Será que é depressão? Saiba como identificar - Mina
 
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Será que é depressão? Saiba como identificar

Não é porque bateu uma "deprê", que você está, de fato, deprimida. Mas você também não deve negligenciar uma tristeza que já dura muito tempo. Esta, sim, pode caracterizar uma depressão.

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Há uma grande diferença entre tristeza e depressão. Apesar de ser fácil confundir uma com a outra. É normal a gente se sentir triste quando as coisas não acontecem como desejamos, quando perdemos uma pessoa querida, um relacionamento acaba ou somos demitidas de um trabalho. Enfim, os perrengues que fazem parte da vida de todas nós. Mas aí, conforme o tempo vai passando, o ânimo volta, e quando você se dá conta, a tristeza virou coisa do passado.

A tristeza é um sentimento normal da vida que não chega a comprometer nossa rotina e produtividade. Em alguns momentos, a gente pode até se ver tendo que tirar força do âmago do nosso ser, mas acaba dando conta das coisas. Já no caso da depressão, o sentimento ruim não passa. 

É uma tristeza que não acaba mais, e que pode afetar vários aspectos da vida. A depressão costuma vir acompanhada de sintomas como desânimo, cansaço, apatia, angústia, desesperança, alterações no sono e apetite, baixa libido e autoestima, entre outros. Enquanto a tristeza chega a durar horas, dias e semanas, a depressão pode se arrastar por meses ou anos. 

“Já há algum tempo que tristeza e depressão estão confundidas em nossa cultura, de modo que se tornou até difícil diferenciá-las. Acho que, de maneira geral, um processo mais prolongado, onde as motivações de vida da pessoa – como comer, dormir, se relacionar, trabalhar, passear, etc – vão se ‘apagando’ pode sinalizar uma depressão, que deverá ser devidamente tratada”, explica a psicanalista Ana Patitucci.

A psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, Maria Carolina Pinheiro, costuma provocar seus alunos com perguntas acerca dessas sutilezas que envolvem a saúde mental. “O conceito que acredito que diferencia o que é o normal e patológico é a perda da liberdade existencial. Sentir tristeza é, não só normal, como pode nos ajudar a nos tornarmos nós mesmos. A depressão é quando entramos num estado de funcionamento – pensamentos, sentimentos, comportamentos – da qual não conseguimos sair. Estamos presos numa normativa que nos impede de fazer nossas escolhas”, pondera a psiquiatra. 

Depressão atinge mais as mulheres

Estudos e pesquisas mostram que a depressão atinge duas vezes mais as mulheres do que os homens. No Brasil, segundo a pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde, 14,7% das mulheres têm a doença, contra 7,3% dos homens.


A sobrecarga de tarefas leva ao estresse crônico e pode abrir as as portas para a depressão

Além disso, existe a violência física, verbal e sexual que vitima tantas mulheres. Outra hipótese é que as mulheres buscam mais ajuda médica do que os homens, engrossando assim as estatísticas. A psiquiatra Maria Carolina lembra outra possibilidade: “a neurociência vem demonstrando que esta disparidade provavelmente se deva ao fato do cérebro das mulheres ser mais sensível ao envelhecimento e isto as deixa mais vulnerável à depressão”. 

Como tratar a depressão?

Um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), aponta que houve um aumento de cerca de 35% nos casos de depressão durante a pandemia. O Brasil é o país com maior prevalência da doença na América Latina, que é a principal causa de incapacidade em todo o mundo

“A tristeza não é uma doença e é parte da condição humana. Há vários jeitos de se lidar com a tristeza, cada pessoa vai encontrar o seu. Como buscar ser acolhida e apoiada para aquecer o coração”, sugere a psicanalista Ana Patitucci. 

Para a psiquiatra Maria Carolina, é importante tentar entender qual a mensagem dessa tristeza. “Acredito em Espinosa quando ele apresenta a tristeza como uma afecção que nos diminui a potência de agir, nos transformando num estado menor de nós mesmos. A função, portanto, da tristeza, sob essa ótica, seria nos comunicar dos encontros que nos despotencializam”, diz.

E continua: “Quais são os maus encontros que esta tristeza está me comunicando? O que preciso rever naquela relação? Na relação com nosso corpo, prazeres, amores, alimentação, sono, família, amigos, e, sobretudo, na relação com nós mesmas”.

Para a depressão, a psicanalista Ana indica “acompanhamento psiquiátrico, terapêutico e exercícios físicos”. A psiquiatra Maria Carolina acrescenta a importância de vivenciar o processo de tratamento da depressão. “Da mesma forma que a tristeza, a depressão está sinalizando uma situação que precisa ser refletida e provavelmente transformada”.

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