Os mantras da Oprah Winfrey que reverberam em mim - Mina
 
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Os mantras da Oprah Winfrey que reverberam em mim

Sim, nossa colunista Letícia Vidica viu a Oprah Winfrey ao vivo. Realizou um sonho e ainda fez uma longa viagem pelo autoconhecimento enquanto escutava a apresentadora. Aqui ela compartilha aprendizados e reflexões

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Na realização de mais um sonho, daqueles pedidos que você faz ao universo silenciosamente e ele te responde, fui convidada para assistir à entrevista de Oprah Winfrey para Taís Araújo  no evento Legends in Town, em São Paulo, na quarta, 10 de abril.  Eu estava extasiada, animada e ansiosa para ver de pertinho um dos maiores ícones da comunicação mundial e uma grande referência para pessoas pretas jornalistas e comunicadoras, como eu. Ela é realmente uma pessoa que miro na minha jornada.

‘E com vocês, Oprah Winfrey’. Demorei um tempo para entender e materializar que aquilo estava acontecendo, era real e eu estava ali. Bastou ela se sentar e começar a falar que os socos no estômago vieram, as lágrimas caíram dos olhos, tudo começou a fazer sentido e os gatilhos vieram aos montes.  A apresentadora usou todo seu tempo de fala para compartilhar algumas das suas várias filosofias de vida com frases impactantes e reflexivas. Quase que numa terapia em bando, Oprah nos cedeu por um hora alguns dos seus mantras de vida. A seguir, vou compartilhar alguns que fizeram sentido para mim e explicar o porquê para que possam fazer sentido a vocês também. Então, vamos embarcar nessa comigo?

Mantra da Oprah: “Você não se torna o que você deseja. Você se torna o que acredita que é possível”

O gatilho que deu em mim: A gente só realiza aquilo que um dia sonhou. Eu sempre digo isso. Por isso, devolver o poder dos sonhos para aqueles que tiveram seus sonhos roubados ao longo da História –  como o povo preto – é tão importante. Hoje realizo muitos dos meus sonhos de criança justamente porque um dia sonhei. 

Dividindo um segredo aqui: tem uma foto minha aos 4 ou 5 anos segurando um ursinho que eu chamo de Lelezinha, porque ali está a Lelezinha sonhadora. E, muitas vezes, converso com aquela Lelezinha que está dentro de mim porque, sim, ela sonhou muito para me trazer até aqui. 

“A minha força veio de acreditar.” Assim foi pra Oprah , assim é pra mim e quero que seja pra muita gente. Já diziam que nós “somos os sonhos dos nossos ancestrais”. Eles sonharam um dia, tentaram e estamos aqui realizando. Defendo a importância da representatividade para que, ao ver alguém parecido com a gente em certos lugares, a  gente acredite que é possível chegar lá. Sonhe com isso, mas sonhe muito. Porque temos direito ao sonho.

Mantra da Oprah: “Eu não estou sozinha. Tenho a força e a presença de dez mil ancestrais”

O gatilho que deu em mim: “Eu não ando só”. Essa é mais uma filosofia que carrego comigo, pois me ajuda a saber para onde estou indo. Sempre me pego pensando nos meus antepassados. Por ser negra, não consigo voltar tanto assim na minha árvore genealógica. Apesar disso, sempre penso que alguém teve que resistir muito para que eu chegasse até aqui. A herança do povo preto é a resistência. 

Nesse meu retorno ao passado, sempre sinto a presença da minha bisavó materna, Dona Albina. A vó Bina. Uma mulher que conheci mais no fim da sua vida – já ao começar a perder a consciência –  mas que sinto que conheço muito bem histórias que minha mãe, tias e aós contam sobre ela. Eu converso com ela e tenho certeza que ela é a líder desse meu exército espiritual. 

“A coisa mais importante é entender quem eu sou, de onde eu vim. O que me fez acreditar que eu teria sucesso foi ler sobre aqueles que me antecederam. Onde estou tem a ver com as pessoas que me antecederam”, disse Oprah. Muitas vezes, pessoas pretas ainda são únicas em certos espaços, o que não é fácil. É exaustivo, é opressor, é desgastante, quase não conseguimos respirar. Mas o que faz com que ‘mesmo assim a gente se levante’, como dizia a poetisa Maya Angelou – grande amiga de Oprah diga-se por passagem? É justamente saber que não estamos sós e que carregamos o bastão daqueles que vieram antes de nós para entregar para aqueles que virão depois.

Mantra da Oprah: “É importante que você seja líder da sua própria vida, do seu próprio destino”

O gatilho que deu em mim: Da minha vida, cuido eu. Essa frase curta, simples, direta e de conotação ríspida é a maior de todas as verdades. Você nasceu pra isso, para ser CEO do seu próprio destino. Ninguém mais tem a obrigação de fazer isso.  O que não significa que você não precise de ninguém, não possa pedir ajuda se precisar ou que seja egoísta. 

Mas temos que entender que somos responsáveis pela nossa vida e pelas escolhas que tomamos nela. Com total noção das consequências dessas escolhas. Se não tomarmos posse das nossas vidas, quem vai tomar? Só você sabe o que quer, para onde quer ir e com quem quer estar.  Assim como passa a saber, com a maturidade dos anos, aquilo que não quer mais, o que não faz sentido. Por isso, tomar as rédeas da nossa vida e das nossas decisões é tão importante.

Mantra da Oprah:  “Educação é a porta da liberdade”

O gatilho que deu em mim:  A educação quebra o ciclo de pobreza, muda trajetórias de famílias inteiras e é o que nos dá acesso de fato. Sou fruto disso. Contrariando todas as estatísticas de vida para um homem negro nascido na década de 60, meu pai se formou na faculdade na década de 80 (inclusive, eu estava lá em sua formatura). De todos os outros caminhos impostos e possíveis para ele, seu Benedito escolheu o da educação. E esse caminho mudou a história da nossa família – da minha mãe, a minha e a dos meus irmãos.

Educação sempre foi um valor lá em casa. E na casa de muitas famílias negras também.  A frase mais dita nesses lares é “estude, meu filho”. E não é à toa. Sabemos que estudando, com diploma na mão, sendo os primeiros de muitos a entrar numa universidade, estamos mudando não só a nossa trajetória, mas a de nossas famílias. Educação é uma das formas mais justas e necessárias para começar a reparação histórica que precisamos ter. Talvez isso te faça lembrar ou entender um pouco mais sobre as cotas – afirmativas, sociais e raciais.

Mantra da Oprah: “A  intenção é uma religião pra mim. É a intenção que vai levar ao resultado real”

O gatilho que deu em mim: Anos atrás, em uma das minhas várias consultas de tarô, escutei: “você não tem que perguntar o porquê das coisas mas o para quê”. Aquela frase mudou a minha vida. Diante dos desafios da minha vida, sempre pergunto: para quê? E mesmo que ainda não saiba a resposta, pensar que existe um propósito maior me dá um alívio danado.

Tudo na vida tem intenção e deve ter. A fala de Oprah me provocou a complexificar essa pergunta. “Para que eu estou fazendo isso?”, “para que eu vou aceitar esse trabalho?”, “para que estou correndo tanto feito uma louca?”, “para que eu estou aqui hoje ouvindo Oprah depois de ter desejado isso ao Universo?”. E aqui Oprah novamente: “Vivam suas vidas com propósito. É o que te leva para o terreno mais alto”.

Mantra da Oprah: “A arte que você oferece pro mundo é um serviço. Você não faz isso por si. Faz isso como uma oferenda pro mundo”

O gatilho que deu em mim:  Oprah Winfrey apresentou um programa líder de audiência por 25 anos na TV americana. “Eu sempre perguntava pra Deus como podia ser usada para servir alguma coisa muito maior do que eu mesmo. Aquele programa era uma oferta”. Entender que aquilo que a gente faz na vida – seja o que for – é um serviço pro mundo, muda tudo. Esse propósito é como uma força maior para que você se levante todos os dias e saia de casa para fazer o que você faz. 

Ouço muito: “não pare, continue, só vai”. Poderia perguntar para onde estou indo, lamentar que, às vezes, é difícil continuar, me acomodar no conforto de parar, mas ouço aquela voz interna, que me estimula a seguir porque não é apenas por mim. Tem algo maior. Tem gente vindo na rabeira desse foguete, sabe? Daí, me reergo como bambu, que enverga, mas não quebra, – como dizia meu avô Vicente – e sigo. 

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