrias, as manchas na pele, os 20 quilos a mais, as olheiras dando as caras, as dores nas costas. E não só. A instabilidade emocional, os medos e as inseguranças também.


Aos 22 anos, Vitória Felício Moraes, natural de Sorocaba, interior paulista, vem ressignificando o termo “influenciar”. Tampouco pariu sua filha, no último Domingo de Páscoa, e começou a publicar um diário do corpo no pós-parto, escancarando a maternidade real de um jeito que nenhuma influenciadora faz. Viih Tube mostra as dores – e também as delícias – do puerpério. Privação de sono, dor para amamentar, falta de libido, de sexo, confusão mental, um corpo no qual não se reconhece.

“Se eu puder dar um conselho para as grávidas, é: ‘liguem o f*da-se’”

O resultado a gente vê nos comentários: um público engajado e interessado na maternidade sem filtros – até quem não tem filhos –, postura tão necessária para tirar esse papel da mulher do pedestal. Ainda mais quando se tem 55 milhões de seguidores: quase 30 milhões no Instagram, 11M no You Tube e 14M no TikTok. “Minha função é influenciar para o bem”, declara na conversa a seguir. 

Desde que seu corpo começou a mudar com a gestação, você passou a exibir as marcas, manchas, estrias, ou seja, um corpo real, que a maioria das influenciadoras não mostram. Em que momento decidiu se expor sem filtros?
Quando estava grávida, liguei o botão do “foda-se”. Usava essa frase para tudo. Se alguém falava alguma coisa, eu dizia “estou grávida, foda-se”. E acabei levando isso para a vida. Comecei a querer fazer o que tinha vontade e não esconder quem eu realmente sou e o que estava vivendo. Talvez os hormônios da gravidez tenham me causado essa sensação. 

Um dia, me olhando no espelho, vi que meu peito tinha escurecido, estava com manchas no umbigo, com mais estrias. Pensei “será que toda mãe passa por isso?” E o Eli [Eliezer, marido e pai de sua filha] falou: “Pergunta nos Stories para ver se é normal”. Foi quando surgiu o assunto. E eu estava bem com meu corpo. Consegui entender que ele tinha virado o ninho de um bebê, não tinha como me cobrar o corpo de antes. E ter um parceiro que me respeita, que me elogia, ajudou muito. Faz muita diferença ter alguém te apoiando, você começa a se olhar de um outro jeito.

Ouvir você dizer “estou grávida, foda-se”, me soou quase como uma libertação. A gravidez te trouxe essa sensação?
Sim. Desde os meus 12, 13 anos tenho obrigações de trabalho. Nunca tive férias, porque nas minhas férias eu gravava, produzia conteúdo. Quando engravidei, quis ir no meu tempo. Se eu não conseguir fazer, não fazia; se achava que tinha que negar um trabalho, negava. Porque eu quis curtir a minha gestação, pus na cabeça que era o meu momento. Então, a minha gravidez foi a minha libertação. Cuidei da minha saúde física e mental, me alimentei bem por causa da anemia, viajei muito, li muito, tive tempo para descansar. Se eu puder dar um conselho para uma grávida, é “liga o foda-se”. 

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Mas teve algum momento em que você se olhou no espelho e não se reconheceu?
Teve. Até hoje tem momentos em que tenho dificuldade de me reconhecer no espelho. Na gestação não tive tanto, mas depois, sim. Ainda me assusto. Estou com 20 quilos a mais do que estava acostumada a ter. Não consigo me achar nas mesmas roupas, não consigo me achar bonita com o mesmo estilo. Tudo mudou muito, é uma nova fase. Tem vezes que me olho e fico com vergonha. Preciso de um chá de autoestima, preciso parar, me arrumar, alinhar meus pensamentos para ficar bem. 

Você vestia manequim PP e foi para o GG. Essa mudança mexeu com você?
Me assustou muito, fiquei triste até. Vou falar a verdade. Tem mulheres que se sentem bem quando engordam, que não ligam. De qualquer formato que seu corpo seja, a pessoa tem que se sentir bem, seja magra, seja gorda. Mas, no meu caso, não estou me sentindo bem. Quero, pelo menos, voltar um pouco o meu peso, porque vou me sentir melhor. 

Você fez uma lipoaspiração na barriga antes de entrar no BBB 21. Por que tomou essa decisão e como enxerga hoje essa cirurgia?
Na época, eu tinha engordado muito na pandemia, no finalzinho de 2020, e não estava me reconhecendo. Comecei a treinar, a fazer dieta. Mesmo assim me cobrava demais, e isso me causava muita ansiedade. Me fazia mal, me prejudicava no trabalho. Não que plástica seja a solução, mas falei com os meus pais, com as pessoas mais próximas e todos me apoiaram. Acabei fazendo mais pela minha cobrança mental. Hoje, vejo que era muito nova para fazer uma lipo, eu tinha 20 anos. 

Trabalhar com a imagem faz você ter uma maior autocobrança?
Sim. Não que eu tenha que ser magra para isso, mas faz com que você se cobre mais porque está exposta, dá liberdade para todo mundo comentar “nossa, como você engordou”, “nossa, como seu corpo está feio”, “nossa, como seu peito caiu”… São muitos “nossa” que você ouve. Aí, se você faz a lipo, falam “nossa, mas fez lipo?”. Se fizer, você tá errada, se não fizer, vão te xingar porque você está feia. Hoje, vejo com muita tristeza ter feito, porque acredito que a maior cobrança veio dos outros. Ao mesmo tempo, fiquei feliz com o resultado.

Você também colocou silicone nos seios ainda jovem. Fazer uma cirurgia plástica passa pela sua cabeça no momento?
Não consigo me imaginar fazendo uma plástica agora. Não é a minha prioridade. Minha prioridade é amamentar minha filha. Quero conseguir amamentá-la da melhor forma possível. Ouvi muito as pessoas me dizerem “ah, mas você tem dinheiro, pode fazer uma plástica depois”. E se eu quiser resolver treinando? Por que não posso tentar? As pessoas pré julgam demais. Com certeza, quero voltar a ter o corpo que tinha, porque me sentia mais bonita, mas estou respeitando as fases do que estou vivendo com a minha filha.


“Me orgulho de não ter medo de mostrar meu corpo, minhas fraquezas e  vulnerabilidades”


Tem um ditado que diz que quando nasce uma mãe, nasce a culpa. Isso aconteceu com você?
Sempre tive o sonho de ser mãe porque queria viver o que vivo com a minha. Somos carne e unha. Mas ouvi que, na maternidade, ia ser tudo maravilhoso e, no início, foi um caos. Temos que ser muito fortes, porque tem momentos que você pode estar esbanjando amor, mas vai estar exausta, emocionalmente abalada, precisando de ajuda e pode estar triste sem entender o porquê. Na minha realidade, foi bem difícil. Fiquei confusa, me culpei demais, me cobrei muito, me sentia mal porque estava cansada. Ela chorava querendo mamar, eu chorava junto porque estava morrendo de dor. Falava “meu Deus do céu, vou ter que dar de mamar”. Às vezes, me sentia culpada até por não conseguir dar atenção para os meus cachorros. Coisas que são pequenas, mas que na cabeça de uma puérpera faz todo sentido. 

O que mais te assustou no pós-parto?
A privação do sono. É muito cansaço, é muito sono para um corpo que está voltando para o lugar, com uma bebê que acorda de duas em duas horas. Para a amamentação, já tinha preparado meu psicológico, porque já tinha feito duas cirurgias muito invasivas. Já imaginava que seria difícil e foi. Hoje, aceitei que a amamentação vai ser com complemento, não consigo fazer o aleitamento exclusivo. E está tudo bem. 


As cirurgias invasivas aconteceram em decorrência das próteses de silicone que você colocou ainda jovem?
Meu peito caiu quando eu tinha 17 anos e minhas auréolas eram muito grandes, tudo me incomodava muito. Coloquei as próteses de silicone, reduzi a auréola e fiz uma mastopexia para tirar a pele caída. Ou seja, mexi no peito inteiro. Naquela época, já sabia que queria ser mãe, mas todo mundo dizia “silicone não prejudica a amamentação”. No meu caso, não foi só o silicone, foi uma invasão e o meu pós-operatório foi traumático. 

Com dez dias de cirurgia, mesmo usando sutiã cirúrgico, estava no shopping quando uma fã eufórica me viu de costas e puxou meu braço com tudo. Na hora, escutei um “creck” e senti uma dor absurda. Os pontos abriram e começou a sair muito líquido debaixo do peito. Fiquei nove meses com os pontos abertos, uma placa de titânio tentando fechar e sugar todo o resíduo. No fim, o peito que passou por isso produz muito menos leite e a minha cirurgia é a causa disso.


A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa comentou em um de seus posts no Instagram: “Você está revolucionando, transformando a maneira de ser influenciadora”. Você concorda com essa frase?
Fico muito feliz quando as pessoas elogiam a forma com que estou influenciando as outras. Não foi algo pensado, foi o momento que comecei a levar a minha vida mais leve. Parei de me cobrar tanto, deixei as coisas fluírem. Acho que a palavra influenciar, por muito tempo, foi deixada de lado. As pessoas não param para pensar o que é ser influencer ou o que é influenciar alguém. Muitas vezes, a gente não pensa que o que fazemos outras pessoas vão querer fazer. Muitas vezes, elas não têm condição, não tem estabilidade financeira ou emocional. 

A minha realidade financeira não é a mesma da maioria das mulheres brasileiras. Então, não vou mostrar coisas que sei que podem chateá-las, porque vou causar uma ansiedade que eu mesma sinto quando vejo influenciadoras que vivendo o puerpério e estão “perfeitas”. Sei como é sentir isso porque já senti. A minha função é influenciar para o bem. Depois que comecei a levar as coisas mais leves senti que fiz o meu próprio trabalho com muito mais amor.

Você se surpreendeu consigo mesma em relação a isso?
Sim. Me sinto orgulhosa por conseguir sair da caixinha, por não ter medo de mostrar meu corpo, as minhas fraquezas, vulnerabilidades. Ninguém gosta de se mostrar vulnerável. Todo mundo na internet quer se mostrar forte, incrível, bonitona. Ninguém quer mostrar o lado difícil, o chato de viver. Fico feliz de receber um bom retorno das pessoas. Porque eu não tenho nada de diferente para mostrar a não ser a minha maternidade. Não consigo fingir outra que não a que estou vivendo.

Ao mesmo tempo que muita gente vem elogiando sua postura, tem os haters querendo se meter na sua maternidade. Você cresceu lidando com as críticas na internet. Mas, agora sendo mãe, sente que as críticas batem com mais intensidade?
Acho que entrei numa fase de meio termo. Teve um momento da minha vida que já tinha passado por tanta crítica pós BBB, antes do programa já tinha vivido muitos cancelamentos. Então, mais uma vez, acionei uma chavinha no meu cérebro de não ligar pra nada. Entrava por um ouvido e saía pelo outro. Realmente não ligava mais para cancelamento, hater, porque já tinha ficado calejada.

De uns tempos pra cá, com meus hormônios mais instáveis, algumas críticas que ouvi na gravidez, sobre a forma como o Eli estava conduzindo nossa família, por eu viajar na classe executiva e ele ir na econômica, porque o nosso dinheiro a gente queria gastar assim, por eu colocar o meu sobrenome na Lua e não colocar o do Eli [para evitar que a filha sofra bullying futuramente com o nome Pinto]. Foram diversas coisas que parecem pequenas, mas mexeram comigo. Hoje, dependendo do que falam, me pega, sim, não vou dizer que não porque se eu estou tentando pregar a realidade, não posso mentir.

“Meus momentos de dor foram os momentos que mais me ensinaram”

Você disse que muita gente criticou a forma como vocês estão formando a família. Em menos de um mês de namoro com o Eli, você engravidou. Como foi esse momento?
A gente estava namorando fazia uns 20 dias quando descobrimos a gravidez. E existe uma coisa muito padronizada, principalmente no Brasil, que é: namora, casa, mora junto, tem filho. Para as pessoas, só é família quem segue esse perfil, mas na verdade, família é amor, sentimento, parceria, entrega. Família é você que escolhe a sua. Acredito em Deus e acho que quem programou foi Ele, da forma que tinha que ser. Tudo na minha vida e na do Eli parece um filme, acontece do nada, então tudo aconteceu do nosso jeitinho. E isso aproximou a gente. É muito gostosa a relação que temos e, quando falo que as pessoas não nos respeitavam como família, é exatamente por isso. Hoje somos casados, mas por escolha, não porque a gente precisava casar por causa da grávidez. Essa foi a nossa forma de viver a nossa vida.

Muitas mulheres levam um tempo para voltar a ter libido no puerpério. Como está esse momento para você, já teve vontade de ter relações sexuais?
No início, eu não tive libido, não conseguia nem pensar nisso. A libido apareceu de uma vez, explodiu. Do nada, lembrei o que era sexo “meu Deus, que saudade, quero”. Demorou 60 dias. Assim que lembrei, o Eli estava ali, pronto, esperando eu dar o sinal. E ele super me respeitou. Acho que existe uma porcentagem alta de mulheres que são traídas no puerpério porque os homens não as respeitam. Então, com dois meses falei, vamos lá para o rala e rola. Aí rolou. E praticamente perdi a virgindade de novo, porque doeu que só. Me falaram que poderia doer e que a região fica mais seca. Como o Eli pesquisa muitas coisas, ele já estava preparado com um lubrificante. Fluiu muito bem.

Sentiu que o tesão mudou?
Eu acho que o tesão aumentou. E os momentos em que consigo ter uma relação sexual são diferentes agora. Como a Lua dorme no nosso quarto, temos que estar fora ou fazer quando ela está no quartinho dela. Então, tudo que é proibido, acaba sendo mais gostoso. Tem horas que realmente não dá, então, sinto que aumentou até a vontade porque tem que ser em momentos-chaves e isso faz com que não vire algo rotineiro.

Você faz terapia?
Comecei a fazer terapia com 11 anos porque fui diagnosticada com síndrome do pânico. Foi na época da separação dos meus pais, que foi muito conturbada, eles brigavam demais. Minha vida virou de cabeça para baixo. Passei a tomar remédio porque eu tinha muitos surtos, eram horrorosos. Aos 13, os surtos pararam e parei a terapia também. Voltei aos 17 e faço até hoje. Toda terça-feira, tenho esse meu momento de paz. Acho que todo que tem a oportunidade deveria fazer terapia. Você zera as suas energias, tira o que precisa tirar para recomeçar os seus pensamentos, as suas vontades, em qualquer etapa da vida. É muito importante para o autoconhecimento.


Qual é o assunto mais recorrente na terapia?
A cobrança da maternidade. Eu ainda me cobro muito com a amamentação, principalmente em aceitar que a produção de leite é baixa. A minha terapeuta fala “Olha, você está amamentando, não veja como se não estivesse. O leite não é suficiente, está complementando, mas faz parte, é o que você pode fazer”. Eu usei remédio, vitamina, líquidos, água, chá, comida. Fiz tudo, massagem, drenagem, me consultei com vários profissionais. E o que tenho para produzir é o que meu peito consegue por causa da intercorrência da cirurgia. Então, as maiores queixas na terapia são as minhas cobranças físicas, estéticas.

Hoje, as suas crises de pânico ainda aparecem?
A última crise que tive foi com 19 anos. Ela aparece, mas é raro. Quando começo a me sentir muito ansiosa e sinto que pode desencadear uma crise de pânico, mentalizo as coisas que sei que funcionam comigo, sento no banho, deixo a água quente bater nas costas, me olho no espelho, o que melhora minha concentração.

Você passou por alguns episódios de cancelamento nesses dez anos. Olhando para trás, como enxerga essas situações?
Por muito tempo, quando eu falava dos episódios de cancelamento, como o do Picasso [Viih Tube mostrou a capa de um caderno que levava uma arte de Romero Britto dizendo que era uma obra do Picasso], eu sofria, chorava, ficava mal. Hoje, já não me martirizo tanto porque trabalhei isso na terapia. Consegui entender que errei, passou e que preciso superar as coisas da melhor forma possível. Os cancelamentos hoje batem como um passado que me fortaleceu muito. Vejo as situações e penso “caramba, aqui eu vacilei, mas também fui forte, soube sair, me reerguer, me ensinou muita coisa”. Digo que os meus momentos de dor foram os que mais me ensinaram. A minha primeira websérie foi depois do cancelamento; meu primeiro livro também. Então, me ensinaram a me respeitar mais, a respeitar mais o meu público, o meu conteúdo. Acho que tudo vem com um propósito.

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