Podcast O Ateliê e por que devemos derrubar mestres e gurus - Mina
 
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A necessária queda de mestres e gurus

Podcast O Ateliê derruba mais um "mestre". Com tantas denúncias contra líderes abusadores, será que não é a hora de tirarmos esses títulos de circulação?

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Os dicionários definem a palavra “mestre” como “aquele que é perito ou especialista”, “pessoa que tem muitos conhecimentos” e “professor”. Já a palavra “guru” é definida como “mestre ou chefe espiritual” e “guia, mentor ou líder carismático e influente”. Na capoeira, sempre vimos muitos serem chamados de mestre. Na yoga, é comum vermos respeitados professores serem chamados de gurus. E, a priori, ser um mestre ou um guru sempre foi uma honra. Mas o que talvez faça mais sentido na frase anterior seja o tempo verbal: foi uma honra. Porque de uns tempos pra cá, ser identificado como tal joga a pessoa automaticamente num lugar onde estão seres humanos altamente controversos, execráveis e até criminosos

Ainda tem muito “guru” e “mestre” que ainda precisa cair

O novo podcast do jornalista Chico Felitti, O Ateliê, vem para jogar um pouco mais de lama em cima desses dois títulos que já foram vistos como os mais altos elogios. Ali, a gente escuta denúncias de violência psicológica e física e abuso financeiro de um suposto “mestre”. Um que, assim como outros já desmascarados, também exigia ser chamado como tal. Alerta vermelho para todos que exigem ser chamados de mestre: para mim, esse é o principal indício de que algo vai mal, muito mal.

É uma pena que um título que sinaliza respeito venha sendo destruído por gente como Bikram Choudhury, professor de yoga que foi das salas lotadas e dos alunos famosos às páginas policiais acusado de estupro. João de Deus, que dispensa apresentações, e Prem Baba e Cristovão da yoga, acusados por diversos de seus discípulos e seguidores. Isso sem falar no Osho, que teve toda sua contradição, e também seus abusos, expostos no documentário Wild Wild Country e o babalorixá Dito de Oxóssi, tão poderoso que só foi denunciado depois de sua morte. Fora os tantos outros acusados pelas bordas, sem nome nos textos na internet, mas com Boletim de Ocorrência em dia e aqueles que muita gente sabe que são abusadores (financeiros, psicológicos ou sexuais) mas, por medo (ou livramento?) de quem sobreviveu pra contar, ainda circulam livremente por aí. 

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Estariam as palavras “mestre” e “guru” impregnadas de alguma maldição? Ou será que esses títulos, carregados de poder e glória, são fortes demais para seres humanos carregarem? Porque no fim da linha, é gente como qualquer um (ou uma) de nós que, elevada a um posto mais importante na cadeia alimentar acaba se perdendo e adentrando ao lado mais obscuro de ter poder. Fato é que ser identificado como mestre ou guru hoje em dia pode não ser exatamente legal – pra dizer o mínimo. 

Não foram poucas as vezes que, nos últimos anos, tirei a palavra “guru” de textos sobre pessoas que admiro, justificando aos repórteres (sempre muito bem intencionados) que talvez esse adjetivo não fosse mais tão bacana. Eu mesma pedi para tirar uma brincadeira simpática de um texto sobre mim que me denominava como “nossa guru do amor”. A intenção era boa, mas me caiu mal. 

Mestre que é mestre não bate e nem cospe na cara

Alguns podem achar um exagero, afinal, há tantos mestres e gurus bacanas por aí (será?), mas insisto na tese de que devemos dar um tempo no uso dessas duas palavras, até para que os abusadores que ainda circulam exigindo o uso desses títulos se sobressaiam aos nossos olhos. Claro que não estou falando aqui de professores que são chamados de mestre por seus alunos de forma carinhosa ou de círculos onde a denominação faz parte da cultura, como a capoeira, mas, de resto, olhemos com desconfiança e sempre atentos. Tem muito “guru” e “mestre” que ainda precisa cair. E para os que estão ludibriados pelo discurso sedutor/violento desses falsos líderes, o que podemos fazer é mandar o link deste texto e do podcast do Chico, também podemos oferecer acolhimento e companhia para uma denúncia formal.  

Mestre que é mestre não bate e nem cospe na cara. Guru que é guru não estupra ou impede que a pessoa ande em outros círculos. Mas, enquanto a gente não limpar o terreno, talvez valha guardar esses títulos na gaveta e olhar com desconfiança para quem insistir em usar.  

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