Viola Davis: 5 lições que aprendemos na entrevista à Oprah - Mina
 
Nosso Mundo / Reportagem

5 lições preciosas para aprender com Viola Davis

As trocas entre a atriz e Oprah no especial da Netflix são repletas de aprendizados que podem transformar a vida de outras mulheres negras, principalmente em relação à autoestima

Foto: Huy Doan/Netflix
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6 minutos |

-“Como se sente?”
-”Estou nervosa”
(um longo suspiro de ambas)

O diálogo de abertura da entrevista de Viola Davis à Oprah Winfrey, produzida pela Netflix, é de grande impacto para as mulheres negras – pouco habituadas ao amor, a falar sem serem interrompidas, a poder expressar sentimentos e a mostrar vulnerabilidade sem ter que pagar um alto preço por isso. Ao apresentar duas mulheres negras que atualmente estão muito distantes dos estereótipos aos quais nos habituaram – gritos, pobreza, violência, exaustão e subserviência –, o diálogo nos permite ver como realmente somos: humanas. Imediatamente entendemos o que se passa ali, um encontro entre irmãs. 

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Ainda que a pedra filosofal da entrevista seja o lançamento da autobiografia de Viola, Em busca de mim (Editora Record, 2022, R$ 49,90), o que a “entrevista de milhões”, como ficou conhecida, nos presenteia é com a possibilidade de projetar para nós uma vida prazerosa, apesar de todos os traumas e chagas deixadas pelo racismo aliado ao sexismo. E mesmo as memórias da atriz, permeadas por episódios de violência e uma infância marcada pela extrema pobreza, não são capazes de nos desviar dessa mensagem.

Na conversa comovente e encorajadora, o que Viola faz, ao gentilmente partilhar o caminho que fez para encontrar uma voz para si, é nós oferecer valiosas lições de como alcançar o bem-estar necessário para viver de forma plena e com propósito. Deixamos aqui cinco dos ensinamentos que aprendemos nessa pérola que é Oprah e Viola: Um evento especial Netflix

1. O racismo deixa marcas e é preciso encontrar formas de se livrar delas

A atriz de 56 anos acreditou que a ascensão na carreira a levaria, como em um passe de mágica, a descobrir o sentido da sua vida e dela poder gozar. Porém, ao contrário do esperado, já no topo, Viola foi empurrada para uma forte crise existencial. Em um dos mais comoventes trechos da entrevista, ela revela que nada foi capaz de fazê-la se desvencilhar da imagem da pequena Viola correndo dos ataques racistas dos meninos brancos da escola. “Essa é a lembrança que me definiu. (…) Eu nunca parei de correr, meus pés só pararam de se mover”, afirma. Viola precisou retornar às suas raízes para conseguir contar a sua própria história e enfim abandonar a imagem que aqueles meninos que a perseguiam tinham deixado sobre o seu passado. Foi sua escrevivência (tomando de empréstimo a expressão de Conceição Evaristo) transformada em livro que conseguiu livrá-la das marcas deixadas pelo racismo sofrido na infância. 

“Encontre pessoas na sua vida que te amem”

2. O amor é capaz de transformar nossas vidas

“Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor.  Essa realidade é tão dolorosa que as mulheres negras raramente falam abertamente sobre isso”, escreveu bell hooks no texto Vivendo de amor.  A potência coletiva desse sentimento é ponto central na conversa. Inclusive, o amor é percebido por Viola como vital para ter se transformado na celebridade mundial que é hoje. “Encontre pessoas na sua vida que te amem”, ressalta a atriz, “Ao amarem você por inteiro, até seus defeitos, o que essas pessoas fazem é lhe dar permissão de ser capaz de se amar”. 

Não à toa também a família, apesar da violência e da pobreza, recebe especial atenção em suas memórias. “Meu pai foi o primeiro homem que me amou e ele demonstrou isso todos os dias”, afirma. A filha Gênesis e o marido Julius são dois outros exemplos de como o amor foi fundamental na vida de Viola. “Ter uma filha te dá a oportunidade de viver por algo maior do que você”, sublinha sobre a adoção da menina. 

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3. Encontre a sua voz

Em outro trecho, a atriz confidenciou que só foi capaz de descobrir seu poder como mulher depois de ter encarnado a personagem Annalise Keating na série Como Defender um Assassino (2014). “Annalise Keating me livrou dos obstáculos que me impediam de perceber meu valor e poder como mulher. (…) Esse papel me libertou”, escreveu no livro. À Oprah, Viola explica que isso se deu porque a personagem era tudo o que as mulheres negras, inclusive ela, costumam escutar que não são. “Você não é sensual. Ninguém vai achar você atraente. Você não deve estar transando, quem a desejaria? E é por isso que foi libertador, porque não é a verdade.” Poder encontrar a própria voz e sentir algum nível de aprovação na pele de Annalise foi um momento crucial na jornada que a atriz decidiu emplacar para perseguir a felicidade. 

4. A coragem é a verdadeira cura 

Não são poucos os momentos da entrevista no qual Viola deixa explícitas as dificuldades que enfrentou na vida até sua consagração. Ela chega a dizer que, por muito tempo, acreditou que era amaldiçoada “por ser preta demais, feia demais ou pobre demais”. A virada veio com muita terapia, o que ajudou a compreender que não podemos mudar o passado, mas transformar o futuro é vital. Antes disso, o encontro com a atuação aos nove anos de idade foi fundamental para que suas dores começassem a ser curadas. “Tudo o que eu não podia expressar na minha vida, se expressasse no palco, era comemorado”, relembra. Quando pensou em desistir de ser atriz para se tornar professora por questões financeiras, Viola caiu em depressão, mas sua irmã Deloris a fez ver que o risco valia a pena. “Comecei a entender a citação de Anne Lamott que diz: ‘Toda coragem é medo dito com preces’. Foi quando entendi que o medo não iria embora”, e seguiu em frente, trilhando sua trajetória de sucesso. 

“Eu precisava de um sonho como eu precisava de comida e água”

5. Propósito como habilidade de manejar a própria vida

A habilidade de Viola de descrever seus próprios sonhos como o alimento necessário à vida é inspiradora. O sonho de ser atriz, ela explica, era maior que seus medos. “Eu precisava de um sonho como eu precisava de comida e água. Aquele sonho não era só um objetivo. Aquele sonho era minha saída. Era minha salvação.” E ao que parece, depois de uma longa jornada de autoconhecimento, a atriz conseguiu encontrar esse propósito e contar sua história. A entrevista termina com Oprah perguntando à companheira: “Pelo que você, Viola Davis, está vivendo agora?”. Ao que a atriz responde, contendo o choro e se permitindo algumas pausas: “Em primeiro lugar, estou vivendo pela minha paz e minha alegria. Estou mesmo. Eu quero ser feliz na minha vida. E eu sei que a felicidade é uma jornada. Não é um destino. A vida é salpicada de coisas ruins, mas quero sentir um pouco de paz e alegria na minha vida, com certeza.”

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