Confesso que admiro, com certa inveja, quem leva a vida segundo a filosofia “deixa a vida me levar”, mas nunca fui Zeca Pagodinho. Cresci com minha mãe dizendo que eu não herdaria um real, mas que, a herança que me caberia, eu nunca perderia e nunca seria tomada de mim: cultura e conhecimento.
Hoje em dia, posso dizer, sem medo de errar, que sobrevivi e sobrevivo de cultura, conhecimento… e planos. Não só adoro fazê-los, como sou a favor e recomendo!
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Sempre haverá alguém para dizer que prefere viver sem expectativas. Não quero dar uma má notícia, mas ter a expectativa de viver sem expectativas, já é uma expectativa. Então, o jeito é aprender a lidar com elas mesmo. E a única forma de fazer isso é aprender a se frustrar. Aliás, conviver de forma resiliente com frustração é a receita para qualquer sucesso.
Sonho é uma vontade forte. Já um plano é um sonho com cronograma, orçamento e projeto de execução
Arriscaria dizer que seu poder de realização será diretamente proporcional à sua capacidade de processar frustrações. Porque serão muitos, muitos, mas muitos “nãos” para cada “sim”. E tudo bem! Quem disse que a felicidade é um estado monótono de satisfação? Não. A felicidade tem o desequilíbrio de uma rede que balança. Seguir preso à parede é o máximo de segurança que se pode almejar.
Mas, vamos voltar aos planos, já que a minha pretensão aqui é que você os faça! Para começar, é importante definir a diferença entre “plano” e “sonho”. Sonho é um desejo, uma vontade forte. Já um plano é um sonho que tem cronograma, orçamento e projeto de execução.
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Para começar vamos dividir nossos planos em três prazos. Planos para curto, médio e longo prazo. Sendo curto prazo um ano, médio prazo três anos, e longo prazo cinco anos. A ideia é fechar os olhos e pensar em como você quer estar daqui a um ano, daqui a três anos e daqui a cinco anos e anotar em três listas esses desejos.
Depois vem a melhor parte, que é transformar os desejos em plano! Atenção: é fundamental anotar, senão não funciona. Também é importante que eles sejam exequíveis, ou seja, possíveis de serem realizados. E eu espero que nem todos os seus itens sejam bens de consumo, afinal, nem tudo o que importa nessa vida está à venda. Aqui alguns exemplos: fazer um esporte, autoconhecimento, planejar uma viagem, se alimentar melhor ou se engajar em algum projeto social.
Hora de apelar para um exemplo e seu poder clareador! Como transformar um sonho em plano? Vamos lá. Digamos que seu desejo a curto prazo, ou seja, para daqui a um ano, é estar fazendo exercícios de forma regular. Vamos analisar esse item!
- Qual exercício você se visualiza fazendo? Corrida, boxe, dança, academia?
- Onde você poderia fazê-lo? Quais as opções possíveis perto de onde você mora, estuda ou trabalha?
- A que horas você vai encaixar essa atividade na sua agenda? Prefere de manhã ou à noite? Quantos dias por semana? (Dica: melhor começar com um ou dois dias fixos e ter consistência do que planejar malhar todo dia e não conseguir.)
- Conhece alguém que possa te ajudar em alguma etapa desse projeto? Um amigo que seja professor de alguma atividade ou um atleta que possa te incentivar ou dar dicas?
- E, por fim, quanto isso vai te custar financeiramente? Você já tem tudo o que precisa para fazer essa atividade, tênis, sapatilha…? Se não tem, o que precisa comprar? Onde vende e quanto custa?
Depois de listar essas respostas, você terá não o sonho de fazer exercício, mas um plano, um projeto executável. Pode confiar, todos temos o poder de construir o caminho para que cada um dos nossos sonhos se tornem realidade.
Se ficar com vontade de mudar alguma coisa, mude! Ser livre é rever nossos planos.
Faço isso há mais de 20 anos… Além de ser um portal interessante de autoconhecimento, em pouco tempo essas listas (de itens concluídos, não-concluídos e abandonados) nos dão a deliciosa sensação de que esse cavalo selvagem que é a vida aceita sugestões. Com o passar do tempo, você vai olhar para elas e ver que está, sim, manejando o leme da sua vida.
O que não quer dizer controlar tudo, ok? A vida é surpreendente e inédita. É certo que o mar vai estar revolto às vezes e que as estrelas podem sumir sobre as nuvens de uma tempestade. Por isso mesmo, é importante saber onde está nosso Norte e garantir que estamos segurando o leme na direção dos nossos sonhos.
Planejar pode nos ajudar a parar de “correr atrás” e começar a correr na frente! Correr será inevitável… Mas quem não gosta desse vento batendo no rosto?
*Manuela Dias é escritora e autora da novela “Amor de Mãe” e das minisséries “Ligações Perigosas” e “Justiça” da Globo.