Filhas estão dando vibrador de presente para as mães - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

Por que algumas mulheres estão dando vibrador de presente para a mãe

O brinquedo sexual tem servido de "quebra-gelo" entre filhas adultas e suas mães para falar sobre sexualidade, um assunto tão importante para a nossa saúde

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Roupa, vela aromática, joia, perfume, arranjo de flores… Essas são algumas das escolhas clássicas e certeiras para presentear as mães. Mas, para inovar, que tal dar um vibrador? Isso mesmo que você leu. Os brinquedos eróticos estão agora estão entre as boas opções de mimos para mulheres adultas brindarem suas antigas cuidadoras. 

Patrícia*, 35 anos, e sua esposa Giovana*, 38 anos, decidiram presentear sua mãe com um bullet no ano passado. Esse modelo, pequeno, discreto e de bom custo-benefício é geralmente a porta de entrada no universo dos vibradores. Giovana  teve a ideia ao ganhar o aparelho num sorteio, conta Patrícia. “Achei inusitado, mas topei”. 

“É comprovado que a mulher que conhece seu corpo, vive melhor”

Vanessa*, 55 anos, que é pastora e conselheira de casais dentro de uma igreja evangélica, adorou. “Para não assustar, demos o presente como se fosse uma brincadeira. Rimos, contamos como se usa, dissemos que ia apimentar o casamento dela”, diz a filha.

O tabu de falar de sexo (e vibradores)

Criada em família religiosa, Patrícia não tinha o costume de falar sobre o assunto com a mãe na juventude. Cresceu pensando que sexo deveria acontecer só depois do casamento. “Eu era muito certinha, não ‘dei trabalho’ para minha mãe nesse sentido”. 

Por muito tempo, inclusive, a jornalista pensou que não gostava muito de transar. Depois entendeu que, na verdade, o problema é que ela não entendia ainda a própria sexualidade. “Tudo foi se encaixando na minha cabeça quando entendi que me atraia por meninas. No começo, foi complicado para minha mãe, mas hoje ela considera a Giovana nossa família”, conta. 

O vibrador pode ser usado como um quebra-gelo para que mães e filhas tenham as primeiras conversas sobre sexo. A sexóloga Camila Campos Gentile defende que o tema deveria ser visto como saúde e autoconhecimento – e não ser tabu. “É comprovado que a mulher que conhece seu corpo, vive melhor”.

“A maternidade deixou de ser um terreno sagrado e ‘casto’, facilitando que as trocas entre mães e filhas” 

A especialista explica que a dificuldade em tocar no assunto é cultural, já que a nudez e o prazer do homem são tratados como algo natural, enquanto as mulheres, desde novas, são reprimidas de conhecer as próprias partes íntimas. “Isso resulta em falta de educação sexual. Fico feliz quando vejo filhas e mães se presenteando com vibradores porque é uma demonstração de carinho e cuidado”, afirma Camila.

A psicóloga e terapeuta sexual Ana Canosa assina em baixo. Segundo ela, por muito tempo, a sexualidade feminina era baseada em apenas dois papéis: o do casamento e o da maternidade, revestindo a natureza feminina de ‘afeto’ e ‘cuidado’, enquanto a mulher erótica era vista como ‘perdida’ e ‘marginal’.

Então, falar abertamente sobre sexualidade não “combinava” com o papel de mãe. “Portanto, nem mães traziam o assunto de maneira aberta, nem filhos faziam esse caminho. A comunicação sobre o tema não foi treinada, por isso gera desconforto”, explica. Com a emancipação feminina e a integração do prazer sexual na identidade da mulher, essa concepção vem mudando. “A maternidade deixou de ser um terreno sagrado e ‘casto’, facilitando que as trocas entre mães e filhas incorporem também o prazer como assunto”, pontua. 

Conversando a gente se entende

Prova disso é que, em 2019, a empresária Cindy Stefanny, 26 anos, recebeu uma ligação da mãe, Vivian, 46 anos, avisando que uma encomenda havia chegado. Curiosa, Vivian havia aberto o pacote e descoberto o vibrador novo da filha. O recebido foi a brecha para que as duas compartilhassem quais modelos de sex toys gostam mais e, assim, começaram a se presentear com brinquedinhos em ocasiões especiais. 

“No começo, deu vergonha e medo. Mas depois foi se tornando tão leve ao ponto de reunir com minhas irmãs e todas as mulheres da família para dividirmos experiências de forma divertida. Somos muito amigas, hoje me sinto à vontade para falar abertamente com elas sobre isso”, conta Cindy. 

O papo rendeu tanto que, no mesmo ano, mãe e filha abriram um sex shop online. “Ela já empreendia em um food truck e atendia mulheres que desabafavam sobre suas vidas sexuais. Então, além do e-commerce, começou a vender os produtos por lá também”, acrescenta. 

Saúde em primeiro lugar

Outro equívoco que rodeia os vibradores é a ideia de que eles são “coisa de mulher jovem e solteira”. Esses brinquedinhos trazem benefícios para a saúde de mulheres de todas as idades, independentemente de ter parceiro sexual ou não. “No puerpério, por exemplo, as mães podem ser acometidas por falta de libido e dores nas relações sexuais. O vibrador tem comprovação científica como aliado a diversos tratamentos para essas e outras queixas”, conta Camila.

A especialista ainda afirma que os dispositivos vibratórios são excelentes ferramentas para tratar disfunções como secura vaginal, estresse, insônia, anorgasmia (dificuldade em atingir o orgasmo), escape urinário, além de aumentar a produção de endorfina, melhorar o sistema cardiovascular e aliviar tensões musculares. Só benefícios! 

“Presenteiem suas mães com boas vibrações! Uma mamãe feliz deixa a casa toda feliz, leve, em paz”

“É preciso lembrar que nossas mães também possuem desejo”, destaca Lídia Amorim, 24 anos, que se aproximou da mãe depois que Graziela, 48 anos, encontrou um vibrador enquanto organizava o armário da filha. O acontecimento abriu a conversa entre elas e, como a mãe disse que também tinha um vibrador, Lídia decidiu surpreendê-la no Dia das Mães com uma opção diferente, e deu um sugador de clitóris. “Ela achou uma graça, agradeceu e caiu no riso. Até hoje é assunto no almoço de família”.

O sugador também será o próximo presente de Patrícia para Vanessa no segundo domingo de maio. “O mercado sempre inova! E com a chegada da idade é importante cuidar da saúde da nossa ‘amiguinha’. Meu conselho é: presenteiem suas mães com boas vibrações! Uma mãe feliz deixa a casa toda feliz, leve e em paz”, aconselha.

* Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas 

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