Câncer de mama: como poluição e agrotóxicos impactam - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

Câncer de mama: é preciso botar agrotóxicos e poluição na conversa

Fazendo coro com outras iniciativas do Outubro Rosa, ouvimos especialistas para entender novos fatores que parecem influenciar no surgimento da doença e porque tratar o problema como sendo coletivo é fundamental

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Muita gente pensa que o fator genético é a única coisa que influencia no câncer de mama. Mas não é bem assim. Segundo tipo de câncer mais comum entre mulheres de todo o país – depois dos tumores de pele não melanoma – de acordo com o  Instituto Nacional do Câncer (INCA), ele é uma doença multifatorial, que tem entre seus fatores de risco a predisposição genética, mas também estilo de vida.

Tabagismo, alcoolismo, sedentarismo são outros fatores que influenciam no aparecimento da doença. Mas, diferente do que muita gente imagina, isso não é só uma questão de escolha individual. Já que viver numa cidade violenta e estressada são questões sociais que levam muitas pessoas a desenvolverem hábitos como esses.  

“Como política pública, o ideal é que todos, principalmente a população mais pobre, tenham acesso a uma vida mais saudável, para que não haja fatores estressantes que possam potencializar o risco de câncer. Precisamos melhorar o nosso índice de desenvolvimento humano”, diz o oncologista Ricardo Caponero, diretor científico da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA).  

Além disso, estudos recentes apontam que uma alimentação cheia de agrotóxicos e viver em cidades extremamente poluídas também pode estar na lista de fatores de risco para a doença. E se o câncer de mama não acontece apenas por causa de questões individuais, será que ele não deve ser encarado como um problema coletivo?

“É necessário um acúmulo de fatores que se somem para o desenvolvimento de um câncer. Nessa salada de fatores, é difícil dizer quem é o responsável, porque não há  uma relação exata e direta”, afirma Ricardo. A ginecologista Halana Faria,  mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo, completa:  “A gente fala em associação, porque é difícil estabelecer uma relação de causalidade para doenças que são complexas, mas o que sabemos é que os agrotóxicos têm o potencial de promover o crescimento de tumores e alteração de DNA”.

49% dos agrotóxicos comercializados no Brasil são de perigo extremo para a saúde 

No Brasil, o consumo de agrotóxicos cresceu muito, o que pode ser um agravante para o aparecimento de novas doenças. O Atlas dos Agrotóxicos, publicado este ano pela Fundação alemã Heinrich Böll, mostra que 49% dos agrotóxicos comercializados no Brasil são de perigo extremo para a saúde humana, animal e dos ecossistemas. Para o oncologista, cidades poluídas e modernas favorecem que mais pessoas fiquem doentes.

E o que pode ser feito? 

O Brasil vem sendo o país com maior consumo de agrotóxicos desde 2008, informa o INCA, e 17% dos casos da doença podem ser evitados por meio de escolhas alimentares. Para Halana, um dos fatores primários de prevenção do câncer é o controle desses produtos. “Uma maior regulação da produção e do uso dos agrotóxicos seria uma medida por serem considerados disruptores endócrinos, com uma ampla gama de substâncias que podem se ligar a receptores hormonais e facilitar o desenvolvimento de doenças como o câncer de mama”, diz.

Entre as formas de prevenir a doença, estão ter qualidade de vida, incluindo a prática de atividades físicas, controle do estresse, fácil acesso a uma alimentação saudável e ao lazer. E isso não depende só da vontade das pessoas.

Quanto à prevenção secundária ou rastreamento do câncer, é necessário facilitar o acesso ao exame de mamografia e informar da importância do autoexame. “O câncer de mama é uma doença que também fala sobre desigualdades. Lugares onde há acesso à saúde, à educação, aos exames como mamografia, há maior chance de sobrevida, mas mulheres que não têm acesso ao exame de rastreio tendem a ter o diagnósticos em um estágio mais avançado”, diz Halana. 

Qual idade para fazer a mamografia? 

Segundo o Ministério da Saúde, para quem não tem histórico familiar, realizar o rastreio deve ocorrer a partir dos 50 anos, com alternância dos anos, sendo um ano sim e outro não. Para quem tem suspeita ou histórico, pode ser feita antes dos 40 anos, caso o médico avalie essa necessidade. 

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