Como sair sozinha e se divertir na sua própria companhia - Mina
 
Nosso Mundo / Reportagem

Sair sozinha faz bem! Mas por que é tão difícil dar o primeiro passo?

Quem nunca deixou de assistir a um show ou ir a um restaurante por falta de companhia? Pode parecer esquisito fazer programas sozinha, mas saiba que ser seu próprio par tem muitos ganhos – vem descobrir quais são

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A paulistana Yasmin Lodi, 23 anos, já estava arrumada e dentro do táxi a caminho de um festival de música quando recebeu a mensagem de uma amiga dizendo que tinha desanimado e desistido de acompanhá-la. “Pensei: vou sozinha mesmo”, relembra. No dia seguinte, ela publicou no TikTok um vídeo dos melhores momentos do evento – e viralizou. Além de curtidas e compartilhamentos, Yasmin recebeu muitos comentários – especialmente de mulheres – dizendo que sentiam vontade de fazer o mesmo, mas não tinham coragem de sairem sozinhas. “Entendi que tinha algo ali a ser explorado”, diz.

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Desde o boom, em julho do ano passado, ela usa o perfil no Instagram Vai Sozinha Mesmo para “ensinar” outras mulheres a saírem sozinhas para bares, restaurantes, shows, museus e viagens. Além de mostrar os lugares onde frequenta, ela dá dicas de segurança, de como fazer novos amigos e até como tirar boas fotos sem precisar da ajuda de ninguém.

“A solitude está ligada a uma sensação de plenitude em estar só”

Assim como Yasmin, há outros influenciadores crescendo no nicho da solitude – termo que não é sinônimo de solidão. A psicóloga Cristiane Lima, que há dez anos coordena uma imersão para mulheres, explica a diferença: “Solidão é não construir relações é estar sozinho por falta de opção; já a solitude está ligada a uma sensação de plenitude em estar só, ao fato de ficar bem na própria presença”.

Por que é tão difícil sair sozinha? 

Ao ouvir especialista e influenciadora, fica claro que é difícil falar sobre sair sozinha sem fazer um recorte de gênero, já que questões como a falta de segurança, o assédio e um certo julgamento ao ver uma mulher sem companhia na mesa de um restaurante, por exemplo, fazem com que, para elas, colocar a ideia em prática tenha mais obstáculos.

“Historicamente, a mulher nasce propriedade de sua família, é criada para se casar e, quando se casava, virava propriedade do marido, inclusive sendo obrigada a adotar o nome dele. Embora tudo isso soe antiquado, esse é um comportamento que ainda rege a vida de muita gente”, fala. Portanto, ela continua, até hoje as mulheres se sentem inseguras ao se aventurar em uma saída solo.

Não por acaso, Yasmin estima que 80% de seu público seja formado por mulheres – especialmente as recém-separadas, que após anos de relacionamento sentem dificuldade de encarar um programa sozinha, por mais simples que pareça. “Muitas me perguntam como faço para me divertir sozinha e, principalmente, se não me sinto julgada. Mas, na prática, as outras pessoas não estão nem aí. Quando a gente percebe isso, é muito mais fácil”, garante.

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O show em que gravou o primeiro vídeo do Vai Sozinha Mesmo não foi a primeira saída que Yasmin encarou sem companhia. Desde que a pandemia de covid-19 começou a arrefecer, ela tem se proposto a fazer seus programas preferidos sozinha e conta que a prática só trouxe benefícios para a sua saúde mental e também para as suas relações.

“Sempre namorei e fiz quase tudo acompanhada, mas quando comecei a fazer as coisas sozinha, senti uma diferença de leveza na minha vida. Passei a me conhecer mais, entender o que eu gostava de fazer e descobrir coisas novas”, diz. “Esse é um ato de carinho com nós mesmas”.

A psicóloga Cristiane Lima concorda: “O hábito de sair sozinha está muito ligado ao autoconhecimento. Estar na própria companhia é um desafio grande, porque envolve se reconhecer como prioridade, entender do que gosta, o que quer, independente de uma negociação com o outro”, seja esse outro um cônjuge, amigos ou familiares.

Yasmin acredita que é possível fazer absolutamente qualquer programa sozinha, mas pondera: “Não estou dizendo para a gente se isolar. É muito bom estar com pessoas que amamos, mas também é muito bom estar sozinha e não deixar de fazer coisas que a gente gosta”.

Reunimos dicas da psicóloga Cristiane Lima e da influenciadora Yasmin Lodi para quem quer começar.

Comece devagar 

O melhor é começar dando pequenos passos em direção ao conforto em estar sozinho: fazer programas em casa mesmo, como cozinhar algo gostoso para você. Ou então, ir a espaços já conhecidos, como um parque ou um café perto de casa. “Se a pessoa mal fica sozinha em casa ou não sai para almoçar sem companhia, não adianta pegar um carro e passar uma semana sozinha viajando pela Bahia. Ela provavelmente vai odiar”, brinca Yasmin.

Segurança em primeiro lugar

Vale usar a tecnologia para garantir sua segurança, seja checando o trajeto no Google Maps antes de sair, enviando a localização para uma amiga ou, ainda, compartilhando dados de um motorista de aplicativo ou de uma pessoa nova que conheceu.

Nada de celular

Se por um lado o celular é uma ferramenta importante para nos manter seguras nesses momentos, ele também pode roubar o nosso tempo de lazer. Se a ideia é aproveitar novas experiências, é importante driblar o hábito de passar o almoço inteiro num restaurante legal rolando o feed do Instagram.  Se você tem dificuldade de deixar o aparelho na bolsa, vale carregar um livro ou optar por começar a ir sozinha a programas como cinema e teatro, que podem entreter ocupando o espaço do feed infinito.

Sente no balcão

Em espaços como bares, restaurantes e casas noturnas, Yasmin tem uma dica simples, mas que pode mudar todo o programa: sentar no balcão. “Por ser um espaço mais coletivo, você sempre acaba conversando com alguém do seu lado ou com algum bartender. E fazer novos amigos pode render ótimas trocas, experiências e histórias para contar”, garante.

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