Malhar ou não malhar, eis a questão - Mina
 
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Malhar ou não malhar, eis a questão

Manuela Dias narra a luta mental que trava de manhã antes de encarar a musculação. Impossível não se identificar, principalmente se você malha apenas por necessidade

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Aos 46 anos, estou convencida pelas dores aqui e ali de que, sem músculos, não poderei seguir. Isso me atira em um novo problema: preciso malhar. Veja bem, não estamos falando de fazer caminhadas, jogar um tenizinho de vez em quando, aquela yoguinha gostosa de manhã ou de nadar em dias aleatórios ao longo do ano. 

Não. Chegou a hora de puxar ferro, com data e hora marcada. Empurrada pelas circunstâncias, arrumei um personal. O abençoado está encarregado de chegar na minha casa duas vezes por semana, aula começando às 8h30. Parece pouco, né? Vai fazer!

(05h50)

Eu acordo cedo. Às vezes, antes das 6:00. Quando abro os olhos, começa uma intensa discussão dialética na minha cabeça.

(06h00)

– Vou desmarcar, muito trabalho. Hoje não dá.

– Dá sim, é uma hora só.

 Fico feliz de ter me convencido, mas…

(06h20)

– Não, acho que vou desmarcar mesmo… Estou muito cansada hoje! Acha que é brincadeira? Filha, novela, minissérie, casa… Eu sou uma só, hoje não dá pra malhar.

A liberdade advinda de desmarcar um compromisso de última hora invade todo meu ser! Que maravilha ser uma pessoa livre! Autônoma! É isso! Sem academiaaa!!!

(06h45)

“Quem faz o que quer, não faz o que prefere” –  Paramahansa Yogananda me sussurra ao longe.

– Putz, é verdade… Eu quero não malhar, mas eu prefiro malhar! Vou malhar.

 Boto a roupa de ginástica, soterrada pela mesmice da lycra.  

(07h00)

– Mas, assim, Paramahansa Yogananda não escreve novela, né, meu amigo? Ele está lá no monastério dele tranquilo, meditando, pá, só no mantra… E eu estou aqui e a casa colada na minha está em obra… Vai malhar com esse barulho dos infernos. Vou desmarcar. Está d e c i d i d o! Uhuuu!

Pego o telefone para desmarcar. Nossa, que delícia procurar o telefone do personal pra desmarcar…

– Se desmarcar agora, vai ter que pagar do mesmo jeito. Não tem respeito pelo seu dinheiro não?

– Tenho, mas eu não quero! É isso. Eu pago as minhas contas e não quero malhar hoje. Eu pago pra não malhar hoje! Quanto custa não malhar hoje?

– Beleza, vamos de relaxante muscular então… Porque a lombar, né? Está castigada. Quer continuar a escrever 12 horas por dia? Só fazendo exercício, minha filha, está pensando o quê? Não lembra do que o seu médico disse? Mas… você que sabe.

– É verdade… É o maior privilégio poder fazer exercício, ter uma pessoa qualificada me dando aula… Gentchy, tô doida! Vou malhar.

(07h15)

– Será… assim… sério… Será que um diazinho fazer tanta diferença?

– Toma vergonha nessa cara!! Pra fazer as coisas pros outros você não tem preguiça. Mas quando é pra você, começa com isso! Vai malhar, sim!

– Inferno! Olha o tanto de trabalho, é minissérie, é novela… E o pediatra? As coisas da casa? Organizou o escritório? E você está cansada, não está? Hein? Hein? Desmarca essa tortura!

(8h00)

De seis da manhã até às oito, essa intensa batalha entre desculpas pra desmarcar e razões para manter o compromisso que assumi de cuidar de mim não para. Até que… blim-blom! Só com o som fatal da campainha acaba luta: vou malhar.

Quando termina a aula, a inigualável sensação de dever cumprido invade o meu dia. São 9:30 e eu fiz tudo que eu tinha que fazer. Agora é só tocar a novela, a minissérie, a parada dos orgânicos, agenda de Helena… mas pelo menos: EU JÁ MALHEI! Bom dia!

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