Término de relacionamento não significa que não deu certo - Mina
 
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Não precisa ser “para sempre” para ser feliz

Por que estamos acostumados a considerar todos os relacionamentos que chegaram ao fim como fracassados? Afinal, o que é dar certo?

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Já adianto: esse romance não acaba com um “e viveram felizes para sempre”. Mas será que toda história de amor precisa acabar assim para ser boa? Será que as que terminam não podem deixar boas memórias ou algo que o valha? Nos conhecemos em São Paulo, em um sábado nublado. Ele era carioca, mas morava em Berlim há 8 anos e trabalhava como produtor musical. Depois de tomarmos café da manhã juntos, atravessei a rua pensando: ótimo, talvez eu esteja apaixonada por um cara que mora há 10 mil quilômetros de distância e vai embora em dois dias.

Sempre tive o costume de acreditar que nada é impossível, e encontrei alguém com a mesma intensidade e um destino em comum. Em dois meses estávamos nos encontrando em Paris. Com direito a vinho no copo de plástico na frente da Torre Eiffel, nos perdermos no metrô e uma caminhada até a Sacré Cœur enquanto rolava uma conversa mais reflexiva. 

Ótimo, talvez eu esteja apaixonada por um cara que mora há 10 mil quilômetros de distância e vai embora em dois dias

Vivemos, como apelidei, um amor de hotel: nos encontramos em cinco cidades diferentes e conhecemos cerca de 11 quartos. Era intenso e fazia todo resto parecer sem graça, talvez porque nunca tenha sido tocado pela monotonia da rotina. Até que, alguns meses depois, em Barcelona, enquanto passávamos pelo Arco do Triunfo, ele me falou sobre o futuro e uma vontade de voltar para o Brasil. No outro dia, que seria o nosso último juntos, disse que gostaria de me apresentar Berlim e ser meu guia. Então, perguntou se eu, que ficaria viajando alguns dias sozinha, não toparia mudar o próximo destino. Gostei do plano e, como não conhecia a cidade, a ideia de alterar o roteiro me pareceu uma boa decisão.

Aquela semana foi carregada de pequenas felicidades, como andar com o passaporte e a câmera na bolsa, uma boa garrafa de vinho na mão, em direção a algum lugar que nunca tinha pisado. Alguns dias depois de conhecer pontos turísticos, cafés, bares e claro, a sua casa, estávamos indo de trem para o aeroporto de Berlim, em um frio de 6ºC. A despedida, além do beijo, teve direito a lencinhos de papel e até o pessoal que cuida do raio-X se emocionando.

Depois de chegar de viagem, meu celular vibrou e recebi uma mensagem sua falando que voltaria, porque não fazia sentido estar lá com a cabeça aqui. Ele pensava em ficar por São Paulo, porque depois de vir para cá algumas das últimas vezes, dizia se encontrar mais no ritmo da cidade do que no do Rio. Se isso estiver te lembrando o roteiro de algum filme ou série, te confesso que por vezes me peguei pensando também. Toda essa história era tão cheia de reviravoltas, com vários destinos, conversas sobre entregas, surpresas que o mundo e o amor nos dão e coragem para viver o que vier. O combo completo de qualquer comédia romântica.

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Sim, ele comprou a passagem, veio para o Brasil. Mas, cara leitora, nós nos desencontramos antes do avião pousar e essa segunda temporada começar. Tomei um ghosting, pela primeira vez na vida. Ele tinha uma viagem marcada para a Tailândia antes de vir para cá e, chegando lá, simplesmente parou de responder e sumiu. Um mês depois, reapareceu, me telefonou e disse que ia vir para conversarmos, mas que eu já devia imaginar que os seus planos mudaram. Com o tempo e com a vida, entendi que a sua postura não era algo pelo qual devia me culpar ou procurar respostas, era uma falta de responsabilidade com a qual ele que teria que conviver. 

Percebi pela primeira vez que aquela história durou o tempo certo

Levou um tempo até eu conseguir me distanciar e ter esse olhar. No começo, quis esbravejar com o universo, ter uma explicação para esse fim dessa forma. E, para complicar, essa cena aconteceu a menos de um mês antes da pandemia estourar. Então, foi no isolamento que precisei lidar e processar esse mix de sentimentos, somado a tudo o que abalava o mundo. Agora, três anos depois, até prefiro que tenha se desenrolado assim. Apesar de todo o sentimento e aventuras que listei, estávamos em momentos diferentes e tínhamos perspectivas e planos que, apesar de se esbarrarem, não se cruzavam e talvez até se atrapalhassem. 

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Percebi pela primeira vez que aquela história durou o tempo certo, quando, alguns meses depois, em um momento que passei isolada em uma cidade do litoral com uma amiga aventureira, fomos de caiaque até uma ilha próxima. Depois de uma hora remando, paramos para apreciar a água que nos cercava e ouvir o barulho do mar. Aqueles minutos me fizeram perceber o quanto eu gostaria de estar exatamente ali, vivendo o momento ao lado daquela companhia, daquele jeito. O quanto, naqueles segundos, a minha vida fazia sentido como estava sendo escrita, ou melhor, como eu escrevia. Também entendi que não atravessei o oceano só pelo amor ao outro, mas também por mim e por ser fiel ao meu coração, me permitindo viver a aventura que viesse e quisesse. E que eu ainda tinha tantas me esperando.

Eu nunca fui muito fã de contos de fadas. Então, desde cedo os desafiei ao acreditar que uma história não precisa durar até o fim da sua vida para considerarmos que foi bem sucedida. Ao meu ver, a que te conto agora e tantas outras que vieram antes deram certo. Dá certo quando arranca sorrisos com facilidade, é intenso e ao mesmo tempo leve e vem acompanhado de um frio gostoso na barriga. Quando você encontra um abraço que acalma, um beijo que arrepia e um corpo que você quer desvendar por inteiro. Quando a conversa flui a ponto do silêncio não assustar, quando você está mais preocupada vivendo do que como está parecendo. Quando existe reciprocidade no olhar, sintonia e sinceridade no querer. 

Pouco importa se durou um dia, um mês ou dez anos, a intensidade, as lembranças, a troca e o sentimento valem a pena. Assim como essa, outras histórias foram especiais, afinal, não é porque ficou no passado que não fez sentido para a sua versão que a viveu. Gosto do sabor da nostalgia e, com certa frequência, acho importante lembrar de quem já fui, dos lugares que já pisei, e dos amores que vivi. Mergulhar nessas memórias me ajuda a nunca esquecer das tantas outras que ainda posso ser. No fundo, talvez devêssemos nos preocupar menos em achar um amor para sempre e mais em saber viver os amores que nos encontram e nos e acompanham em momentos diferentes da vida. 

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