"Fui pega fingindo no sexo e isso me abriu pro prazer" - Mina
 
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“Fui pega fingindo no sexo e isso me abriu pro prazer”

Antes de se tornar educadora sexual, houve um tempo em que Mari Williams mal sabia o que ela mesma gostava no sexo, até que a pergunta sincera de um rapaz mudou a sua vida

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Essa é a minha historia favorita de sexo, porque é por conta dela que todas as outras puderam existir. Começa com a narrativa clichê de um de um primeiro date: nos encontramos pelas redes sociais por meio de amigas em comum. Curtida vai, DM vem, marcamos de nos conhecer. De primeira, já combinamos na casa dele, o tempo era chuvoso e seria um caos encontrar vaga em qualquer lugar agradável. 

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Cheguei e logo de cara tudo já estava uma delícia. Papo bom, cerveja gelada, fora a visão maravilhosa diante de mim: realmente era bonito que nem nas fotos. Depois de muita conversa e risadas, começamos a nos beijar no sofá e, com o calor subindo e o corpo pedindo, migramos para o quarto.

Aí é que entra nosso climax (infelizmente, nao o sexual, mas o narrativo mesmo): Sabe quando, durante o sexo, você pensa em tudo menos no que de fato está acontecendo? Quando os boletos ou o “será que ele ta gostando?” nos ocupam mais a mente do que o deleite do que está acontecendo? Pois é.

Estavamos la reproduzindo o “roteiro padrão” do sexo. Quando chegou na parte da penetração, era tudo, menos aquilo que se passava na minha mente. Lembro de pensar “Nossa, que horas será que são? Deve estar tarde né? Nossa, não para de chover, vai estar uma fortuna o uber, será que eu durmo aqui?” e por aí vai. Enquanto isso, como uma boa atriz graduada que sou, fazia caras e bocas que pensava serem de prazer e super convincentes. Só que não.

Vem cá, o que você gosta no sexo?

Contrariando todas minhas expectativas de ser uma Fernanda Montenegro na cama, em certo ponto do sexo ele diminui o ritmo, olha pra mim e diz: “Mari, você não ta mais aqui, né? Parece tá meio distraída… Fica tranquila, se não tiver com vontade, a gente pode só ficar conversando, e volta depois se tiver vontade.”

Foi aí que eu congelei e, rapidamente, como num filme acelerado, três sensações tomaram conta de mim: 

  1. Vergonha: “Meu deus, EU FUI PEGA FINGINDO! Que constrangimento que ele percebeu. Como assim eu não soube disfarçar??? Onde eu me escondo?”
  1. Paixão: “Estou completamente apaixonada por esse homem! Que sensível! Que carinhoso! Nunca ninguém tinha notado que era tudo encenação…”
  1. Aceitação: “Realmente, não está sendo tão gostoso e eu não estou presente. Vamos ficar mais tranquilos, quem sabe a vontade volta…”

Paramos tudo, nos sentamos, até que ele, calmo, me pergunta: “vem cá, o que você gosta no sexo?E foi aí que congelei mais uma vez! Óbvio que essa pergunta já me tinha sido feita, mas nunca com tanta calma e sinceridade como senti vindo dele.

Normalmente acontece no meio do sexo, enquanto você já está exausta em uma posição qualquer e acaba dizendo a primeira coisa que passa pela sua cabeca tipo “ah sei lá, de quatro” (sendo que talvez você deteste ‘’de quatro”). 

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Enquanto ele olhava (meio tímido, meio curioso) nos meus olhos esperando uma resposta, tudo que eu via era uma grande tela azul. Nada… não me vinha, nada. Exausta – e já imensamente arrependida – de fingir, respondi também olhando fundo em seus olhos: não sei. 

Não me lembro o que aconteceu depois disso, talvez eu tenha ido embora, talvez a gente tenha tentando de novo… A questão é que, a partir do momento em que pisei pra fora daquele apartamento no Alto de Pinheiros, decidi: eu ainda não sei o que eu gosto no sexo, mas eu vou descobrir.

Passei tanto tempo tentando agradar os homens na cama que nunca me atentei ao que eu, de fato, gostava

E foi por conta desse encontro, dessa noite específica que o jogo completamente virou, e uma nova fase da minha vida pessoal, sexual e profissional começou. Percebi que passei tanto tempo buscando maneiras de agradar aos homens na cama que nunca me atentei, de fato, ao que EU gostava, o que EU queria. 

Hoje, trabalhando com sexualidade, sempre que posso levanto a seguinte pergunta: Será que você está sentindo prazer porque realmente o sexo está gostoso, ou porque você está conseguindo fazer exatamente o que esperam que você faça? Corresponder às expectativas e sair como “boa de cama” é uma delícia, mas você é boa de cama pra você, ou só pros outros?

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Anos depois dessa noite, após muitos cursos, estudos e desenvolvimento de autonomia corporal, brinco que se me perguntarem agora “O que você gosta na cama?” a minha resposta seguiria a mesma: Não sei. Mas agora esse “não sei” nao é por falta de autoconhecimento, mas porque entendo que cada sexo trás uma vontade diferente

São encontros diferentes, momentos diferentes e, mesmo um corpo (que muda a cada dia) diferente. Não é porque gosto de fazer A com uma pessoa que vou querer também com outra, nem porque fiz num dia que vou querer sempre, e tá aí uma das coisas mais deliciosas da sexualidade: ela é presente, fluida e infinita. 

Fingir é a pior coisa que podemos fazer, não só pelo outro, mas pelo nosso próprio prazer

Quer descobrir o que você realmente gosta? Esteja atenta aos sinais do seu corpo, exercite a mente para não se distrair e lembre-se que o seu prazer é também sua responsabilidade. Proponha sem medo, investigue com calma e entenda que é uma jornada. Uma boa pergunta pra se fazer é pensar no negativo: O que eu não gosto no sexo? Isso já vai te dar caminhos para começar a mapear o seu prazer.

E que a gente aprenda juntas de uma vez por todas: fingir é a pior coisa que podemos fazer, não só pelo outro, mas pelo nosso próprio prazer. Nesse caso, rendeu, sim, uma boa história e uma maravilhosa jornada, mas escutem meu conselho: melhor evitar…

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