Manuela Dias: Amigo ingrato, você ainda vai ter o seu - Mina
 
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Amigo ingrato, você ainda vai ter o seu

Uma hora ou outra, sempre aparece na nossa roda mais íntima aquela pessoa cheia de demandas e reclamações, mas que raramente tem uma generosidade a oferecer

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O Amigo Ingrato é uma figura que muitas vezes se revela com o tempo. Com certeza chegará o momento da grande revelação, onde a falta de caráter dele se tornará evidente, mas existem sinais que você pode ver antes, se estiver atento. O Amigo Ingrato está sempre demandando algo. Ele “adoraria” ajudar, mas está sempre precisando de tanta coisa que nunca chega a sua hora de colaborar. Não é que ele peça diretamente, mas deixa a necessidade dele tão clara e, por outro lado, a sua possibilidade de ajudá-lo é tão evidente… 

 O ingrato, por definição, sempre acha que o mundo está lhe dando menos do que ele merece

Por exemplo, você alugou uma casa na Bahia tão linda e ele queria tanto viajar. Ele quer tanto trabalhar no seu ramo e pintou uma vaga na sua equipe. Ele precisa tanto conhecer gente nova, e você tem amigos tão legais… Aliás, esse tipo de amigo tem uma habilidade estranha de se tornar muito próximo de todo mundo que tem algo a oferecer. Quando você divide uma conquista com esse tipo de amigo ele comemora, mas a alegria sempre vem acompanhada de um “porém” qualquer. Seu filme foi indicado para um festival em Chicago? Ah… é um festival pequenininho, né? Ou, então, muitos amigos te deram “feliz aniversário” nas redes sociais e você está comovido com as mensagens? Seu querido “amigo” está ali para comentar como tem puxa-saco atrás de trabalho na internet.

Se você trabalha com esse amigo e, sobretudo, se você acabou se tornando chefe desse amigo… Aí, prepare-se. O ingrato, por definição, sempre acha que o mundo está lhe dando menos do que ele merece. Logo, ele tem certeza de que faz a parte pesada do trabalho, pelo qual você leva o crédito. Também tem aquele velho amigo ingrato que aparece num momento seu de realização. 

O velho amigo ingrato andava sumido e aparece para dar um “oi”, ou desejar um “Feliz Natal”… Até que ele solta a pérola: lembra quando ele te deu a ideia do seu primeiro sucesso? Ou de quando te “supervisionou” em determinado processo? Lembra de quando ele te apresentou pro parceiro com quem você convive há 20 anos? Não, claro que você não se lembra, até porque nada disso aconteceu. Mas, sim, você se lembra que estava com ele na festa em que conheceu esse parceiro; se lembra também de quando contou sobre sua iniciativa num bar, há 15 anos, pra esse amigo… De lá para cá, ele viajou o mundo e fez mil coisas, enquanto você seguiu trabalhando sábados e domingos na mesma ideia que agora frutificou.

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Para não ser pego totalmente de surpresa, é bom perceber quem são os amigos que estão sempre nas suas festas, mas nunca te convidam para nada. Fique atento a como os amigos dos seus amigos te tratam. Isso diz muito sobre como falam de você. Repare que esse tipo de amigo tem sempre uma história “engraçada”, mas no fundo degradante, para contar a seu respeito. O nome disso é inveja. Observe quanto cada um recebe daquela relação… A vida não é um negócio, mas é bom que haja troca.

Desilusão existe e, mesmo assim, acreditar vale a pena

Seja como for, observe os sinais, porque chegará o momento clímax da revelação. Nesse momento, você ligará todos os pontinhos dessa amizade interessada. Provavelmente, esse momento chegará quando você disser “não”. Talvez quando você disser que ele não estará no próximo trabalho. Talvez seja num momento de muita felicidade da sua vida. Ou, quem sabe, talvez aconteça no momento em que seu amigo conseguir se sobressair em algo e não te convide para a comemoração. Pode ser também que a revelação inclua uma traição direta, um abuso de toda intimidade que vocês compartilharam por anos. Ou talvez apenas porque você parou de ser uma fonte de oportunidades.

Seja como for, será doloroso. Você se sentirá usado. Abusado. Se tiver aberto sua intimidade, se sentirá traído. A ingratidão é agressiva e violenta. Mas… como tudo, a decepção passa e fica a lição. Não a lição de viver desconfiado. Mas a lição de que a desilusão existe e, mesmo assim, acreditar vale a pena. Porque, como dizia Jorge Amado, “a amizade é sal da vida” e nós não vamos perder grandes amigos por causa de alguns ingratos.

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