Como é fazer sexo a três no casamento? - Mina
 
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Como a fantasia de um ménage transformou um casamento de 20 anos

Era pra ser só uma aventura e acender a vida sexual de um casal, mas acabou virando amor e o relacionamento a dois virou trisal

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Entre namoro e casamento, estou junto com meu companheiro há 25 anos. Nós nos conhecemos muito jovens, eu tinha 18, ele 21. Trilhamos a estrada “perfeita” do amor romântico, que poderia muito bem servir de epílogo para um filme da Sessão da Tarde: tivemos dois filhos, adotamos um cachorro, tudo como manda o figurino. E a monogamia era uma exigência que eu não questionava, apenas cumpria dentro do acordo pouco apalavrado que tínhamos. 

Isso mudou quando, batendo os 20 anos juntos, tive coragem de assumir uma fantasia antiga. Sempre tive muito tesão na ideia de fazer um ménage com outra mulher. Ele se interessou e a conversa acabou abrindo espaço para falar mais abertamente sobre minha sexualidade e nossos desejos. Desde jovem me identifico como sendo bissexual, ainda que não tenha vivido nenhuma experiência com outra mulher antes de me casar. 

Foi esse ménage – primeira vez que transei com outra mulher e primeira vez que eu e meu marido saímos do nosso esquema tradicional – que mexeu com a minha vida. 

Não é todo dia que uma relação tradicional de 25 anos tem uma primeira vez

Aqui vale voltar algumas casas na nossa história. Sempre achei meu casamento realmente um “case de sucesso”. E também acreditei por muito tempo que viver essa relação tão legal exigia a renúncia de experiências diversas que me permitissem explorar minha sexualidade livremente. Ao longo de tantos anos, vivemos várias diferentes. Em muitos momentos, estávamos completamente apaixonados, em outros, ficamos mais distantes e desconectados. Tudo muito normal, eu diria. 

Quando surgiu a ideia do ménage, fiquei animada. Não é todo dia que uma relação tradicional de 25 anos tem uma primeira vez. Ainda assim, não fazia ideia de como poderia executar esse plano. Quem seria essa terceira pessoa? Uma amiga? Uma desconhecida? Alguém contratada para essa função? 

Foram anos falando sobre o tema, ensaiando algumas tentativas tímidas e outras cômicas, sem nunca pôr o plano em prática. Até que a pandemia veio e abriu espaço para novas reflexões. Adquirimos uma certa ousadia. 

Uma amiga próxima passou a ser uma possibilidade de escolha. Solteira, sem filhos, ela vivia uma vida mais boêmia, era absolutamente livre e tinha um estilo de vida diferente do nosso. Mas, ao mesmo tempo, tínhamos uma afinidade de muitos anos de amizade e muitos gostos em comum. No pós-pandemia, começamos a nos reconectar com ela. Sentia que ela também poderia nos escolher. 

Demos uma empurradinha, marcando encontros com mais frequência do que o habitual até que combinamos de passar uns dias numa casa de praia com outros amigos em comum. Estávamos em uma sintonia muito gostosa e totalmente no campo da amizade. Vez ou outra a conversa se inclinava para algum assunto mais sexual e, como quem lança a sorte ao vento, chegamos a falar sobre a fantasia do ménage, sempre em tom de brincadeira, sem nenhuma proposta direta. 

Na última noite, sobramos apenas nós três, algumas garrafas de vinho e uma bela lua cheia. Num certo momento da noite, ela me beijou, e em seguida, ele a beijou e de repente, estávamos os três nos beijando e sentindo a temperatura subir rapidamente. Terminamos a noite na cama e acordamos com um sorriso no rosto e as cabeças um tanto confusas com o que tinha rolado. Confesso que estava bem contente de, aos 40 anos, realizar uma fantasia sexual e nem imaginava o que estava por vir. 

Passamos muitas noites transando os três por horas e horas

Durante aquela semana, eu e meu companheiro experimentamos uma honestidade nova, nos abrindo para falar sobre sentimentos e desejos ainda mais íntimos, era como se a gente tivesse cruzado uma nova fronteira na nossa intimidade. Me sentia muito conectada a ele e ao mesmo tempo absurdamente envolvida com ela. Pensava o dia todo no assunto, ficava sonhando acordada, revivendo cenas daquela noite, sentindo uma energia totalmente nova. Não tinha dúvidas de que queria repetir a dose. 

Logo descobri que não estava sozinha nessa vontade: uma semana depois fomos jantar na casa dela. Chegamos ainda tímidos, falando sobre a vida, a novela, os trabalhos… até que em certo momento, entramos no assunto de como tinha sido aquela experiência e os três falaram sobre como o desejo seguia reverberando. Quando nos demos conta, estávamos já enroscados no sofá, e sentindo aquela mesma energia que tinha deixado o gostinho de quero mais.

O que aconteceu em seguida foi que passamos a nos encontrar sempre que era possível. O que não era uma missão tão fácil, pois nossa vida em família sempre teve uma programação intensa e, sendo essa uma relação “escondida”, ficávamos pulando de brecha em brecha. Mas passamos muitas noites transando por horas e horas, dando pequenas pausas para comer, cochilar, ou só tomar um ar. 

A química entre os três, a cumplicidade, a sintonia na cama e fora dela se intensificaram. Foi uma fase de muitas descobertas, experimentações, que trouxe uma energia nova e avassaladora. A sensação que eu tinha era que estava ficando dependente química dessa conexão. 

À medida que os encontros foram se intensificando, claro que outros sentimentos começaram a aflorar. As conexões não são sempre uniformes e, quando três pessoas se relacionam, existem ali seis relações diferentes em curso. Foi preciso lidar com o ciúmes com bastante frequência.

Confesso que pra mim foi muito difícil ver eles se conectando. Mesmo me sentindo apaixonada pelos dois e segura dessa reciprocidade, em alguns momentos era doloroso perceber o vínculo entre eles se fortalecendo. 

Aliás, eu não fui a única. Costumo dizer que nenhum de nós deixou de sentir ciúmes, mas vamos aprendendo e transformando como reagimos a ele. Somos educados a acreditar que só amamos uma pessoa de cada vez, e que se nos apaixonarmos por outra pessoa, esse amor anterior morrerá. Sinto hoje que é algo parecido com a compreensão que tive depois de ter meu segundo filho. O amor pelo primogênito não diminui, nem se altera. A gente expande e cria um novo espaço. O amor é abundante e infinito. 

Também descobri uma palavra que não conhecia: “Compersão“. Que significa o contrário do ciúmes. É quando você genuinamente sente prazer e felicidade por ver um parceiro romântico feliz por estar se relacionando com outra pessoa. Como tenho dois parceiros românticos, a compersão aqui é dobrada! Não temos regras específicas de que só podemos nos encontrar se estiverem os três. Temos momentos e trocas a dois em todas as configurações, mas adoramos estar todos juntos. Abrir esses espaços e acomodar tantos desejos é complexo. 

Ela é nossa namorada? Eu diria que sim

Já faz dois anos e pouco que essa história começou. Mas nenhum dos três se sente preparado para “sair do armário”. Temos medo de que o julgamento social possa minar a leveza das nossas trocas. Tivemos dois términos curtos, que foram períodos muito dolorosos para os três. Acho que eles aconteceram porque existem algumas expectativas que criamos sobre o que é estar em um relacionamento que acabam não atendidas nesse formato. Muito por ser ainda ser escondido e pela dificuldade da sociedade em lidar com um trisal. 

Sinto que não conseguimos atender as expectativas dela de presença constante, de ter companhia nos eventos sociais, apresentar para a família e os amigos. E em especial, a expectativa de ser priorizada, que acho muito justa, inclusive. 

Por outro lado, em tantos outros aspectos essa relação nos preenche de uma forma que nenhum relacionamento tradicional dá conta. As trocas, o acolhimento, compartilhar alegrias e angústias, ter olhos, ouvidos e colo dobrado, ter sempre um observador, mediando conflitos. Sem falar em massagem a quatro mãos, que é uma das coisas mais prazerosas da vida. 

Ela é nossa namorada? Eu diria que sim e me dá uma grande alegria ver que uma fantasia sexual guardava um futuro novo e fresco pra mim. É muito gostoso ver que uma história que começou como uma aventura se transformou nesse amor tão bonito. 

O fato de ter nascido de uma amizade sólida faz com que eu me sinta segura e protegida. É solo fértil para a intimidade se espalhar e se acomodar. Sentimentos simples ou complexos, são todos colocados à mesa. Temos, a três, um espaço aberto ao diálogo que, a dois, dentro do casamento, ainda não havíamos construído.

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