Você sofre com intestino preso? Saiba quando isso pode ser um problema grave - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

O que ninguém nunca me contou sobre prisão de ventre

Intestino preso pode esconder problemas mais graves. Ficar atenta aos sinais do corpo pode antecipar diagnósticos e aumentar qualidade de vida

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Você conhece muitas mulheres que reclamam de prisão de ventre?  Não é apenas impressão, nós, de fato, sofremos mais de constipação do que homens. De acordo com Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), essa incidência mais frequente tem a ver com a questões hormonais. A progesterona tem um efeito relaxante no intestino, isso faz com que o órgão faça movimentos mais suaves, o que pode dificultar a saída das fezes.

Mas falar sobre esse assunto, não é considerado bonito. E, como muitas coisas do corpo da mulher, cria-se um tabu. E, cada uma vai tentando se virar como pode, para garantir o funcionamento intestinal. Mas eu tô aqui pra falar de cocô, de intestino e de como descobri que minha constipação não era apenas “algo normal de mulheres”. Inspirada pela Preta Gil, que teve o diagnóstico de câncer colorretal e resolveu chamar a atenção da sociedade para essa pauta pouco falada, trago meu intestino pra esse texto, com a certeza de que ele pode ajudar muitas mulheres. Porque se um tabu é utilidade pública, dane-se o tabu, não é mesmo?

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Eu não tive um câncer, mas meu diagnóstico poderia me causar sérios problemas – e na verdade causou, pois me levou a uma internação de 15 dias na UTI, sem poder comer nem beber água.

Levei 20 anos para descobrir a causa da minha constipação intestinal

Esse depoimento é um relato que eu gostaria de ter lido 20 anos atrás, pois teria me poupado de um enorme sofrimento. Passei a infância e adolescência em uma busca constante sobre a verdadeira causa da minha constipação – intestino preso, prisão de ventre ou qualquer outro nome que exista para este diagnóstico. Meus pais recorreram a diversas tentativas de solucionar este problema. Foram incontáveis consultas médicas, com diversos especialistas – procurei até uma cirurgia espiritual. 

O meu desespero era tão grande que busquei os médicos mais conceituados, mesmo sem ter tantos recursos financeiros na época. Guardei dinheiro para me consultar com um deles, na esperança de ter uma resolução para o meu caso. Sem sucesso. A situação era crônica e, anos depois, descobri que nenhuma prescrição médica atendia ao meu real quadro clínico.

Passei mais de 20 anos ouvindo que uma alimentação adequada, com fibras, ingestão de água e a prática de atividades físicas seriam a solução do meu problema. Seguia todas as recomendações e nada funcionava. Fazia uso de laxantes, primeiro os chamados mais “naturais”, fitoterápicos e, na sequência, sem efeito algum, passei a tomar medicamentos mais fortes e com doses mais altas. Ficar sem esses recursos não era uma opção, e minha preocupação só aumentava, pois não é normal o uso contínuo de laxantes sem afetar consideravelmente a saúde intestinal.

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Fazia exames de colonoscopia com frequência, entre outros, e era recorrente o aparecimento de pólipos benignos, retirados no próprio exame. Segundo os médicos que consultei à época, se você não retira esses pólipos, eles podem virar um câncer maligno alguns anos depois. 

Com o tempo, passei a sentir dores abdominais agudas, meu intestino estava literalmente parando de funcionar, ficava dias sem ir ao banheiro e, quando finalmente conseguia, o sangramento aparecia. Eu tinha 30 anos. Nessa busca desesperada por encontrar uma solução, recorri a uma nova opinião médica.

Fui a um proctologista e, dessa vez, tive êxito. Recebi o diagnóstico correto, e a causa nunca antes apontada por nenhum especialista veio: megacolón, caracterizado pela dilatação e alongamento da porção final do intestino grosso. Como consequência, o órgão perde lentamente a sua função, tornando a digestão mais demorada e aumentando a constipação – de acordo com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), essa pode ser uma doença congênita ou adquirida. 

Ter noção sobre a finitude da vida faz você ressignificar tudo ao redor

Com exames específicos e recomendados pela primeira vez, conseguimos identificar a causa e os caminhos para o tratamento definitivo. Há vários métodos e para cada situação um médico especializado deverá indicar a melhor opção. No meu caso, a indicação era cirúrgica e a retirada de 80% do meu intestino grosso, já muito comprometido.

Mudança interior

Fiquei 20 dias internada e tive um pós-operatório muito difícil. Precisei fazer uso de uma sonda de alimentação intravenosa, já que meu corpo não retinha os alimentos. Em um dado momento, nem água era possível ingerir, recebia apenas soro na veia e medicamentos. Eu já estava na UTI, onde permaneci por quatro dias com uma sedação profunda, mas necessária para minha recuperação.

Isso não significa que todos os pacientes vão passar por isso; no meu caso eu realmente tive uma complicação, pois meu corpo levou alguns dias para se adaptar às intervenções. O relato é difícil, mas verdadeiro.

Passada essa fase, me curei e ganhei uma qualidade de vida que não tinha há três décadas. Com isso, vieram novos hábitos e, sobretudo, uma urgência em viver. Ter noção sobre a finitude da vida e sobre o tempo faz você querer aproveitar cada minuto, te faz ressignificar tudo ao redor.

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Me identifiquei muito ao ler as entrevistas da Preta Gil, em que ela fala sobre essa transformação interior, sem romantizar a doença. Hoje, aos 38 anos, estou focada cada vez mais na minha saúde, alimentação e estilo de vida.

Ela tem feito um alerta fundamental: não é normal ficar dez dias com o intestino preso, fazer fezes com sangue, com muco. Procurem um médico. Eu também achava isso normal. Devemos comer bem, beber água e fazer atividade física – a nossa geração foi envenenada pela indústria alimentícia. Precisamos ficar atentos, evitar alimentos ultraprocessados, açúcar, entre outros produtos que afetam o bom funcionamento do corpo.

Ter a oportunidade de escrever uma nova história e cuidar do nosso bem maior foi um dos maiores presente que pude receber.

Por fim deixo essa sugestão: fazer o exame de colonoscopia é recomendado a partir dos 45 anos, Mas, se você sofre com algum desconforto, talvez valha conversar com seu médico e verificar se está na hora de antecipar a realização desse exame.

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