O poder de uma mulher com raiva - Mina
 
Suas Emoções

Uma mulher com raiva é uma coisa linda

Sente dificuldade em lidar com a própria raiva? Você não está sozinha. Thais Fabris escreve sobre como somos ensinadas a abafar este sentimento, que é justamente a base para nosso poder de transformação

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Se tem uma coisa que nós, mulheres, passamos mais que qualquer creme, é raiva. Lógico! Com todas as injustiças, desigualdades e violências que sofremos cotidianamente, é mais que compreensível que estejamos furiosas. Mas nem por isso expressamos esse sentimento.

Minha amiga, a antropóloga Carol Delgado, fez recentemente uma provocação que adorei: que as mulheres levem sua fúria mais a sério. Que parem de esconder ou disfarçar esse sentimento de descontentamento e se permitam ser movidas por ele, pois é daí que virão as transformações que precisamos.

No entanto, essa não é uma tarefa fácil. Ao longo das nossas vidas, os filmes, livros e professores de história ensinam que a raiva é uma propriedade exclusiva dos homens, principalmente dos homens brancos, cis, heterossexuais e ricos. Enquanto os meninos são encorajados a brincar com armas e a expressar ódio, as meninas são ensinadas a controlar as emoções.

Desde pequenas, nós somos ensinadas – como diz a poetisa Angélica Freitas – que “uma mulher braba não é uma mulher boa.” Devemos ser mansas, comportadas, boas moças, gentis, suaves e tantos outros adjetivos que caracterizam o feminino como gênero inofensivo e naturalmente feito para o cuidado abnegado. Esses mandatos são ainda mais cruéis com as mulheres negras, que sofrem com o estereótipo da negra raivosa sempre que precisam se expressar com mais firmeza (e isso acontece o tempo todo em uma sociedade machista e racista). 

Aquilo que nos incomoda mostra para onde devemos direcionar nossa ação

O problema é que a repressão de emoções intensas costuma gerar consequências negativas para a saúde mental e física. Não podemos nos esquecer que a raiva é um sentimento humano poderoso e válido, que nós, mulheres, também temos o direito de sentir e expressar. Ao tentar ignorá-la, ela pode se manifestar de formas insalubres, afetando nosso bem-estar e nossos relacionamentos.

Então, como canalizar a raiva de maneira construtiva? Mahatma Gandhi, um dos principais defensores da cultura da não-violência, ensinou que a resistência ativa é uma forma legítima de lidar com a agressão. Impor limites amorosos e firmes para barrar aqueles que nos agridem é uma maneira de defender nossos direitos e promover a paz. Isso não significa que devemos infinitamente dar a outra face, mas, sim, que podemos responder com assertividade, estabelecendo fronteiras saudáveis e mostrando que não seremos silenciadas.

A dor aponta para o que importa. Aquilo que nos incomoda mostra exatamente para onde devemos direcionar nossa ação. Ao invés de deixar o sentimento implodir dentro de nós, precisamos deixá-lo explodir em energia transformadora. A raiva pode ser uma poderosa propulsora para a ação, quando devidamente direcionada. É um convite para buscar soluções, defender nossos direitos e promover mudanças significativas em nossa vida e sociedade.

Uma mulher com raiva é uma coisa linda, porque ela é capaz de mover o mundo. Fomos tão afastadas desse sentimento justamente pelo poder que ele nos traz: mulheres com raiva têm motivação para buscar a igualdade, lutar por direitos e desafiar a injustiça. Sim, nossa fúria nos une. Conectadas pela solidariedade, compartilhamos experiências e nos juntamos para enfrentar as barreiras sociais e a opressão. Chega de abafar esse sentimento. Bora transformar a raiva em impulso. 

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