Ser multitarefa no trabalho: o jeito mais eficiente de perder dinheiro - Mina
 
Seu Trabalho / Reportagem

Ser multitarefa no trabalho: o jeito mais eficiente de perder dinheiro

Acumular demandas diversas não é eficaz para ninguém. Nosso cérebro funciona muito melhor se pudermos focar em uma ou duas tarefas por vez

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As empresas adoram cobrar que a gente seja “multicoisas”: multidisciplinar, multifuncional, multipotencial, multitarefa… E essa multiplicidade tem que ser acompanhada de uma grande dose de resiliência, tudo com o pretexto de que precisamos evoluir para acompanhar o avanço da tecnologia e do mundo. Mas diversos estudos mostram que a realidade é justamente o oposto disso. 

O indivíduo que está multitarefando perde 20% de empenho por causa da troca de contexto

Na verdade, esse negócio de ser multi, especialmente multitarefa, não apenas diminui o rendimento, como tem um custo muito alto: emocional, psicológico e também financeiro. Sim, essa ilusão do colaborador que dá conta de diversas tarefas ao mesmo tempo, na verdade, faz as empresas perderem dinheiro e eu tenho provas! 

Existe um conceito chamado “custo da troca de contexto”. Para lidar com mil coisas ao mesmo tempo, não basta virar uma chave no cérebro: você precisa separar materiais, às vezes se deslocar e, possivelmente, fazer reuniões de alinhamento. É daí que nasce o famoso “fiquei o dia todo em reunião e não fiz nada”. É o alinhamento do realinhamento das pessoas que se perdem toda hora, de tantos assuntos que têm para lidar.

No livro Quality Software Management Volume 1: Systems Thinking, o psicólogo e cientista da computação Gerald Weinberg nos mostra que se alguém está trabalhando em dois projetos simultaneamente, o esforço gasto em ambos não é de 50/50, mas de 40/40. O indivíduo que está multitarefando perde 20% de empenho nesse troca de contexto. Começa um projeto, para, se reúne com a galera do outro, para, esquece o que tava fazendo, retoma a linha de raciocínio… E assim vai perdendo o foco, produtividade e tempo.

Aí, aquele velho ditado (com o qual eu não concordo muito) acaba se aplicando: perder tempo é perder dinheiro. Cada mês fechado com cinco projetos inacabados é um mês no qual você deixa de ganhar o dinheiro de um ou dois que poderiam ter sido finalizados nesse mesmo tempo se você tivesse mantido o foco. Para piorar, essa falta de atenção aumenta a probabilidade de erros, o que gera retrabalho. 

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Parece contraintuitivo falar que quanto mais multitarefa, maiores as chances de perder dinheiro, mas é matemático. O prejuízo até já foi calculado: um relatório publicado pela Bryan College em 2019 estimou o custo dessa perda de produtividade em até 450 bilhões de dólares anuais globalmente. Se você achava que redução de volume de demandas era só um argumento moral para evitarmos cansaço, depressão e burnout (o que é de extrema importância), espero que o argumento financeiro te ajude a criar consciência e sair dessa grande ilusão. 

Quiet Quitting?

Mergulhando na ideia de redução de trabalho, foi inevitável não pensar na galera do tão falado “quiet quitting”, se para alguns significa preguiça, para outros é simplesmente fazer o que foi negociado na contratação. Seja como for,  até o momento não há nada que indique que essa atitude diminui a produtividade. E, talvez, ela seja apenas uma resposta das novas gerações ao desejo dos contratantes de que sejamos cada vez mais multi-alguma-coisa. Fico pensando que se a gente olhar para o fenômeno com calma, vai descobrir que quem segue essa teoria está até entregando mais, já que consegue realmente focar no essencial do trabalho.

O que a gente sabe por enquanto, que realmente tem dados para comprovar, é que o acúmulo de tarefas faz a gente perder dinheiro. E isso significa que é preciso criar uma realidade com menos tarefas. Não adianta ficar inventando ferramentas, métodos e técnicas para aumentar o rendimento. Não tem segredo: a  melhor técnica para entregar mais e com mais qualidade é ter menos coisa para fazer. 

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