Se sonho tivesse spoiler, era capaz da gente nem sonhar
Dandara Pagu faz uma reflexão realista e bem humorada sobre os bastidores dos sonhos que ninguém te conta
Somos movidos pelos nossos sonhos. Fala a verdade, tem coisa mais gostosa do que sonhar? A cabeça vai longe, aquele frio na barriga… É maravilhoso. São os nossos sonhos que fazem a gente colocar metas e esperanças no papel todo o dia 1º de janeiro. Delícia começar o ano com um sonho novo. O que ninguém fala é sobre os perrengues que podem vir de brinde. Porque sonhar é fácil, o difícil é lidar com os boletos emocionais que eles trazem no combo.
Sonhos são um espetáculo, mas os bastidores são tiro, porrada e bomba
Você sonha com a casa nova, o lar dos sonhos, tudo perfeito, até vir uma chuva e transformar sua sala num aquário. Vivi exatamente esse transtorno esse ano. Vi minha escada se transformar numa cachoeira e posso dizer: não é fácil. Onde estava essa cláusula no contrato do sonho que deixei passar? Confesso que fui pega desprevenida com a quantidade de perrengues que enfrentei ao botar em prática o sonho de ter minha casa própria. Dei conta? Dei. Mas não foi fácil, não.
Também tem aquela parte do sonho de um amor para vida toda. Lindo na nossa cabeça, mas na hora de pular as ondinhas ninguém avisa que compartilhar de tudo significa compartilhar as manias, a toalha em cima da cama, o ronco, e as polêmicas envolvendo a pasta de dente.
E aquela viagem dos sonhos? Tudo planejado, looks escolhidos, passaporte no jeito, mas é no seu destino que você descobre que é época chuva e os passeios vão todos pelo bueiro abaixo. No final, a viagem acaba sendo pra dentro: você e suas expectativas frustradas, curtindo um retiro espiritual involuntário no Airbnb.
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Isso sem falar no sonho de ter um negócio próprio. Você só pensa que o faturamento pode ser lindo e que ser seu próprio chefe vai ser um livramento. Mas onde estava o alerta de roubada avisando das noites mal dormidas, da necessidade de gestão da ansiedade e do esquema de trabalho 7 por 7?
No final das contas, a verdade é tão simples quanto assustadora: os sonhos são um espetáculo, mas os bastidores são tiro, porrada e bomba. Por isso é importante sonhar já com escudo, amuleto e um olho no peixe e outro no gato. É bom demais curtir a glória, mas estar preparada para a queda é fundamental. Precisamos pensar os perrengues como um tempero, aquela cláusula em linhas miúdas que nunca lemos, mas sabemos que estão lá. Afinal, se o sonho não vier com um pouco de treta, a gente nem valoriza.