Sintomas menopausa cannabis - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

Existe tratamento novo para a menopausa e ele se chama Cannabis

Pacientes confirmam o potencial terapêutico do CBD que os estudos começam a indicar; substância também pode ser usada para outras moléstias ginecológicas.

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Vira de um lado, vira do outro, levanta para beber água, e meia hora depois, para ir ao banheiro, volta a se revirar na cama e nisso, lá se foi metade de uma noite de sono. Cansada de compartilhar a cama com a insônia há vários meses, Patricia Lattaro, de 51 anos, se rendeu a um remédio controlado na esperança de voltar a dormir 8 horas seguidas.

Alguns meses depois, começou a sentir dores intensas nas articulações, principalmente das pernas, e quando foi ao médico, descobriu que assim como a insônia, este era mais um sintoma associado à menopausa. Foi então que ela encontrou na cannabis uma possibilidade terapêutica que se encaixou muito bem neste momento da vida. 

“Não é logo de cara que se sente os resultados, mas eles vêm, e com isso, você substitui outros remédios para dormir, para dor, ou para repor hormônios. A cannabis é mais natural e entra no lugar dessas medicações nada saudáveis. Estou bem satisfeita também com a diminuição da ansiedade e dos picos de estresse.” Há quatro meses, Lattaro realiza o tratamento prescrito pela ginecologista Marina Ribeiro, que atua há dez anos na área e há um utiliza a cannabis como mais uma ferramenta de seu arsenal em condições ginecológicas. 

“Não é logo de cara que se sente os resultados, mas eles vêm e aí você substitui os remédios”

“Tenho várias pacientes com resultados positivos, que ao reequilibrar o sistema endocanabinóide, tem uma melhor em todos os sintomas relacionados com a redução do estrogênio”, diz Ribeiro, ressaltando que o esse tipo de tratamento ainda não é formal, mas cada vez mais utilizado para amenizar os sintomas da menopausa, praticamente sem riscos ou efeitos colaterais. “O máximo que pode acontecer é uma intolerância em relação ao sabor residual da planta que fica no óleo. Algum desconforto gástrico ou azia.”

Ainda pouco se fala

A chegada da menopausa normalmente traz consigo uma série de moléstias para a maioria das mulheres, mas ainda pouco se fala abertamente a respeito do temido climatério. E menos ainda sobre cannabis como substância potencialmente benéfica na diminuição da ansiedade, irritabilidade, insônia, compulsão alimentar, ressecamento vaginal e sintomas genitourinários que costumam começar a perturbar as mulheres entre os 45 e 55 anos de idade, podendo durar até cinco anos.

Uma pesquisa publicada em julho pela Universidade de Alberta, no Canadá, apontou que um terço das canadenses, ou 34% das 1.485 mulheres entrevistadas para o estudo, usa cannabis para lidar com os sintomas da menopausa. Aqui no Brasil, apesar de muito incipiente, o movimento vem ganhando força. Há poucos meses, a apresentadora Maria Cândida revelou fazer uso da substância para mitigar os efeitos do climatério, mas prefere não dar mais detalhes pois ainda está no início do tratamento.

Por se tratar de uma planta alvo do proibicionismo por décadas a fio, ainda se carece de estudos clínicos aprofundados que confirmem seu potencial terapêutico em grande parte das patologias para as quais a cannabis é indicada. E quando se trata de ginecologia, isso fica ainda mais evidente. 

Já tem estudo no Brasil

São inúmeros os relatos de casos que indicam o uso terapêutico da maconha para a adenomiose, a endometriose (por sua ação antiinflamatória) e para a menopausa. O estudo mais avançado que temos no Brasil, no entanto, ainda está em estágio pré-clínico (em animais).

Desenvolvido pela professora Nadja Schröder, na Universidade do Rio Grande do Sul, a pesquisa observou os efeitos do canabidiol (CBD) em ratas que tiveram seus ovários removidos – a chamada menopausa cirúrgica –, constatando que a substância protegeu os animais contra o dano cognitivo causado pela menopausa. 

“Estamos super entusiasmados com os resultados e em um futuro próximo queremos estender a pesquisa para seres humanos”, confirma a cientista que estuda o CBD há mais de 10 anos. “Já se sabe que o canabidiol é seguro, e também que precisamos de alternativas para a menopausa que não sejam dependentes de reposição hormonal, por toda a controvérsia em torno da reposição.”

“Sempre deixo claro que a medicina canabinoide é uma alternativa aos hormônios”, defende a ginecologista Mariana Prado, que tem percebido em seu consultório um aumento da demanda de mulheres em busca de subprodutos da planta para melhorar sua qualidade de vida durante a menopausa sem precisar recorrer à terapia hormonal para isso. 

“O canabidiol é seguro e uma alternativa para a menopausa além da reposição hormonal” 

Primeiro é importante toda paciente saber que pode optar por tratamentos naturais. Há ainda as que têm contraindicação formal a terapias hormonais ou as que já excederam o tempo de uso máximo de hormônios. Além disso, o CBD pode ser usado para quem ainda não tem os resultados dos exames de segurança mas sofre com muitos sintomas. 

“Estamos no caminho certo, de estimular o uso em pacientes que veem na cannabis uma alternativa enquanto evoluímos em estudos científicos”, diz a médica que recebe grande parte de suas pacientes da Cannect, marketplace que conecta médicos e pacientes.


Sem preconceitos

Aos 53 anos, Márcia Regina Kulaif se viu obrigada a se despir dos preconceitos que carregava quando optou por tratar os sintomas da menopausa de maneira natural e deu de cara com a cannabis, até então vista como droga. “A cannabis foi uma grata surpresa, me sinto mais revigorada, mais forte, a gente devia falar mais sobre isso, abrir a mente das mulheres que estão passando por isso”, afirma ela, sabendo que a planta não é, tampouco, milagrosa. “É uma soma de coisas, tenho um médico que me acompanha mensalmente, um enfermeiro que me chama a 15 dias, sou super amparada, coisa que não acontece na medicina tradicional.”

Para acessar o tratamento no Brasil, é preciso se consultar com uma ginecologista prescritora de cannabis que entenda ou, ao menos, esteja aberta a aprender sobre maconha como remédio. Em outros países do mundo, no entanto, as mulheres têm mais autonomia para cuidar da sua própria saúde, incluindo produtos à base de maconha no seu autocuidado diário.

A produtora cultural Tina Tigre tem 51 anos e há dois incluiu diversos produtos diferentes de CBD na sua rotina. Morando em Israel e viajando de tempos em tempos para países da Europa onde a oferta de subprodutos de cannabis cresce e se renova com frequência, ela testou primeiro os cigarros de CBD, para quando se sente angustiada ou sofre com calores logo pela manhã. 

“Mudou a minha relação com o sexo, eu fico mais relaxada, curto mais a transa”

Depois, passou a cozinhar dia sim dia não com óleo de cozinha feito de cânhamo e em seguida incorporou o lubrificante de cannabis, dizendo adeus ao ressecamento vaginal típico do climatério. “Mudou a minha relação com o sexo, eu fico mais relaxada, eu curto mais a transa. Já não consigo ficar sem meus produtinhos de cannabis, eles mudaram completamente a minha qualidade de vida, e faz muita diferença quando não uso.”

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