Um incômodo em cada parte do meu corpo surge subitamente quando um questionamento deixa de ter ponto de interrogação e se aproxima de um ponto final… afinal, ele vira uma dolorosa constatação. Sim, é possível viver na Ausência de Si mesmo. Parece muito “papo egípcio” (como diz minha filha Isabela para meus “papos cabeça”). Mas, de fato, com a imensidão de estímulos e imensuráveis demandas das rotinas, nossas ações, sentimentos e comportamentos desenrolam-se quase que em uma mesmice robótica e inconsciente.
Dia após dia, deparamo-nos com o aumento astronômico de doenças e separações das mais diversas formas, começando com a separação de nós mesmos.
O tão falado “piloto automático” é um sistema que funciona, por si só, como instrumento do cérebro para economia de energia, gerando sensação de uma dose mínima diária de sanidade (onde não é necessário atenção, pois o “piloto” por conta própria, sabe o que fazer). Leda ilusão! No viciante sistema do automatismo não existe fluxo, nem desfrute e nem leveza: É a “ação SEM noção”.
“Todo amanhã é determinado pelo hoje“
Como então será possível desfrutar um pouco mais dos nossos dias ordinários, da simplicidade da passagem do tempo? Aparece, então, a inevitável percepção de que desfrutar só é possível na bendita Presença do Presente (sim é redundante).
Mas por que raios é tão difícil essa tal “Presença”?!
Falar de presença logo nos leva à vastidão de ausência em que estamos vivendo e, como o filósofo hindu Yogananda já dizia no século passado: “Todo amanhã é determinado pelo hoje“. Tudo tilinta em mim com a tamanha responsabilidade que temos individualmente nesse desejo incessante de evolução para que a nossa existência realmente valha a pena – hoje e amanhã.
Falar de presença logo nos leva à vastidão de ausência em que estamos vivendo
Como é possível, se no meu cotidiano, estou sempre lá no futuro ruminando, desejando e projetando?
A busca pelo prazer não traz felicidade
Estar realmente no fluxo da vida implica olhar para o vazio e não fugir dele; contactar com a dor, olhar para nossas sombras e inquietações e certamente sair do ciclo incessante da busca pelo prazer como o psicólogo Sigmund Freud já dizia: “O homem é um ser que vive em constante busca pelo prazer“.
Vamos combinar que essa lista de prazeres sonhos, desejos e vontades é infindável… e ela não é a tal Felicidade. Certeza!
Estar realmente no fluxo da vida implica olhar para o vazio e não fugir dele
Conheço bem o deleite que é estar em cena como atriz; é profundamente viciante – um êxtase! Parece que nada no mundo iguala-se à potência de estar inteira, vivendo a cena. O estado é de entrega integral ao se viver a criação de um personagem, pois inclui um estudo de repertório físico, sentimental, de escolhas mentais e intuitivas, mas sempre, sempre, vivenciando atentamente o presente.
O ESTAR em cena, o ar que entra e sai, o olhar interessado, os diálogos com o colega, os pés que sentem o chão, os dedos da mão inquietos, o coração acelerado e a vulnerabilidade diante de uma plateia cheia… é dopamina pura!
É hora de dar um restart no seu cérebro
Mas como será possível trazer isso para a minha, para as nossas vidinhas lindamente ordinárias? Sem dúvida, como diz o maravilhoso neurocientista Dr. Joe Dispensa, é necessário desaprender, limpar o “terreno”, desinstalar o que nos amarra para então estabelecer com rédeas a vida em que queremos “ESTAR”.
É, de fato, um ensaio incessante com boa vontade, várias vezes por dia.
Qual pensamento eu não quero mais ter? Qual hábito, quais emoções impedem-me de vivenciar o desenrolar da minha vida? E a lista segue… (Bora começar a fazer a listinha? Uiii…)
Desinstale o que te amarra para estabelecer com rédeas a vida em que você quer estar
Como ouvimos dos nossos pais, as mudanças não caem do céu e para isso é necessário esse chato verbete “muscular”. Escolher investigar atentamente o que se passa em mim, o que me dói, o que me irrita e, obviamente, não é nada fácil! Mas é a única saída em direção à conexão com nossa maravilhosa PRESENÇA nessa jornada e, aos poucos, essa “consciência” vai tomando uma outra dimensão.
Desligue o piloto automático!
Nessa hora o desfrute começa a surgir, gradualmente esse piloto automático que mora em nós vai perdendo força, nossos olhos brilham e enxergam novas possibilidades. O coração acalma e as luzes no nosso “palco ordinário da vida” começam a brilhar.
O êxtase, sim, pode existir nas pequenas coisas quando eu vivo na presença de mim mesma!