Rita Lee cantava “mulher é bicho esquisito, todo o mês sangra”. Antes fosse só o sangue que nos visitasse mensalmente. O período menstrual de cerca de 70% a 90% das pessoas que menstruam também vem acompanhado de dores – que, em alguns casos, chegam a impossibilitar que elas se levantem da cama.
Um professor de saúde reprodutiva da University College London chegou a comparar a dor da cólica menstrual à de um ataque de coração. Dói muito e dói pra valer! É sinal de que o útero está contraindo para eliminar o endométrio quando o óvulo não é fecundado.
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Apesar de ser comum antes e durante a menstruação, nem toda cólica é normal. Algumas são causadas por doenças no aparelho reprodutivo, como endometriose ou miomas. Por isso, é importante conversar com seu ginecologista se o incômodo for demais.
Mas, de uma forma geral, existem muitos caminhos para aliviar a dor no período menstrual – e nem todos são conhecidos por quem precisa. A seguir, algumas possibilidades que podem transformar a sua vida.
Corpo em movimento
Um estudo realizado com 388 trabalhadores têxteis na China comprovou a relação entre o cortisol (hormônio do estresse) e as dores menstruais. O teste mostrou que aquelas que tinham passado por situações emocionalmente desgastantes durante o último ciclo tiveram duas vezes mais chances de ter cólicas.
Então, que tal usar a yoga a seu favor contra as cólicas? É menos cortisol circulando no seu corpo! “A yoga ajuda a ensinar o corpo a pausar – o que é essencial para nós que somos cíclicas, com todo um aparato hormonal e fisiológico acontecendo que controla nossa energia, nossa criatividade, nosso humor…”, comenta a professora de yoga Bruna Bali.
A prática de atividades aeróbicas regulares ajuda a reduzir cólicas
“Além disso, durante a menstruação, a prática de yoga ajuda a fazer uma massagem na região do sistema reprodutor, reduzindo as tensões e permitindo que um fluxo mais tranquilo aconteça”, acrescenta.
Como durante este período não temos energia nem disposição para atividades intensas, o ideal é priorizar práticas restaurativas, como o yin yoga, que ajudam a ativar o sistema parassimpático (relaxamento) e reduzir o cortisol (hormônio do estresse). Bruna recomenda 5 posturas que entram nesse estilo. Para serem feitas durante cinco minutos cada, na seguinte sequência, com foco na respiração:
1- Criança
2- Bebê Feliz
3- Torção Deitada
4- Deusa Reclinada
5- Savasana com a opção de uma bolsinha quente na barriga
Outro dado importante é que a prática de atividades aeróbicas regulares ajuda a reduzir cólicas. Além de contribuir para a redução do hormônio do estresse, os exercícios físicos liberam estrogênio, neurotransmissor considerado um analgésico natural que tem se mostrado excelente na redução da prostaglandina.
Essa substância é responsável pela descamação do endométrio, mas em excesso provoca contrações uterinas que causam a diminuição do oxigênio em partes do útero e, consequentemente, dor. As atividades aeróbicas melhoram a circulação sanguínea no útero e liberam estrogênio, ajudando na oxigenação e na redução da prostaglandina.
Mas não adianta sair pedalando ou dançar na sala para sentir esse efeito imediato. Estudos mostram que é preciso colocar o corpo em movimento com regularidade para que os efeitos sejam sentidos. Então, esse é mais um motivo para você incluir atividades físicas na sua rotina. Andar de bicicleta, entrar numa aula de dança e começar a correr são boas apostas.
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Alimentos que curam
Chás também são bons aliados no combate à dismenorreia. A nutricionista Luna Azevedo receita os de camomila ou de gengibre. “O chá de camomila aumenta os níveis de níveis de glicina, um aminoácido que fornece alívio para espasmo muscular e promove o relaxamento do útero. É indicado ingerir 1 a 2 xícaras nos dias de mais dor”. E não é só receita da vovó: essa informação foi confirmada em 2019 em um estudo publicado no Journal of Pharmacopuncture.
Já o chá de gengibre possui propriedades anti-inflamatórias e analgésicas (zingerona, gingerol e chogaol, principalmente) que ajudam a diminuir a dor. “Uma colher (sobremesa) de gengibre ralado é suficiente. Ferva a água e quando levantar fervura, desligue o fogo e acrescente o gengibre. Mexa bem, coloque em uma caneca, tampe-a e deixe por 10 minutos. Coe e sirva-se”, receita Luna.
Comidas gordurosas, açúcar refinado e gordura trans aumentam as cólicas
E sabe aquela vontade louca de comer “besteira” quando bate a TPM? Melhor evitar se as cólicas te perseguem. Pesquisas indicam que a alimentação à base de comidas gordurosas, açúcar refinado e gordura trans aumentam a intensidade das dismenorréia. Carnes processadas e vermelhas, álcool, laticínios e grãos refinados também entram no pacote.
Evidências sugerem que alimentos ricos em ácidos graxos ômega 6 (comuns em alimentos processados) influenciam na inflamação do corpo, aumentando a produção de prostaglandina e, consequentemente, as cólicas. Em compensação, alimentos ricos em ácidos graxos ômega 3 parecem reduzir as dores. Por isso, a dica é aumentar o consumo de peixes oleosos, sementes, nozes, frutas e vegetais frescos.
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Vovó já dizia
Sabe as dicas que aprendemos com nossas avós? Pano quente, sopinha durante a menstruação, pé bem agasalhado, etc… A ginecologista natural Débora Rosa também costuma indicar este tipo de comportamento para as pacientes. “É quase como um tratamento baseado na Ayurveda, medicina ancestral alternativa de origem indiana: o corpo da mulher tem que estar quente durante o período para lutar contra a dor. Costuma funcionar!”.
A médica reforça a importância da prática constante de exercícios físicos para aliviar a dismenorréia, mas com um porém: melhor evitar durante a menstruação. “É um período que exige muito esforço do nosso corpo, precisamos relaxar, descansar, estar quentinhas… bem coisa de vó, mesmo”, comenta.