Histórias de viagens transformadoras para se inspirar - Mina
 
Nosso Mundo / Reportagem

Uma viagem pode mudar a sua vida!

Colocar intenção, escolher direitinho o destino, estar aberta e não planejar cada minuto: todas as viagens podem ser transformadoras, mas é preciso dedicação para voltar se sentindo outra pessoa. Dica preciosas de quem se deixou transformar

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O cronista de viagens Pico Iyer costuma dizer que o movimento físico de viajar é só um pretexto para transformações internas profundas. “Viajar tem tudo a ver com transformação, e sou fascinado por aquelas pessoas que realmente voltam de uma viagem irreconhecíveis para si mesmas e talvez abertas às mesmas possibilidades que teriam descartado um mês antes”, disse em seu TED Talk.

“É preciso buscar lugares no mundo externo que possam nos empurrar rumo a onde precisamos ir dentro de nós”

Foi assim que voltei depois de quase 3 meses em Atlanta, EUA, em outubro do último ano. Não estava nos meus planos ir para essa cidade até meu namorado ser convidado para participar de um projeto por lá. Aproveitei a oportunidade e fui junto. Foi surpreendente, gostei muito mais da experiência do que imaginei.

Além disso, voltei mais segura, confiante, mais curiosa sobre o mundo e sobre as pessoas, ressignifiquei alguns medos, enxerguei novas possibilidades e mudei meu olhar sobre a vida. Essa viagem também me fez perceber o quanto estava acomodada, vivendo de forma automática, o que despertou em mim uma vontade que até então eu não tinha: a de morar fora por um período mais longo – projeto que pretendo realizar em breve. 

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A partir disso, entendi o que Alain de Botton, fundador da The School of Life, quis dizer com “é preciso buscar lugares no mundo externo que possam nos empurrar rumo a onde precisamos ir dentro de nós”.  Em seu livro A arte de viajar, o autor afirma que se nossas vidas são dominadas pela busca da felicidade, talvez poucas atividades revelem tanto a respeito da dinâmica desse anseio – com toda a sua empolgação e seus paradoxos – quanto o ato de viajar, que “expressa um entendimento de como a vida poderia ser fora das limitações do trabalho e da luta pela sobrevivência”, diz. 

De Botton defende ainda que, quando escolhida do jeito certo, a viagem tem a capacidade de mudar nossas vidas. “Ela pode desempenhar um papel fundamental em nos ajudar a amadurecer e evoluir; pode corrigir os desequilíbrios e imaturidades de nossa natureza, abrir nossos olhos e restaurar a perspectiva, funcionando assim como uma forma de terapia”, enfatiza. 

Repensando o trabalho na Itália

A jornalista Bárbara Lins, de Brasília, precisou viajar para repensar sua relação com o trabalho. “Eu era workaholic. Trabalhava tanto que queria abrir a cancela da guarita da empresa com o controle do portão de casa e ligava para farmácia falando automaticamente ‘oi, aqui é a Bárbara, da empresa X’. Só pensava em como crescer na empresa”, diz. Tudo mudou em uma road trip de 22 dias que fez com a família em 2014, no interior da Itália. Era a primeira vez desde que entrou na faculdade que passava tanto tempo longe do trabalho, que começou ainda como estagiária.

Um dia, quase no finalzinho da viagem, estava conversando com um senhor num posto de gasolina quando foi questionada sobre o que fazia no Brasil. “Na hora, me toquei que tinha esquecido completamente do meu trabalho. Vi que ele não era tão importante assim para mim, que aquelas situações que me mobilizaram tanto emocionalmente não eram tão relevantes assim quando observadas (literalmente) à distância”, relembra. 

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Foi aí que ela percebeu que o nome da empresa não era o seu sobrenome e que existiam outras formas de passar seus dias. “Foi libertador. Voltei e comecei um site só para falar de assuntos que eu amava: livros, viagens e comida”. Algum tempo depois, Bárbara pediu demissão e atualmente tem como uma das suas principais fontes de renda o site que criou. “Ele me permite viver as várias vidas que descobri que podia ter naquela viagem”, afirma.

Encontrando o amor no Peru

Já a comunicadora Amanda Noventa, de São Paulo, viajou sozinha para conhecer Machu Picchu quando foi para o Peru, em 2013, sem grandes expectativas. “Fui muito livre, sem nenhuma intenção. Já era acostumada a fazer viagens solo e estava feliz assim”, diz. Chegando lá, logo fez amizade com a turma do hostel em que se hospedou. Entre eles, Pedro, um mineiro divertido e interessante que viajava com os amigos. 

“Isso aconteceu porque eu estava completamente entregue à viagem e ao meu momento”

Não demorou muito para rolar o primeiro beijo. “A vida era perfeita em Cusco. Durante o dia eu passeava com as minhas novas amigas e à noite encontrava com ele no hostel para sairmos todos juntos. No meu último dia na cidade, o clima já era de despedida e o Pedro me propôs um passeio romântico, só nós dois”, conta. Deixaram os amigos para trás e saíram andando pela cidade, sem hora, sem rumo, um perfeitamente à vontade com o outro.

“Se apaixonar em uma viagem pode ser perigoso, você corre o risco de nunca mais ver a pessoa na vida. Pensando assim, me contentei apenas em me sentir querida e amada no momento”, afirma. Então, quando se despediram, não fizeram promessas. “Não achei mesmo que ia render. Era só pra ser um romance de viagem”. 

Porém, ao chegar em São Paulo, recebeu uma mensagem dele dizendo que teria uma conexão na cidade antes de voltar para Belo Horizonte e perguntando se podia ficar na casa dela. “Ele veio e daqui nunca mais saiu”. 10 anos juntos e 2 cachorros depois, Amanda afirma que encontrou o amor quando menos esperava, fazendo o que mais ama. “Hoje, percebo que isso só aconteceu porque eu estava completamente entregue à minha viagem e ao meu momento. E não consigo acreditar que poderia ter encontrado o amor em outra situação que não fosse viajando”, relata.

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Viagem com intenção

As histórias de Bárbara e Amanda são exemplos de transformações que aconteceram de maneira despretensiosa, mas foi fundamental que ambas estivessem abertas ao imprevisível. Colocar intenção na hora de escolher um destino e deixar tempo e espaço para que a viagem se transforme (e te transforme) é o primeiro passo.

Não é sobre planejar a transformação, mas impulsionar a jornada que queremos trilhar internamente. E fique atenta, todo lugar pode ser transformador à sua maneira: “Com uma observação mais cautelosa, é possível notar que cada local no mundo contém qualidades e virtudes que podem auxiliar em algum tipo de mudança benéfica no interior de uma pessoa”, conclui Márcia Miyamoto, professora e coach de vida e carreira na The School of Life. 

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