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É fato: as mães gozam e, se não gozam, deveriam gozar!

Me intriga porque botar vibrador e mãe na mesma frase incomoda tanto. Vamos conversar sobre o que é "coisa de mãe"?

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Usar saia curta não é coisa de mãe? Dançar funk não é coisa de mãe? Falar de sexo não é coisa de mãe? O que é exatamente “coisa mãe”? Desde que fizemos na Mina uma postagem sobre o vibrador ser um ótimo presente de Dia das Mães, nos deparamos com a dificuldade das pessoas em aceitar que mães transam, mães sentem prazer e mães podem se beneficiar demais ao ganhar um vibrador. Isso me fez pensar nas pessoas que, por muitos anos, se surpreenderam com o fato de eu ter franjinha e filhos. Oi? Sim, lá em idos de 2008, aparentemente, a sociedade brasileira não conseguia botar franja bem curta e mães na mesma frase. 

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Assim como agora não conseguem pensar numa mãe usando um vibrador. Pois, sim: mães gozam (mesmo depois da menopausa) e o vibrador é um ótimo aliado pra isso. Como bem diz a psicóloga Ana Canosa, pessoa que admiro demais, em entrevista na CNN Brasil: “se toda mulher tivesse um orgasmo por dia, o mundo seria outro“. Pois foi pensando nisso que criamos essa campanha na Mina. A ideia era provocar a conversa mesmo e estimular o pessoal, especialmente as filhas, em investir no vibrador para o Dia das Mães. Mas, depois de tantos comentários dizendo que “as mães são santas” e que dar um vibrador “é uma ofensa” ou “uma intromissão”, me senti compelida a vir falar sobre os limites da relação entre mãe, filhas e filhos e o que ser mãe muda na mulher.

Mãe é só uma pessoa que escolheu procriar, de resto é igualzinha a qualquer outro exemplar da humanidade

Até hoje, quando as pessoas me veem dançando em cima de um balcão (sim, sou dessas) têm dificuldade de ligar o nome a pessoa. Como pode, né? Ter quatro filhos, uma enteada e rebolar desse jeito? Se pode, não sei, mas me acontece. Assim como tem mãe que passa meses viajando a trabalho e outras que deixam os filhos com os avós pra sair com o namorado. Tem mãe que cria banda de rock, outras que vivem em trisal e também aquelas que passaram pelo processo de readequação de gênero. Mãe é só uma pessoa que escolheu procriar, de resto é igualzinha a qualquer outro exemplar da humanidade. 

Não tem nada mais retrógrado do que pensar a mãe como um ser imaculado. E nada contra Maria, a mãe de Jesus Cristo. Mas precisamos separar o que é bíblico do que é humano, mães não foram feitas pra gerar e parir sem perder a virgindade, então, calma lá com as comparações. 

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E pra quem usa a palavra respeito, vamos lá: respeitar a mãe não tem nada a ver com tratá-la como assexuada. Alias, falar sobre sexo em família pode ser fundamental para evitar ISTs, gravidez precoce, anorgasmia, atrofia vaginal e outras questões de saúde feminina. Respeitar a mãe é tratá-la com carinho, coisa que muito marmanjo não faz, é ter paciência pra ensinar a usar o TikTok e acompanhá-la em exames ou programas gostosos. 

Papo sobre sexo com a mãe

Falar de orgasmo com a mãe é fácil? Claro que não. Fomos educadas a reprimir nossa sexualidade e isso vale em dobro para nossas mães. Ninguém nunca disse que quebrar tabu é algo simples. Dá vergonha, a gente fica tímida, dar o primeiro passo é difícil, mas garanto, pode ser libertador! E se elas não conseguiram falar sobre sexo com a gente quando éramos mais novas, porque vamos repetir esse erro? 

Para muitas mulheres adultas, é mais fácil dar o vibrador para filha de 18 anos do que para mãe. Claro, as jovens estão inseridas neste contexto, elas são da época em que com um clique e dois dias o primeiro bullet chega discreto pelo correio. São da geração em que aos 25 anos quem não tem um vibrador é que é estranha. E exatamente por isso eu pergunto: quem vai se beneficiar mais de ganhar um vibrador? A jovem onde essa realidade desce lisa ou a mãe que só de pensar nisso fica com vergonha? E a ciência já garantiu, ter orgasmo é bom pra todas elas, incluindo as viúvas, as de oitenta anos e as casadas há cinco décadas!

Porque não pegar na mão das nossas mães e trazer elas para esse novo mundo? 

Claro que não estou falando aqui de crianças comprando vibrador pra dar pra mãe. Estamos em terreno adulto: falando de mulheres adultas presenteando mães também adultas. Para quem tem filho pequeno recomendo comprar seu próprio bullet ou pedir pro maridão – aliás, marido que dá vibrador de presente ganha estrelinha dourada e um lugar no céu, certeza! Como eu já escrevi uma vez: o vibrador é o melhor amigo do homem!

Muitas mulheres com mais de 60 anos nunca usaram um vibrador e morrem de vergonha só de pensar no assunto. Dá pra entender, elas são de uma época em que as sexshops eram lugares quase insalubres e os consolos eram hiper-realistas com formato de falo inflado e veias saltadas. O mundo mudou, gente! Vibrador hoje é item que vai na nécessaire pra viagem, já sabemos que ele não compete com o marido ou namorado e que orgasmo é saúde. Então, por que não pegar na mão das nossas mães e trazê-las para esse mundo também? 

Quem não se sente à vontade, manda ver na florzinha e no caixa de bombom. Tá tudo certo, o que não dá é pra amputar um debate que versa sobre saúde e prazer só porque a turma parece estar na terceira série do fundamental. Cresçamos, as mães gozam e se não gozam, deveriam gozar!

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