Mulheres 50+ e vibrador: um match perfeito - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

Mulheres 50+ e vibradores: um match perfeito

Com a luz acesa e o vibrador na cabeceira da cama, mulheres maduras quebram o tabu da masturbação depois da menopausa

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Alguns anos atrás, para encontrar um vibrador era preciso se embrenhar em uma missão secreta em lojas eróticas escondidas. Hoje, em um clique e sem sair de casa, é possível achar diversos modelos com entrega rápida e até fazer comparação de funcionalidades e valores. Esse facilitador, somado à necessidade de isolamento social na pandemia e também a uma desmistificação do envelhecimento, fez com que o brinquedinho sexual se tornasse mais popular entre gerações de mulheres com mais de 50 anos. A procura por produtos eróticos por parte dessa turma aumentou em 20%, segundo dados recentes da loja Diversão & Amor.

“A mulher com mais de 50 anos tem tanto prazer quanto uma mais jovem”

Para  a antropóloga e autora de A invenção de uma bela velhice, Mirian Goldenberg, os vibradores permitem uma descoberta do prazer para inúmeras mulheres. “Muitas delas nunca tiveram um orgasmo antes desse brinquedo sexual, só passaram a ter depois de usar”, conta. Isso porque o vibrador reduz o tempo para chegarmos ao gozo e também possibilita orgasmos múltiplos, e isso, por sua vez,  reduz o estresse e melhora a saúde sexual em geral, como aponta artigo publicado recentemente no The Journal of Urology.

“A mulher com mais de 50 anos tem tanto prazer quanto as mais jovens. Ou até mais, por não ter a preocupação com a concepção. Então a masturbação serve para ela ativar a própria sexualidade. O orgasmo também libera hormônios que acalmam e melhoram o humor e qualidade do sono”, destaca Joele Lerípio, ginecologista especializada em fisiologia do envelhecimento saudável. 

Com pacientes entre 40 e 60 anos, a médica costuma prescrever o vibrador como forma de mantê-las ativas na vida sexual depois da menopausa. “Se não continuarem essa atividade, o canal vaginal vai fechando após a última menstruação”. Além de ajudar a gozar sozinha, o vibrador entra como um ajuste de compasso entre casais heterossexuais no período não reprodutivo. “Enquanto a mulher está mais lenta para lubrificar e sua capacidade de excitação dura menos, o homem tem o tempo da relação diminuído, o que gera esse descompasso, então o vibrador pode ser muito útil para esses casais”. E aqui fica também aquele incentivo para que casais usem o vibrador juntos, além de útil, pode ser muito divertido e prazeroso. 

Descobrindo o próprio prazer

Isabel Dias, autora do livro 32: Um Homem para Cada Ano que Passei com Você, conta como foi ter seu primeiro vibrador após os 58 anos e recém-divorciada. O brinquedo chegou em suas mãos após uma amiga enfermeira enviá-lo com um bilhete que dizia: apesar do fim do casamento, sua vida não acabou. “Na época, fiquei brava, porque estava sofrendo. Aí quando me descobri com os outros homens, me lembrei do vibrador”, conta. Ao ser perguntada nos encontros sobre o que a excitava, Isabel não sabia o que responder. “Foi nesse momento, que resolvi viver o vibrador. E, com ele, descobri que nem precisava de homem para ter prazer!” 

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O conservadorismo, no entanto, é uma barreira para muitas mulheres se abrirem ao brinquedinho. “Infelizmente ainda existe um tabu, como se o prazer feminino fosse administrado pelo homem, mas estamos avançando”, comenta Mirian.  A história de Isabel também é contada no documentário Acende a Luz, onde mostra a sua redescoberta do sexo e do próprio corpo após o divórcio. “Descobri um prazer no vibrador sem culpa. Mas a questão não é só essa, é falar, porque a visão na minha geração é você usar com a luz apagada, sem ninguém saber”, diz ela, que no filme aparece usando seu vibrador – de luz acesa e na frente da câmera. 

“Somos a laranja inteira e devemos exercer a nossa sexualidade”

A boa notícia é que esse cenário está começando.  “Durante o período de isolamento social, muitas mulheres maduras, que não tinham um relacionamento, se abriram para a possibilidade do vibrador, por não estar tendo encontros casuais”, relata. Os feedbacks das pacientes são positivos, mas chegam de formas diversas. “Teve uma que falou: ‘doutora, brinquei com o meu grelinho’ e outra disse que não precisava mais de homem. Ou seja, elas percebem que possuem uma autonomia quanto à sexualidade”. 

Por fim, Isabel deixa um recado para todas as mulheres, principalmente aquelas que nos anos 1970 queimaram os sutiãs e viveram a transformação da pílula: não fiquem presas a preconceitos sociais. “Somos ensinadas a passar a vida inteira procurando a outra metade da laranja, mas digo que somos a laranja inteira e devemos exercer a nossa sexualidade”, defende.

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