Nome:
Tristeza. É com Z.
Idade:
Digamos que quando eu morri já era mais velha que o Dumbledorre…
Como assim? Você morreu?
É modo de dizer, fui largada ao ostracismo. Agora tudo é “depressão”. É impressionante como vocês se rendem facilmente a modismos. Pode reparar, ninguém mais fica triste. Agora qualquer coisinha é “ai, tô deprimide”.
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Pensei que vocês fossem chegadas…
Querida, eu não sou uma doença! Quer dizer, nada contra, até tenho amigas que são doenças… Mas acho que a fama da depressão subiu à cabeça, sabe? Esse negócio de ter muito remédio pra ela, de aparecer na televisão, de todo mundo ter medinho dela. Sei lá, já fomos próximas, mas perdemos o contato.
“Esse negócio de que tem que chegar na felicidade plena é tóxico”
Se você fosse um país, qual seria?
Bom, acho que seria o Afeganistão, né? Já que ficou em último colocado no estudo patrocinado pela ONU que determinou os países mais felizes do mundo. Mas é importante fazer uma ressalva: tem tristeza em todos os lugares. Ou você acha que o povo tá sempre sorrindo na Finlândia, que ficou em primeiro lugar? Quando o inverno chega, meus amigos, tristeza bate em geral!
Isso te alegra?
Veja, nada me alegra. Mas nem por isso deixo de ser importante e não é porque “toda mulher deve ter algo de triste”, que isso é invenção do patriarcado, mas sentir a melancolia, sentir o vazio e se decepcionar faz parte da vida e são motores pra que os humanos sigam buscando um equilíbrio. A vida é a busca, não o encontro, entende? Esse negócio de que tem que chegar na felicidade plena é tóxico e absolutamente irreal. Não sei se foi criado pela indústria farmacêutica ou pelos gurus da positividade, mas que é furada isso tenho certeza.
E você acha que dinheiro traz felicidade?
Olha, não que traga automaticamente, mas compra um espumante que dá um bom up na realidade. Mas, no dia seguinte, quem vem com a ressaca? Euzinha da silva! Então, podemos dizer que dinheiro compra felicidade e traz a tristeza a reboque.