Fobia, violência, neurodivergência: Inteligência Artificial acolhe e ajuda a tratar - Mina
 
Nosso Mundo / Reportagem

Fobia, violência, neurodivergência: Inteligência Artificial acolhe e ajuda a tratar

Da modulação de vozes irritadas em call centers à reinvenção de terapias tradicionais, a IA está atualizando o conceito de cuidado, criando acolhimento, superação e bem-estar em cenários marcados pelo estresse

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Muita gente já percebeu que a Inteligência Artificial pode ser fofa e gentil, basta você fazer alguns elogios que ela te devolve. Pois o que parecia ficar apenas na área da brincadeira, tem ganhado espaço para acolhimento real. Hoje, existem diversas ferramentas de IA desenvolvidas para amparar pessoas em situações que exigem sensibilidade. Elas têm se mostrado boas aliadas de tratamentos convencionais.

A IA transforma tons agressivos em vozes mais calmas

Em um mundo onde as pressões diárias e os desafios emocionais podem ser avassaladores, a IA se apresenta como uma aliada inesperada. Não substituindo o toque humano, mas complementando-o. Da modulação de vozes irritadas em call centers à reinvenção de terapias tradicionais, a inteligência artificial está atualizando o conceito de cuidado – criando oportunidades de acolhimento, superação e bem-estar em cenários antes marcados pelo estresse. Veja alguns exemplos:

Leveza no call center

Atendentes de call centers lidam frequentemente com interações tensas, marcadas por tons de voz exaltados e clientes irritados. Afinal, quando o serviço falha, muitas vezes de forma repetitiva, essa é a única forma de contato com as empresas – e várias pessoas acabam descontando sua frustração neles.

No Japão, uma iniciativa da SoftBank, gigante multinacional conhecida por seus investimentos em tecnologia e inovação, pretende mudar esse cenário com um filtro de IA que modula as vozes dos clientes antes que sejam ouvidas pelos atendentes. Esse sistema transforma tons agressivos em vozes mais calmas, diminuindo o impacto emocional negativo sobre os funcionários.

O ideal seria que as pessoas tratassem com mais respeito os atendentes de telemarketing. Por mais frustrado que o cliente esteja, não é justificável praticar abuso verbal com alguém que está apenas fazendo o seu trabalho. No entanto, como esse é um cenário comum, a ferramenta chega para reduzir o estresse no ambiente de trabalho, aliviando a pressão. 

Acolhendo vítimas de violência

Uma das principais barreiras que as vítimas de violência de gênero enfrentam para buscar ajuda é o medo e a vergonha. Para auxiliar nesse cenário, a IA tem sido usada para criar assistentes virtuais que oferecem suporte emocional, informações práticas e orientação de forma anônima. A interação é por meio de mensagens de texto, utilizando algoritmos avançados para interpretar as necessidades de quem as procura e oferecer respostas rápidas e personalizadas.

Entre as iniciativas de destaque estão os chatbots Violetta, Sophia e Sara, cada um operando em diferentes países. O Violetta foi lançado no México durante a pandemia de Covid-19 por Floretta Mayerson, Sara Kalach, Sasha Glatt e Carla Pilgram, e já apoiou 260.000 usuárias anônimas. O Sophia, desenvolvido pela ONG suíça Spring ACT, está ativo no Peru desde 2022, oferecendo suporte em espanhol e quechua. Já o Sara foi implementado na República Dominicana em 2023, adaptado ao contexto local para auxiliar mulheres, meninas e adolescentes vítimas de violência de gênero. 

Por serem acessíveis 24 horas por dia e funcionarem em dispositivos móveis, essas assistentes virtuais garantem suporte imediato e prático para quem precisa. Orientações claras sobre os próximos passos, como acionar autoridades ou acessar abrigos de proteção, podem ser fornecidas em tempo real, salvando vidas em situações de emergência. Outra vantagem é o anonimato, que elimina a pressão de se expor ao julgamento de atendentes reais. Isso permite que as vítimas falem abertamente sobre suas experiências. Além disso, os chatbots são projetados para transmitir empatia e acolhimento, criando um espaço seguro para quem precisa de apoio emocional.

Tratamento de fobias

O tratamento de fobias muitas vezes exige exposição gradual ao objeto ou situação que causa medo. A integração de Realidade Virtual (VR) com IA está revolucionando essa abordagem. Ferramentas como a Zenora utilizam cenários virtuais controlados para ajudar os pacientes a enfrentar seus medos de forma segura. Com a IA ajustando os níveis de dificuldade em tempo real, o paciente progride no ritmo certo, evitando traumas e promovendo avanços mais consistentes. 

Por exemplo, alguém com medo de altura pode começar observando uma varanda virtual a poucos metros do chão e gradualmente experimentar situações mais desafiadoras. Além disso, os dados coletados durante as sessões ajudam os terapeutas a compreender melhor os gatilhos emocionais e personalizar o tratamento. Isso torna a terapia mais eficaz e acessível, mesmo para aqueles que vivem longe de centros especializados.

Educação inclusiva

A dislexia afeta milhões de estudantes, dificultando o aprendizado e a leitura. No estado de Maryland, nos Estados Unidos, um software chamado Dysolve, movido por IA, está transformando a forma como os alunos enfrentam esse desafio. O programa analisa os padrões de leitura e cria exercícios personalizados para melhorar a fluência. Com o tempo, a ferramenta aprende as necessidades específicas de cada estudante, ajustando as atividades para maximizar o progresso.

Essa abordagem individualizada ajuda a reduzir a frustração associada às dificuldades de aprendizagem, promovendo confiança e autoestima. Uma forma de contribuir para que estudantes com dislexia não apenas acompanhem seus colegas em sala de aula, como também ampliem suas perspectivas de futuro. Ferramentas como esta tornam a educação mais inclusiva, ao remover barreiras que muitas vezes limitam o desenvolvimento de talentos e habilidades.

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