Como as empresas devem lidar com a menopausa - Mina
 
Seu Trabalho / Reportagem

Como as empresas devem lidar com a menopausa

Quase metade das mulheres tem vida e carreira afetadas por sintomas relacionados ao climatério

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Para além das desigualdades de gênero que afastam as mulheres de altos cargos e salários justos, fatores como menopausa e etarismo também começam a influenciar a permanência das mulheres no mercado de trabalho formal.

Não à toa, é no ambiente de trabalho onde 66% das mulheres a partir dos 45 anos mais sentem preconceito com a idade. Segundo a Eixo Consultoria, 72,7% delas sentem que, ao envelhecer, estão perdendo o valor para a família, trabalho e sociedade em geral. E 50% das mulheres 45+ têm medo de dificuldades financeiras ao envelhecer, pois se sentem descartadas do mercado de trabalho.

Outra pesquisa, da Plenapausa, reforça o cenário quando nos mostra que 46% das mulheres na fase da menopausa –entre 45 e 55 anos– se sentem menos produtivas no trabalho, 10% reduziram o número de horas trabalhadas na semana, 2% recusaram promoções ou propostas de emprego e 3% pediram demissão.

Para não restar dúvidas do quanto os sintomas da menopausa que chegam com a idade prejudicam a carreira da mulher, pesquisa da consultoria Korn Ferry com a empresa de saúde Vira Health com mais de 8 mil  mulheres aponta que quase metade (47%) teve sintomas relacionados ao climatério que afetaram sua vida e seu desempenho profissional.

Soluções para o bem-estar das mulheres nas empresas devem ser implementadas já

Esse cenário onde mulheres com mais de 50 permanecem – e muitas fazem questão de permanecer! – no mercado de trabalho tende a não mudar:  população brasileira está envelhecendo rapidamente, com as mulheres representando a maioria (51,5%) nesta conta. Até 2050, o Brasil terá a sexta população mais velha do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Com isso, aumenta também a população em idade de trabalhar e isso, não necessariamente, é uma notícia boa, principalmente para as mulheres: de acordo com o IBGE, no segundo trimestre de 2022, a taxa de desocupadas era 54,7% maior que a dos homens.

Soluções possíveis podem reduzir danos

No entanto, existem soluções viáveis para mitigar esses desafios, e que devem ser adotadas já, uma vez que a Organização Mundial da Saúde estima que até 2030 teremos 1 bilhão de pessoas com sintomas da menopausa –no Brasil, são cerca de 18 milhões.

A ginecologista Clarice Rocha Haddad, especialista em medicina integrativa, ensina que para melhorar o desempenho da funcionária que sofre dos efeitos da menopausa é importante promover atividade laboral, dar pausas durante a jornada e permitir acesso a um lanche mais saudável. São ações, ela descreve, que amenizam a irritabilidade, a ansiedade e sintomas depressivos. 

“Na minha avaliação, esses são os principais sintomas da menopausa que podem interferir na vida laboral, devido à queda hormonal”, afirma Haddad.

A especialista acrescenta ainda que a empresa pode e deve estimular que as funcionárias façam exames periódicos, inclusive psicológico, para a reposição correta de hormônio. Em contrapartida, ela reforça, a mulher deve estar disposta a seguir todas as orientações médicas, e compartilhar o que está passando com seu gestor.

Empresas podem ser premiadas por boas práticas a favor da mulher

Mestra em Desenvolvimento e Gestão Social pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), Leana Mattei concorda e recomenda que as empresas sejam premiadas pelas boas práticas que levem ao bem-estar da mulher

“É melhor do que obrigar aquelas que não têm, porque senão você burocratiza tanto que vai vitimizar a vítima”, exemplifica ela, que é diretora da Aganju, uma consultoria especializada em ESG e Impacto Social.

Empresas têm que dar abertura para profissionais falarem sobre o que estão passando 

Ela conta que em Salvador, por exemplo, a prefeitura adotou o Selo Pacto Pela Mulher, que reconhece os esforços de instituições por equidade entre mulheres e homens no ambiente corporativo

Numa outra ponta, a Comissão para a Igualdade e os Direitos Humanos recomendou recentemente que os empregadores sejam processados ​​por discriminação e por deficiência se não fizerem “ajustes razoáveis” para as mulheres que passam pela menopausa: a organização equipara alguns sintomas com doença.

Especialista em Direito Previdenciário, a escritora Naíle Mamede acha ineficaz qualquer tipo de punição: “A empresa tem que dar abertura para que a funcionária exponha o período que está passando. Ela precisa ter à disposição psicóloga e assistente social para se sentir acolhida e não ficar com pavor de falar o que está passando”, aconselha ela, que lançou o livro “Quem Manda na Minha Vida Sou Eu”.

Equipe mais igualitária, melhores resultados

E elas estão falando mesmo, mas ainda é pouco: na pesquisa da Korn Ferry com a Vira Health, vemos que a maioria das entrevistadas (70%) conversa com colegas de trabalho sobre o tema, mas apenas 27% falam de suas experiências com a gerência sênior e cerca de 37% com o pessoal de RH.

Mesmo as boas práticas só darão melhor resultado quando as empresas igualarem suas equipes

Fundadora do Comitê de Empoderamento Feminino da AMPRO (Associação de Marketing Promocional), Silvana Torres conclui que todas essas boas práticas darão melhor resultado quando as empresas igualarem sua equipe: “Temos diversas pessoas acima de 50 anos no time, e noto que há muito respeito e admiração, tanto dos mais jovens quanto dos mais velhos. Há um ambiente de acolhimento”, diz ela, que também é integrante do programa EY Winning Women Brazil, apoiador das empreendedoras do país.

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