Como assim eu não posso ser triste?
A trend de fim de ano me causou um certo incômodo. Será mesmo que por ter conquistado coisas boas a gente não pode ser triste? Está na hora de respeitar a tristeza e entender que, sem ela, não há alegria
Fim de ano chegou e, com ele, vieram as listas. Só que a trend da vez veio envelopada da seguinte maneira: “como vou ser triste se em 2024 eu…”. Tem foto da viagem pra Europa, diploma pendurado na parede, amor que deu match, corpinho maromba pós-academia, casa própria e por aí vai. Legal pra eles. Mas aí eu pergunto: e o que ser triste tá fazendo aí no meio dessa frase? Porque esse sentimento está sendo jogado pra baixo do tapete?
Fora a importância da tristeza, trago o incômodo que essa trend pode gerar (e gerou) em muita gente. Ver algumas pessoas que têm grana e sucesso se vangloriando de seus feitos me parece um tanto inadequado no Brasil de 2024. E mais, será mesmo que conquistas materiais são suficientes para aplacar nossas tristezas? Eu, que tantas vezes fui triste esse ano, quero dar a mão pra quem engoliu seco depois de ver essa trend passar no feed algumas vezes.
Valorizar nossas conquistas é bom, mas respeitar a tristeza é uma sabedoria fundamental
A gente precisa abraçar a tristeza ao invés de empurrá-la para fora do palco. Como já bem nos mostrou Divertidamente (o filme que mora no meu coração): todas as emoções são bem-vindas e tem suas funções. Alegria, tristeza, raiva, ansiedade, medo e até aquele nojinho maroto. Todo mundo mora na mesma casinha da nossa cabeça e as emoções dependem uma da outra para existir. Afinal, como a gente saberia o que é felicidade se nunca ficasse triste?
Pensa comigo: quantas vezes você só saiu do lugar porque a tristeza deu aquele empurrãozinho? Vai de uma decepção que virou o estalo pra mudar de carreira, até o fim de um namoro que foi o start pra cuidar de si mesma. No fundo do poço mora o desconforto e ele pode ser uma mola pra jogar a gente pra cima. Longe de mim defender que só a tristeza ou a dor são edificantes, mas elas podem nos ajudar a mudar a rota e a descobrir novos caminhos.
Vou te contar: esse ano foi um plot twist atrás do outro na minha vida. Teve crise existencial, noites sem dormir e aquele medo paralisante do “e agora?”. Em alguns momentos, eu olhava pra frente e só via pontos de interrogação: Será que vou conseguir outro trabalho? Será que aquele sonho antigo vai sair do papel? Será que a vida vai dar um sinal? E sabe o que eu descobri? Que foram esses “serás” que me fizeram agir.
Pensando nesse lado, quero fazer aqui a minha própria trend:
Como eu posso NÃO ser triste se o término de um relacionamento abriu espaço pra eu me reconectar comigo mesma?
Como eu posso NÃO ser triste se perder um emprego me deu coragem para desbravar caminhos que sempre sonhei?
Como eu posso NÃO ser triste se uma amizade que acabou me mostrou quem realmente tá comigo até o fim?
A tristeza não é vilã e pode até ser professora. Tirando casos extremos, claro, ela pode pegar na nossa mão e dizer: “Bora que dá!”. Se no meio do furacão eu chorei, me descabelei e achei que ia desmoronar, foi também nesses momentos que tive o colo que precisava e que consegui ouvir uma voz muito importante: a minha.
Então, eu só vim pra dizer que tá tudo bem ficar triste e, não há nada de errado com você se suas conquistas materiais não conseguiram aplacar a sua dor. Tá tudo bem duvidar, tropeçar, cair, buscar ajuda e assumir que tudo isso aconteceu. Sem glamourizar a tristeza, acho que podemos respeitá-la e pontuar os tombos que viraram trampolim.
E se você também foi triste esse ano, dê cá um abraço. Valorizar nossas conquistas, mesmo que pequenas, é bom, mas respeitar a tristeza é uma sabedoria fundamental.