Muitos exercícios não foram criados pensando no corpo feminino
É por isso que nem todo tipo de prática traz os benefícios necessários para o que o corpo da mulher precisa. Vem que nossa colunista explica
Mas agora eu vou ter de fazer musculação? Putz, vai. Aliás, já tinha que ter começado, desculpa te dizer assim, mas quanto antes melhor. Se você gosta de viver, convém cuidar do corpinho que te carrega por aí. Sabendo que os efeitos de atividades físicas são bastante específicos nos corpos femininos, ainda mais.
Entre a perimenopausa e a menopausa nosso corpo vai perdendo musculatura graças a eles, os hormônios “mucho locos” – no caso, a queda dos níveis de estradiol, um tipo de estrogênio. Com menos estradiol, menor a capacidade regenerativa dos músculos, menor a eficiência das fibras musculares e maior a perda óssea. Dureza.
“Muitos programas de alta intensidade foram desenvolvidos sem ter em mente a fisiologia feminina”
Músculo tem memória. Os meus começaram a criar a deles na adolescência. Fui uma garota atleta que jogou vôlei nas décadas de 80 e 90, em que estavam no auge a ginástica aeróbica e as polainas – sobe o som. Exercício físico pra mim sempre foi sinônimo de prática de esporte. E esporte pra mim era o vôlei. Até ensaiei uma malhação rotineira, mas durou pouco. Entendia academia como um templo hedonista meio desprezível, não curtia esse negócio de ficar analisando o físico no espelho. Fora isso, estava muito ocupada trabalhando horários estranhos e levando uma vida meio desregrada e pouco ativa fisicamente, mas muito movimentada socialmente – o que exigia bastante disposição física, verdade, mas aos 30 e poucos ela não me faltava.
Pois os 40 chegaram, e com eles um desvio na coluna e algumas dores na lombar. Entendi que a brincadeira tinha acabado e eu precisaria SIM voltar a ter uma rotina de exercício físico se eu quisesse viver bem. Segui a máxima “procure uma atividade física de que você goste”, considerei meu histórico de atleta, puxei o quadríceps e fui atrás de outros 11 seres humanos e uma quadra. E encontrei. Animada, voltei a jogar como se fosse a Ana Moser, religiosamente duas vezes por semana e descendo a mão na bola. Resultado: lesão nos dois ombros e dores em várias articulações pelo corpo.
Várias consultas com a ortopedista e a fisioterapeuta depois, relembrei o óbvio: fortalecimento muscular é fundamental para praticar qualquer esporte. São os músculos que protegem as articulações e os tendões e nos dão sustentação e força para cortar no volei, e também para dançar, sentar, subir degraus e até levantar do sofá e tomar banho. Trata-se de fazer uma boa manutenção da carcaça que nos permite viver por este mundo.
No livro O Cérebro e a Menopausa (editora Harper Collins), a neurocientista-celebridade Lisa Mosconi lista uma série de impactos da prática de atividade física nos sintomas da peri e da menopausa. Exercícios aeróbicos, como caminhar, pedalar ou correr, melhoram a saúde metabólica e tendem a reduzir as ondas de calor. Já o fortalecimento muscular é eficiente na redução da ansiedade e na estabilização do humor.
“Treinar com peso livre, aparelhos de musculação ou faixas de resistência pode ajudar a ganhar massa muscular, estimulando a formação dos ossos e acelerando o metabolismo. Exercícios que usam o peso do corpo, como barras fixas, elevações de joelho, pranchas, avanços e agachamentos também fortalecem os músculos, ajudam na saúde óssea e melhoram a força e o equilíbrio do core.”
Me transformei na pessoa que temia: a que não pode mais viver sem musculação
O impacto na redução da ansiedade e no aumento da sensação de bem estar é popular. Mas não acabou a lista da Dra Lisa Mosconi, não:
- Menor risco de diabetes e doenças cardíacas (causa número um de mortes de mulheres com mais de 50 anos)
- Menos ondas de calor, já que os exercícios melhoram a capacidade do corpo de regular a temperatura
- Melhora na qualidade do sono (o que pra mim também é muito evidente);
- Melhora a memória (nem tão evidente)
- Melhora a densidade óssea (a perda óssea pode ser de até 20% nessa fase)
- Diminui o risco de demência
- Peso e metabolismo saudáveis, o que evita aumento da gordura abdominal (esse eu tô esperando ainda)
E sabe o que mais? Exercício de alta intensidade como spinning, hiit e boxe é benéfico, mas para os homens. “Nenhum desses programas foi desenvolvido tendo em mente a fisiologia feminina, muito menos levando em consideração qualquer fator envolvendo a menopausa. Eles foram criados tendo em vista um grupo demográfico muito específico, e os programas são vendidos como se fossem bons para todo mundo. A verdade é que eles não fazem bem para todo mundo”, escreve.
Para as mulheres, segundo Dra Lisa, o melhor é se exercitar com mais frequência em intensidade moderada.
Recentemente, fiquei um mês e meio sem fortalecimento muscular, tempo que durou a reforma do espaço que frequento. Quarenta e cinco dias. Seis semanas. Meu corpo sentiu duramente o golpe, com manifestações bem doloridas. Pois me vi chamando um brinde no jantar quando o celular apitou a melhor mensagem da semana: “academia liberada amanhã”.
Me transformei na pessoa que mais temia: a que entendeu que não pode mais viver sem musculação. A que recebe como votos de aniversário “muitos burpees”. E também a que coloca a própria mala no bagageiro do avião. E viva a creatina!
Para as mulheres, segundo Dra Lisa, o melhor é se exercitar com mais frequência em intensidade moderada. Fiquei surpresa. A médica diz que atividades de alta intensidade provocam aumento do cortisol, hormônio que já habita nosso corpo em altos níveis, e exigem maiores períodos de recuperação e sono, tempo de que nmão dispomos no nosso dia a dia.
Para ler:
O Cérebro e a Menopausa, Lisa Mosconi, Harper Collins
Para ouvir:
She’s a Maniac, Michael Sembello