Influencers (exaustas) por obrigação - Mina
 
Seu Trabalho / Reportagem

Influencers (exaustas) por obrigação

Se expor nas redes sociais não é pra qualquer um, mas se tornou uma demanda do marketing digital para captar mais clientes e fazer o negócio crescer

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A paulistana Juliana Iorillo é formada em relações públicas, mas decidiu migrar de área ao entender que se expor nas redes sociais não era sua praia. Cursou nutrição e se deparou, então, com um cenário desesperador: para conseguir alavancar seu nome como profissional, teria de investir tempo e imagem nas redes. “O Instagram é hoje o que antes era o cartão de visita”, explica a especialista em Personal Branding pela University of Virginia, Tatiana Fanti. “Já deixaram de me contratar porque eu não tinha material suficiente no Instagram. Os potenciais clientes ficaram inseguros e escolheram outra profissional”, concorda Juliana (@julianaiorillo.nutri).

CEO da Prima Donna, uma empresa de comunicação e empreendedorismo que atende exclusivamente marcas fundadas por mulheres, Fanti afirma que o cenário não se restringe à área da saúde, como é o caso de Juliana: hoje, o primeiro passo na hora de contratar um profissional é dar aquela checada no Instagram para ver se o trabalho é bem feito. Juliana ainda tem poucos seguidores, mas já mudou a cara de seu Instagram visando fazer o número crescer. Ela é uma entre tantas mulheres que precisam duplicar a carreira para se adequar à nova forma de atrair clientes: as redes sociais. 

Networking é tudo (mas cansa)

Uma pesquisa realizada pela empresa Opinion Box mostra que 79% dos brasileiros que usam Instagram acreditam que a rede social aproxima pessoas e empresas. E esse número só cresce. O relatório “Digital – Global Overview Report”, da We Are Social, mostra que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de tempo nas redes sociais: cada usuário gasta, em média, 3 horas e 46 minutos por dia nelas.

A necessidade de adequação criou o fenômeno “influenciadores por obrigação”, que assombra quem não se sente à vontade em postar, mas se vê obrigado. É o caso de Juliana, mas não só dela. A cozinheira Luana Omori, 34, faz o mesmo e se sente constantemente cansada. Ela tem duas filhas, e considera sua jornada, quádrupla: casa-filhos-trabalho-divulgação. “Posto quando minhas filhas estão na escola. Ter que alinhar a rotina de dona de casa, mãe e empreendedora é cansativo, mas sei que, na minha área, não tem jeito: as pessoas querem ver as redes sociais”, diz ela que está nas redes com o @benditaeventosemdomicilio. 

Alguém achou que a gente tinha tempo sobrando?

“Os perfis nessas plataformas se tornaram elemento fundamental de qualquer negócio”, afirma a especialista em Personal Branding. Segundo Tatiana, a tendência de marketing atual é totalmente voltada ao digital, e “isso quer dizer que qualquer marca que deseja alcançar um público maior, precisa, sim, ter redes sociais que conversem com o público-alvo dela”.

A necessidade de postar para divulgar o trabalho só aumenta as funções da mulher

Doutora em “Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano” e psicóloga do Instituto Vita Alere, Karen Scavacini avalia o fenômeno como algo que afeta mais potencialmente mulheres, e não porque a demanda de postagem é maior para elas. Mas sim pelo tanto de tarefas que elas precisam equilibrar. “As mulheres não param. É uma questão da sociedade em geral, e agora a necessidade de postar para divulgar o trabalho entra nas tantas funções do dia a dia delas. Quanto mais tarefas uma mulher realiza sozinha, maior a possibilidade de exaustão física, emocional e expectativas irreais, que geram frustração e inadequação”, explica.

“Essa necessidade de estar ativa nas redes para provar que você é um bom profissional pode ser muito difícil para muitas pessoas. E, além disso, é sempre importante lembrar que ter um bom marketing não significa ser um bom profissional. Já é provado que o uso excessivo de redes sociais pode aumentar o estresse e diminuir a qualidade de vida, então tem que haver um balanceamento”, afirma a psicóloga.

Fique de olho na sua autoestima

A personal trainer Jessiele Vasconcelos (@jessielevasconelos) está há dois anos na intensa rotina dividida entre academia e Instagram. Ela entendeu que o conteúdo nas redes era uma demanda dos clientes, e tentou se adequar. “Não é fácil se expor na internet sabendo que muita gente vai julgar. Fico receosa sobre o que os outros acham de mim.”

Se comparar a outros influencers afeta a autoestima e traz sensação perigosa de frustração

E essa comparação também pode trazer problemas como o FOMO (Fear of Missing Out, ou o medo de estar perdendo algo), de acordo com a psicóloga. Muitos profissionais pensam que devem estar conectados o tempo todo e que, se não estiverem, vão perder potenciais clientes. Se comparar com quem posta o tempo todo é perigoso: afeta a autoestima e pode trazer uma sensação perigosa de frustração”, explica Karen.

Exagero é receita para burnout

A rotina de publicações de Jessiele é intensa, e se adequa ao pouco tempo livre que lhe sobra entre as aulas, que acontecem entre 6h e 21h, tendo um intervalo curto durante a tarde. “Esse intervalo dura umas quatro horas, e é quando faço tudo que preciso: almoço, treino, tomo banho, crio os treinos dos alunos, fico com meu cachorro e produzo conteúdo. Já treino pensando em como aproveitar aquilo. A cabeça não para.”

“É necessário sempre rever essa expectativa de estar sempre ativa, de estar sempre acima da média, entender onde está essa ferida para não caminhar para um burnout”, alerta Karen.

Se organizar pra evitar o Tsunami

Com uma carreira minimamente consolidada, mas sem familiaridade com a internet, em 2013 a médica dermatologista Carla Vidal (@clinicacarlavidal)  contratou um time para cuidar das suas redes sociais. A equipe faz a estratégia – algo que começou agora, pela necessidade do mercado –, mas ainda assim ela tem de gravar vídeos e dedicar tempo a cumprir o que eles sugerem.

É sempre necessário encontrar um equilíbrio e se organizar com as postagens 

“A maior dificuldade é o espaço na agenda para a produção de vídeos e aprovação dos conteúdos que irão ao ar. É um trabalho necessário, mas que pode tirar da minha agenda o horário de atendimento de um paciente, que é meu maior compromisso como médica”, diz.

“É sempre necessário encontrar um meio termo. Trabalhar bem, divulgar bem. Para evitar um estresse exacerbado, uma dica é criar um cronograma de posts, por assunto, periodicamente. Definir quando postar, o que vai ser postado, e deixar tudo meio preparado. Assim, é mais fácil de se organizar sem deixar que o trabalho de divulgação seja mais um tsunami na vida dessas pessoas”, diz Tatiana Fanti, especialista em Personal Branding.

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