É possível ser feliz no trabalho? Há quem acredite que essa ideia seja uma manipulação liberal para te fazer produzir mais, outros defendem que esse é um caminho para nós, seres humanos, encontrarmos um propósito nas nossas vidas. Alguns vestem a camisa da empresa, outros acumulam projetos com muita empolgação, enquanto tem gente que prefere se organizar melhor para ter mais tempo livre. De todo modo, associar felicidade a trabalho é algo que vem ganhando bastante fôlego. 

Vamos trabalhar cerca de 80 mil horas até a aposentadoria, como queremos passar esse tempo? 

Até outro dia, trabalhar era encarado como um fardo que deveríamos aguentar para pagar os boletos. Ter prazer nos afazeres e na rotina laboral não era uma opção. Nesse cenário, banalizava-se o stress, os abusos, as lideranças tóxicas e a sobrecarga. Tudo porque havia uma crença de que era normal se sentir ansioso, deprimido e estressado. Então, a felicidade era postergada para as férias, um ano sabático ou a aposentadoria. Porém, nos últimos anos, com o impacto da pandemia em nossas vidas, algumas reflexões se tornaram mais presentes: se a vida é tão curta e tão frágil, o que estamos fazendo com o tempo que temos? Se vamos trabalhar cerca de 80 mil horas até a aposentadoria, como queremos passar esse tempo? 

Diante disso, surgiram movimentos globais como a “grande renúncia”, no qual milhões de pessoas pediram demissões voluntárias por estarem infelizes, ou o “quiet quitting”, em que os adeptos seguem nos seus cargos, porém realizando o mínimo possível. Isso dá a sensação de que a pandemia despertou uma população conformada com a infelicidade no trabalho para uma nova realidade. Porém, não passa de uma realidade ilusória. Não dá para comparar nossas férias numa ilha na Grécia ou o dia do nosso casamento com a nossa rotina. E não dá para achar que felicidade no trabalho será sinônimo de prazer, alegria e diversão. Também não tem a ver com atuar em uma empresa perfeita, fazer somente o que se gosta, ter 100% de flexibilidade e nenhuma cobrança. Isso não existe e não vai existir. 

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Uma pesquisa do Google Consumer Survey, de 2019, revelou que para 6.2% dos entrevistados da geração Z, sucesso é ter férias permanentes. Mas, sejamos realistas, tirando os herdeiros, trabalhar é uma obrigação real e, por isso, romantizar o tema não ajuda nenhum de nós, ao contrário, só traz frustrações. E ficamos por isso mesmo? Não. Acredito que há sim um caminho possível para tirarmos alguma satisfação de onde tiramos dinheiro.

Para mim, ser feliz no trabalho é fazer algo que se gosta, é se sentir realizado, é ser desafiado, usar suas forças, dons e talentos, se sentir empoderado, ter boas relações, se sentir valorizado e reconhecido e estar em um ambiente com segurança psicológica – e isso é totalmente possível. Mas isso não significa que todos os dias serão perfeitos e nem que acordaremos sempre engajados e motivados. A vida real não é a vida de Hollywood. E tudo bem! Felicidade tem muito mais a ver com aproveitar a jornada, com seus altos e baixos, do que um grande e raro momento extraordinário. 

Passar a vida reclamando ou sonhando com algo melhor certamente não é a solução

Entender isso é maturidade. Somos, sim, protagonistas das nossas vidas e ninguém trará uma vida perfeita para nós. Felicidade tem a ver com construção, com autoconhecimento, com autorresponsabilidade e com intencionalidade. Podemos encontrar, sim, um lugar legal para trabalhar, onde gostamos do que fazemos. É possível, sim, ter um senso de realização e de significado, se sentir reconhecido e valorizado e também ter boas relações. Mas, tudo isso, dentro da vida real, com obstáculos, desafios e dores no caminho. Em algumas segundas-feiras vamos acordar animados e em outras vamos virar pro lado, só pensanbdo em dormir o dia todo. Essa é a realidade. Passar a vida reclamando ou sonhando com algo melhor certamente não é a solução. Então, o que você está fazendo para ser mais feliz no trabalho hoje?