Carolinie Figueiredo fala sobre corpo, carreira e liberdade - Mina
 
Seu Corpo / Arquivo Pessoal

Carolinie Figueiredo: “Minha geração foi ensinada que academia era lugar para mulheres fúteis”

A atriz e educadora parental Carolinie Figueiredo fala sobre a pressão que sofreu durante a vida para se encaixar no padrão e como conseguiu virar o jogo. Através de 5 fotos, conheça a jornada da moça que virou símbolo do movimento corpo livre

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Muita gente conhece Carolinie Figueiredo por causa de seu papel marcante na novela Malhação. Aos 18 anos ela interpretou a jornalista Domingas durante três temporadas (de 2007 a 2010). Mas muito antes de entrar na casa das pessoas como uma mulher empoderada em seu corpo fora do padrão (televisivo), Carol já fazia trabalhos publicitários. Aos 8 anos era a esperança da família pra sair do subúrbio. 

Hoje, aos 35, ela pondera tudo que passou nesses 27 anos de exposição. Celebra o carinho do público que recebe até hoje, mas faz questão de revelar a jornada que foi chegar à aceitação. “Eu não me reconhecia como uma mulher gorda, mas só me ofereciam papéis pra fazer ‘a gordinha'”, conta. 

Fora das telinhas, ela equilibra vários pratinhos: está em cartaz com a peça Mulheres que nascem com os filhos, tem um projeto chamado Seu corpo de Mulher, se dedica à educação parental e cria os dois filhos. Mexer nas fotos que ilustram essa entrevista fez Carol enfrentar o passado. “Meu corpo se transformou muito ao longo da vida. Olhando as fotos, parece que fui várias mulheres”. A seguir ela conta como lidou com todas as transformações, preconceitos e pressões através de 5 fotos. 

Aos 3 anos: desde muito nova, a atriz já era o centro das atenções da família

“Minha mãe me vestia como uma mini barbie”

Como uma princesinha. Era assim que Carolinie era tratada sendo filha única até os 10 anos. A atriz revela que sempre foi muito emperiquitada e que a mãe amava fazer penteados variados em seu cabelo. “Minha mãe me vestia como uma mini barbie. Hoje, vejo o quanto isso foi prejudicial porque dificultou que eu quebrasse alguns pactos de feminilidade. Tinha uma pressão para performar um estereótipo do que é ser mulher e eu queria correr, me sujar, brincar de carrinho”, conta. 

Carolinie fala que ser vista como barbie refletiu até pouco tempo atrás nos seus quereres da vida. “Essa coisa de ser educada para ter um casamento, para ter uma família. Coisas que são implantadas na gente desde a infância”, diz.

Criada na baixada do Rio de Janeiro, ela tem um carinho imenso pelo lugar onde a foto foi tirada, a casa da avó. Onde, inclusive, mora atualmente.  “Me emociona porque já morei aqui três vezes e cá estou novamente”.

Aos 8 anos quando já fazia alguns trabalhos comerciais

“Tinha uma expectativa de eu ser a pessoa que ia tirar a família do subúrbio”

Aos 8 anos, Carolinie já fazia campanhas publicitárias e alguns trabalhos comerciais. Fez um desfile da Xuxa, com uma linha de roupas que a apresentadora teve no auge da carreira. “Sonhei em ser paquita e nem sei se era um sonho meu ou de toda minha geração”, diz. 

Colocada com a estrela da família, os pais sempre se dedicaram a cumprir os compromissos de trabalho da filha. “Venho de uma família humilde e tinha essa expectativa de eu ser a pessoa que ia tirar a família do subúrbio”, revela.  

Aos 15 anos, quando era apaixonada pelo universo dos anos 60

“Com 15 anos fui emancipada e comecei a tomar remédios para emagrecer”

A atriz revela que sempre ganhou festa surpresa da família e que aos 15 anos era apaixonada pelo universo dos anos 60. Mas ela nunca sorria nas fotos. “Nessa época, eu usava aparelho e até hoje sonho com aqueles ferros na minha boca, tive questões de autoestima mesmo”, conta. 

Com os hormônios em ebulição, como qualquer adolescente, Carolinie lidou com o surgimento das espinhas, e pouco depois, teve que enfrentar a separação dos pais. “Com 15 anos fui emancipada e também comecei a tomar remédios para emagrecer. A separação dos meus pais mexeu muito comigo, ali ruiu muita coisa na minha vida”, diz. 

Aos 18 anos, quando fez a personagem Domingas, um sucesso em Malhação

“Eu não me reconhecia como uma mulher gorda”

Aos 18 anos, Carolinie estreou na novela Malhação. Seu papel era de uma jovem acima do peso, e ficou no ar durante três temporadas. “Precisava colocar enchimentos do figurino para parecer mais gorda, tipo uma cartucheira para marcar o quadril, e a decisão de cortar meu cabelo curtinho era nessa intenção de deixar o rosto mais redondo”, lembra. 

Ela conta que foi só quando recebeu os textos que descobriu como seria a personificação de Domingas. “Eu não me reconhecia como uma mulher gorda e nunca criei essa identidade, que hoje é de mais poder”, revela. Foi nessa época, por conta do papel, que aquela menina que já tinha tomado remédio para emagrecer, foi incentivada a comer. Carol ganhou 15 quilos, o que para fazer a personagem vinha muito a calhar. “Hoje percebo que eu deveria ter tido o acompanhamento de uma nutricionista. Mas não, era só uma validação do comer e quanto mais eu comia, mais era engraçado e era esperado que eu comesse”, conta. 

Aos 21 anos, grávida em um momento de ascensão na carreira da atriz 

“Foi a segunda vez que tomei remédios para me encaixar no padrão da tv”

Após sair de Malhação, aos 21 anos, Carol foi chamada para participar da novela Tititi, outro sucesso nas telinhas da Globo. Seu personagem fazia parte de um núcleo secundário e como os quilos a mais já não eram convenientes, ela voltou a tomar remédios. “O padrão da TV é sempre abaixo do que já é magro, por isso voltei a tomar remédio pra emagrecer”, conta. 

Esse período em que fez a personagem Maria Eduarda, coincidiu com a chegada da sua primeira filha. “Foi uma surpresa e um choque muito grande. E foi uma pausa forçada porque estava vindo numa crescente na carreira”.

Na primeira gravidez, Carolinie ganhou 30 quilos e revela as marcas que essa transformação deixou no corpo. “Teve a questão da estrias que levei muitos anos para elaborar. Aliás, foi um processo recente por conta da Viih Tube, que postou uma foto com as estrias de fora”, desabafa. 

Em 2018, quando se tornou símbolo das primeiras discussões do debate sobre o corpo livre 

“Não era só sobre se aceitar, mas se sentir livre com o próprio corpo”

Foi só em 2018, aos 28 anos, que a atriz se sentiu livre para postar uma foto de bíquini no próprio Instagram, a foto que foi tirada despretensiosamente por um amigo e causou uma avalanche de comentários nas redes sociais. Mais uma vez o corpo de Carol virou motivo de notas e reportagens. Nessa época ainda engatinhava as discussão sobre corpo livre e empoderamento e Carol se tornou um símbolo desta pauta. “Me deu voz para falar sobre se sentir bem com o próprio corpo, de amá-lo como um lugar de poder”, diz. 

E foi só depois da segunda gravidez aos 22 anos que Carolinie começou a entender as transformações do corpo e que precisava ter paciência com ele. “Estava fora da mídia e essa foto reacendeu toda essa discussão. E não era apenas sobre se aceitar, mas se sentir livre com o próprio corpo”, conta. 

Hoje, já distante das telinhas, a atriz revela que depois de parar os remédios e voltar a ganhar peso, só era chamada para fazer o papel da “gordinha”. “Nunca fiz uma vilã, uma personagem engraçada. Eram sempre papéis com esse recorte do corpo”, diz. 

Aos 34 anos, quando encontrou a paz com seu corpo

“Me foi ensinado que academia era um lugar para mulheres fúteis” 

Foi aos 34 anos que Carol encontrou a paz com o próprio corpo. Em 2022 com o falecimento da sua avó, ela começou a ver o corpo de outra maneira, mais a longo prazo. Pensando inclusive como faria para ter uma velhice com mais autonomia, coisa que infelizmente não ocorreu com sua avó. “Saúde não foi ensinado à minha geração porque a academia era pra quem queria emagrecer. Era visto como um lugar para mulheres fúteis”, diz. Depois de dois anos de atividade física frequente, ela enxerga o corpo como um templo. “Gosto de me sentir firme, inteira. Estar chapadinha de endorfina melhorou minhas crises de ansiedade e minha autoestima”.

Ao mesmo tempo em que descobriu que precisava cuidar do corpo, também entendeu que a alimentação é super importante para sua saúde mental. A atriz revela que hoje está mais atenta à sua compulsão alimentar e sabe que vigilância será para vida inteira. “Não está bem resolvido na minha vida, será sempre uma questão a ser trabalhada e agora começo a cuidar das raízes da compulsão, e a malhação tem sido um antídoto para regular minha ansiedade, para me manter bem”, diz. 

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