Nenhum outro país sofre mais de ansiedade do que o Brasil. Segundo mapeamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), 18,6 milhões de pessoas foram diagnosticadas com o transtorno – o que equivale a cerca de 9,3% da população. E, quando falamos em transtorno de ansiedade patológica, os sintomas podem ser muitos: excesso de preocupação, medo constante, falta de ar, dificuldade para dormir, irritabilidade, coração acelerado, tremor nas mãos, tensão muscular, entre outros. Muitas vezes, realizar as tarefas mais corriqueiras vira um desafio.
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Aliada no combate à ansiedade, a aromaterapia vem ganhando adeptos e pode atenuar muitos desses sintomas. Fazendo uso dos óleos essenciais vegetais, que têm propriedades terapêuticas, a técnica ajuda a restaurar o equilíbrio mental e psicológico. “A aromaterapia combate o estresse, provoca o relaxamento, melhora a qualidade do sono, aumenta autoestima e a sensação de bem-estar. Ela é uma terapia complementar, então, sempre estará aliada a outras terapias”, explica o aromaterapeuta Paulo Tonhasolo. “Além disso, melhora o estado de presença e do sistema imunológico como um todo, e também auxilia no tratamento da depressão”, complementa.
“A aromaterapia melhora o estado do sistema imunológico como um todo”
Como agem os óleos?
Produzidos a partir da destilação a vapor de plantas, os óleos essenciais podem ser utilizados com difusores, que emanam a substância no ambiente, ou também em difusores individuais, como colares. Outra forma é o contato direto com a pele. Ao inalar os óleos, nosso cérebro recebe uma mensagem pelo sistema límbico (área onde as memórias ficam armazenadas, responsável pelas emoções), a fim de aliviar sentimentos indesejados e aumentar a disposição.
A terapeuta e naturóloga Bianca Morais, porém, faz uma observação. “Quanto maior o contato com a nossa pele, maiores são as chances de contraindicação”, diz. É o caso dos óleos cítricos, como de bergamota, limão e grapefruit, que são fotossensíveis e, por isso, podem causar irritabilidade na pele. Uma dica é diluir o óleo na água antes de sua utilização.
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Eficácia comprovada
No Brasil, o interesse pela aromaterapia vem aumentando. Há cerca de quatro anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a oferecer o tratamento com os óleos essenciais. Essa, inclusive, é uma terapia reconhecida pela OMS como uma das Práticas Integrativas e Complementares (PICS).
Durante a pandemia de covid-19, especialistas realizaram alguns estudos sobre o uso de óleos essenciais para atenuar a ansiedade, a exemplo desse artigo publicado na Revista Fitos, ligada à Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). Concluiu-se que “o uso da aromaterapia pelo seu potencial calmante e sedativo, especialmente com Lavandula officinalis, poderia ser uma proposta no tratamento integrativo e complementar da ansiedade acarretada pela covid-19, mas sempre sob orientação de um profissional de saúde”.
Um outro trabalho realizado pela Faculdade de Medicina e de Psicologia da Universidade de São Paulo, testou a eficácia da aromaterapia na redução do nível de estresse e ansiedade em 36 estudantes da área de saúde, entre 18 e 29 anos. As autoras concluíram que após os alunos terem feito sete sessões de dez minutos de inalação, com uma sinergia de óleos essenciais, apresentaram uma melhora significativa nos sintomas. O resultado indicou ter “havido redução significante de 24% no nível de estresse, 11% nos níveis de ansiedade traço e 18% de estado no grupo tratado, enquanto no grupo controle houve apenas uma redução menor (de 11%), embora significante, no nível de estresse.
Florais, cítricos ou aterradores, os óleos essenciais são complementos ao tratamento médico
Mesmo com eficácia científica comprovada, o uso da aromaterapia é feito a partir de uma abordagem que leva em conta outras terapias, e nunca de forma isolada. Ela é um tratamento complementar à psicoterapia para ansiedade, depressão e mesmo crise de pânico, e deve ser acompanhada também de um psiquiatra e psicólogo. “A aromaterapia não substitui o tratamento médico. Além disso, o ideal é que sempre aconteça uma troca entre os profissionais (aromaterapeuta e psiquiatra, por exemplo)”, diz Paulo Tonhasolo.
Defensor do uso de óleos essenciais para ansiedade, o aromaterapeuta trabalha há quase 20 anos com a técnica em seus pacientes, que demonstraram um avanço e alívio significativo dos sintomas de transtornos mentais. Paulo conta que, com o uso dos óleos, os adeptos da prática relatam se sentir mais relaxados e ganharam foco.
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A maioria dos profissionais trabalham com um blend de produtos, ou seja, calculam a dosagem, o uso e a frequência dos óleos essenciais a partir dos sintomas e das queixas dos pacientes. Relatar outros problemas de saúde, como sinusite e até asma, são importantes na hora da consulta. “Fazemos isso para criar uma sinergia na fórmula, para levar tranquilidade, serenidade, calma e relaxamento às pessoas”’, diz Paulo. Ele atua com uma mistura de óleos essenciais a partir da união de três categorias de óleos essenciais: cítricos, como laranja, limão, mandarina e tangerina; aterradores, como cedro do Atlas e florais, a exemplo da lavanda e da camomila.
Por onde começar?
Esses óleos essenciais são indicados para o tratamento de ansiedade:
Florais
Os óleos essenciais de flores como lavanda, ylang ylang, gerânio e camomila-romana podem ajudar com estresse, agitação, dificuldade no sono, excesso de pensamento e tristeza.
Cítricos
Os óleos cítricos, como o de laranja, podem auxiliar na melhora da insônia, do nervosismo, tristeza profunda, tensão muscular ou mental e TPM.
Aterradores
Os chamados óleos aterradores, a exemplo do patchouli e cedro do Atlas, são mais densos e possuem moléculas mais pesadas, e trazem uma sensação de segurança e de aterramento.