Desculpa o meu egocentrismo, é que eu sou de Leão! Que atire o primeiro cristal quem nunca usou a posição dos astros como justificativa para alguma mancada. Seja uma lua em Áries, uma vênus em Sagitário ou o já famoso Mercúrio retrógrado, estamos sempre em busca de uma resposta astrológica para o nosso comportamento nem sempre sensato.
Nos últimos anos, a astrologia se tornou mania nas redes sociais. As hashtags #astrology e #astrologia somam mais de 13 milhões de publicações no Instagram. Além disso, uma pesquisa recente do instituto Pew Research destaca que os mais jovens encontram no estudo dos astros uma saída espiritual maior do que em religiões tradicionais.
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A pergunta que fica é: se brincar com estereótipos e indicar o signo na bio do instagram já são costumes da nossa rotina virtual, em que momento botar a culpa nos astros pode passar de um lugar saudável, que se conecta em certa medida com a nossa espiritualidade, para uma perigosa zona de conforto?
Cuidado com a síndrome de Gabriela: Eu nasci assim, eu cresci assim e vou ser sempre assim
Segundo a astróloga Fernanda Tuna, a astrologia é uma influência energética vibracional e, assim como ioga ou meditação, pode ser uma poderosa ferramenta de busca por autoconhecimento. “As pessoas buscam pela astrologia para encontrar seus próprios caminhos e, por ser regida por um mistério que a ciência não consegue comprovar, ela é adaptável à maneira de viver de cada um”, avalia. “Mas não é porque identifico que os cancerianos são melódicos e sensíveis, por exemplo, que vou usar essas características como muleta”.
Se combinada a traços de individualidade e usada com sabedoria, a astrologia pode ser uma grande aliada na busca por bem-estar e autoconhecimento. No entanto, o psicólogo Juliano Bonfim destaca que é necessário haver um equilíbrio para não se acomodar na chamada síndrome de Gabriela – termo derivado da música de Dorival Caymmi que diz: eu nasci assim, eu cresci assim e vou ser sempre assim.
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“Com o boom da astrologia, a maioria das pessoas tem acesso ao próprio mapa astral desde muito jovem e isso faz com que elas reforcem atributos dos signos na própria personalidade”, explica o psicólogo. “Se justifico que sou fofoqueiro porque sou de gêmeos, isso me livra do peso de fofocar de novo. Mas será que sou fofoqueiro só porque sou geminiano? É legal a pessoa estar também aberta a considerar outros fatores que moldam sua personalidade, como genética, o ambiente em que vive, os valores passados pela família e muitas das suas experiências durante a infância e a adolescência”.
Pode ser libertador saber diferenciar o que é característico do nosso signo daquilo que nos torna únicos
Vale a pena investigar e entender, por exemplo, se você é mais introvertido por influência do seu signo ou pela maneira como sua família te criou, pelas vivências que você teve na escola e até pela cultura do lugar onde você mora. Enfim, tudo isso tem que ser levado em consideração na hora de se autoanalisar.
É claro que está tudo bem pedir uns lanches a mais e justificar dizendo “é que eu sou de touro”, mas pode ser libertador saber diferenciar o que é característico do nosso signo daquilo que nos torna únicos. Afinal, só estando no controle de quem somos é que assumimos responsabilidades e aprendemos com nossas escolhas, tanto as boas, como as ruins.
Além disso, culpar o seu signo por mancadas muito sérias só vai fazer com que os outros te enxerguem como um estereótipo e peguem ranço de todas as pessoas do mesmo signo que você. Quem nunca perdeu um contatinho porque ele cismou que você seria vingativo só por ser de escorpião? Olha aí a sacanagem!
Brincadeiras à parte, mesmo que os astros exerçam influência sobre a nossa vida, todos nós somos capazes de mudar traços negativos da nossa personalidade, basta querer. O ideal é a gente parar de arrumar desculpas e correr atrás de consertar a nossa própria bagunça, faça chuva, sol ou eclipse.