Nem toda tristeza aparece através das lágrimas. Um rosto com depressão pode ser sorridente e aparentemente feliz. A capacidade do ser humano de esconder o que sente é uma estratégia que, às vezes, é treinada a vida inteira. Os outros dizem “pare de chorar”, “você não precisa sentir isso”, “pense pelo lado positivo”, “mas você tem tudo” – e a gente faz exatamente como mandam. Nossas emoções trancadas como Rapunzel na torre mais alta do nosso coração.
Nos vestimos do nosso melhor sorriso e vamos para aquele happy hour com as amigas. Lá escutamos todos os elogios possíveis pela roupa bonita e o novo corte de cabelo. Ninguém sabe, mas o custo de ter feito isso é alto. Não escrevo aqui sobre investimento financeiro, mas, sim, sobre o quão difícil pode ser para alguém com depressão seguir funcional.
As amigas, os colegas de trabalho, os vizinhos, a família… ninguém imagina o quanto você se esforça para mascarar a dor. Será que as pessoas suportariam saber a verdade? Será que conseguiriam conter o espanto nos próprios olhos se finalmente descobrissem que o caminho por onde você passa está repleto de cacos do seu coração que sangra? Precisa de um olhar extremamente atento, gentil e curioso para perceber.
Depressão não tem cara, cor, idade, gênero, orientação sexual ou religião
Dizem que a pessoa com depressão não se ajuda, fica deitada, não se arruma e falta ao trabalho. Essa pode ser uma faceta da depressão, mas não a única. A depressão pode ser, sim, visível aos olhos dos outros, mas a verdade é que boa parte da doença acontece embaixo da pele, onde ninguém enxerga. Lá no fundo dos pensamentos da pessoa que vê a si mesma, aos outros, ao passado, presente e futuro de uma forma limitada, desesperançosa e hostil.
Lá no peito em chamas e no estômago que já não vê graça na comida que antes se deliciava. A boca não saliva mais e o alimento perdeu o sabor. Lá na motivação para viver a vida que antes parecia cheia de cor e agora está monocromática. Isso ninguém vê, apenas a pessoa adoecida pode acessar.
Depressão não tem cara, cor, idade, gênero, orientação sexual ou religião. Aliás, depressão também não é falta de espiritualidade, tá? Eu sei que é 2024 e a gente já deveria ter esgotado esse mito, mas o óbvio ainda precisa ser dito. Ninguém escolhe ter depressão ou qualquer outra questão psicológica. Temos um cérebro complicado que, por vezes, coloca algumas armadilhas no nosso caminho. E precisamos de ajuda para buscar viver melhor. A ajuda precisa vir de dentro, mas também deve ser fornecida de fora. Não julgar quem sofre já é um primeiro passo.
Absolutamente ninguém escolhe sofrer. Todas as pessoas querem a alegria. Mas algumas coisas saem do nosso controle, como fatores ambientais e questões neuroquímicas. Então quem sofre, não sofre por livre e espontânea vontade. Se você convive com alguém atravessando a depressão, esteja presente, se coloque disponível e permaneça cultivando a compaixão. Inúmeras vezes a gente tenta fazer malabarismo para ajudar o outro e nos cansamos antes mesmo de conseguirmos adivinhar o que precisam de nós.
Existe uma pergunta mágica para ajudar quem amamos e queremos o bem: o que posso fazer por você? Essa pergunta demonstra interesse genuíno no bem-estar do outro. E se a pessoa ainda não tem uma resposta para dar, você pode continuar lembrando que está por perto e disposta a ajudar como for possível.
Pedir ajuda é a coisa mais humilde e corajosa que podemos fazer por nós e pelos que estão à nossa volta
Se você é a pessoa atravessando a depressão, quero que leia com o maior carinho do mundo: pedir ajuda é a coisa mais humilde e corajosa que você pode fazer por você e pelos que estão à sua volta. Sentir significa que você é humana e está viva! E em alguma medida, todos nós vamos precisar de auxílio para nos alcançarem um lenço enquanto choramos.
Não ignore os sinais e lembre-se que a depressão possui mais caras do que podemos imaginar. Nunca julgue o livro pela capa e não antecipe que você sabe de alguém apenas ao olhar para a pessoa. Não reduza o outro à sua própria ignorância. Olhe com mais curiosidade e menos julgamento. Olhe de verdade (para dentro e para fora). E mesmo olhando com cuidado, não esqueça que você enxerga só uma parte do mundo do outro.