Sutileza: o segredo para o bem-estar emocional - Mina
 
Suas Emoções / Reportagem

A potência da sutileza

No mundo da intensidade, da produtividade e das emoções afloradas, ser sutil é uma arte e pode ser maravilhoso!

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Já reparou que estamos o tempo inteiro em estado de alerta? E não só quem mora nas grandes cidades, onde os estímulos visuais e sonoros são excessivos, mas qualquer um hoje está sempre atento, esperando chegar uma mensagem no celular, um push das redes sociais e de olho para não perder um acontecimento. Com tantas demandas externas, estamos nos esquecendo das sutilezas da vida. E elas são tão importantes para o bem-estar emocional e físico quanto uma boa noite de sono. As sutilezas podem morar em muitos lugares, mesmo que imperceptíveis: num olhar, num gesto, numa palavra, num toque. Assim como também no jeito de ver a vida, na maneira de nos relacionarmos e na forma como damos e recebemos amor.

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Acima de tudo, a sutileza está onde não há pressa. “A sutileza vai no contrafluxo do ritmo da sociedade em que a gente vive, que leva você o tempo todo para o denso. Ela te desarma. Um olhar é uma grande sutileza. Você precisa estar sutil para ser tocada por um olhar. Para sentir um toque que é suave, não é denso”, diz Carol Teixeira, filósofa, sacerdotisa tântrica e escritora. Para ela, a sutileza é sinônimo de potência. 

A sutileza anda de mãos dadas com o respeito, o cuidado, a atenção e o acolhimento e está na base das vivências, dos cursos e retiros de Carol. Suas práticas levam as pessoas para o estado oposto da pressa e da ansiedade. “A sutileza tem a ver com essa retomada do tempo, da escuta. Da escuta das nossas emoções e das emoções do outro. E tudo isso sem necessariamente precisar passar pelo verbal. Tem mais a ver com sentir. Eu acho que sentir, hoje em dia, é um super poder que pouca gente se permite ter.”

Para ter sutileza é preciso praticá-la

Com um público majoritariamente feminino, a sacerdotisa tântrica chega a reunir centenas de mulheres no “I Love My Pussy”, um ritual de cura coletiva que trabalha o empoderamento feminino através do orgasmo como reza, do fortalecimento do poder pessoal e da ressignificação da relação da mulher com o seu corpo. Uma vivência catártica. Foi nesse mesmo ritual, antes da pandemia, que pude sentir o poder da sutileza. Após a prática de meditações, visualizações e toque suave, lembro de pensar que nunca a palavra empoderamento tinha feito tanto sentido para mim.  

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Em 2021, Andrea Borges participou pela primeira vez de um retiro de um desses retiros de tantra em Alto Paraíso (GO). “Foi muito potente! Lá, deixei as couraças, removi tabus e aprendi demais sobre a sutileza”, conta a executiva de parcerias estratégicas. “Sou uma mulher de 48 anos, na menopausa. E foi com a ajuda da sutileza que aceitei meu próprio ritmo, que não é o tempo do mundo. Eu não deixo mais ninguém me apressar, seja no trabalho, na vida pessoal ou na intimidade.”

A partir dessa vivência, Andrea começou a falar nas redes sociais sobre a sutileza e os tabus da menopausa. “Acho que nós, mulheres, especialmente as 45+, devemos consumir experiências e conteúdos que incentivem o nosso ritmo natural, que ele seja respeitado. É o que a sutileza propõe, e é o que eu tenho buscado viver e compartilhar também.”

Selvageria da verdade

Para muita gente que cresceu achando que sexo bom é o performático, como ensinam os filmes pornô, sexo e sutileza não soam compatíveis. “Quando a pessoa é tocada com sutileza, ela descobre uma nova sexualidade, porque desarma essa ideia de que o sexo bom é aquele que é denso, selvagem. Ela descobre uma outra selvageria, que é a da verdade, da vulnerabilidade”, acredita a filósofa.

A ciência atesta os benefícios de ser tocado com delicadeza. Dados do Instituto de Pesquisas do Toque, da Universidade de Miami, mostram que o contato suave ativa a liberação da oxitocina, o “hormônio do amor”, proporcionando prazer, bem-estar e empatia. Além disso, algumas sessões de massagem podem reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, em até 30%. E tem mais. Quando feita pela pessoa amada, ela ajuda a amenizar a dor e aliviar a depressão, além de fortalecer o relacionamento. Só benefícios!

A microfisioterapia também aposta na sutileza. A técnica, que parte da premissa de que as experiências negativas ficam guardadas no corpo e geram doenças, trabalha com toques muito suaves, quase imperceptíveis, para eliminar essas “cicatrizes” e restabelecer o bem-estar físico e emocional. Depois de trabalhar com diversas terapias com uma pegada mais forte, o microfisioterapeuta Fernando Guardado Gonçalves foi migrando o seu trabalho para o suave. “O que eu percebo, na prática, é que quanto mais suave, mais profundo. Acho que a sutileza traz muitas percepções, traz mais conexões. A gente fica mais presente também. E isso é bom”, acredita Fernando.

Na psicanálise, a abordagem sutil do terapeuta ajuda a criar um espaço seguro, no qual o paciente se sente à vontade para falar sobre seus sentimentos e emoções, expondo suas vulnerabilidades, explica a psicanalista Cristina Franch. “O processo terapêutico se estabelece para além das palavras, no campo sensível. As sutilezas que se passam entre o analista e o paciente servem de bússola para a condução das transformações”.

Permita-se

E o poder da sutileza requer, sim, prática. Carol dá uma dica de uma prática simples para você começar a perceber o que muda através desse toque sutil: “Experimente colocar a mão em concha, com os dedos levemente dobrados. E depois passe só as pontinhas dos dedos, fazendo um toque sutil em você – pode ser no rosto. E vai passando bem lentamente, de um jeito que o seu corpo até estranhe, achando que está lento demais. E você vai perceber que fazer esse toque lento vai acalmar a sua ansiedade. Receber esse toque é um carinho, é um gesto de muito afeto com você, que com certeza vai te levar para um lugar de sutileza.”

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