Já ouviu falar em perimenopausa? Então senta, que lá vem história: o termo não é novo, mas até então foi pouco difundido. Ele marca uma fase que começa cerca 5 anos antes da data da última menstruação da mulher. Mais ou menos como uma prévia da menopausa.
“A partir dos 40 anos, o ovário começa a dar sinais de que está trabalhando menos e com isso pode aparecer uma irregularidade menstrual, a famosa menstruação bagunçada, que já é um primeiro sintoma”, diz o ginecologista Marcelo Steiner. “A gente considera dentro do esperado uma mulher de 40 já estar na perimenopausa, mas o mais comum é a partir dos 45 anos”, diz o médico.
Segundo ele, já nessa fase alguns sintomas aparecem como os famosos fogachos, leia-se, ondas de calor e também mudança de humor, falta de sono e eventuais esquecimentos.
A perimenopausa chegou ou é estresse?
“Não é preciso fazer um exame numa mulher por volta de 45 anos que começa a ter irregularidade no fluxo ou ondas de calor. Mas temos os exames de sangue se há qualquer dúvida e normalmente faz-se duas dosagens”, diz Marcelo. Toda mulher atravessa essa fase, mas muitas são assintomáticas, e não se tem uma idade certa para acontecer, trazendo incertezas e medos.
A seguir a perimenopausa em 6 tópicos.
1. Ficha técnica
Nome: Perimenopausa
Apelido: Peri
Idade: 40 anos em diante
Naturalidade: Corpos com útero do mundo todo
Descrição: começa 5 anos antes da data da última menstruação
Peso: ondas de calor, menstruação irregular, mudanças de humor, falta de sono, esquecimentos
Preço: tratar com fitoterápicos, reposição hormonal, acupuntura, entre outros
2. Não se assuste, é só a perimenopausa
A escritora e podcaster Camila Fremder, 41 anos, gravou neste ano um episódio todo dedicado a esse assunto no seu @enoiaminha depois de viver uma experiência pessoal. Numa ida à ginecologista ela teve o seguinte diálogo: “Enquanto minha médica falava sobre checar minha questão hormonal e citava nomes de alguns hormônios, eu me assustei e soltei: ‘Meu Deus, eu tô na menopausa?’. Ela na sequência me explicou que não, que não sabíamos nem se eu já tinha entrado na peri. E eu: “Aonde? Aonde eu entrei, querida?’. Não tinha a menor ideia do que era”, conta ela. Exames feitos, Camila ainda não está na peri, mas foi o gatilho para ela pesquisar o assunto.
3. Tira a peri do armário!
Mulheres tendem a ter vergonha de entrar na perimenopausa, principalmente quem começa cedo, com cerca de 40 anos – ou até antes – por isso, não é incomum que guardem a informação para si. “Comecei a conversar com outras pessoas da minha idade e também um pouco mais velhas e percebi que muitas já estavam entrando na perimenopausa”, diz Camila Fremder. A terapeuta e empreendedora Luciana Cesar Léo, 44 anos, que há pouco mais de um ano entrou na peri, teve a mesma sensação.
“Comecei a contar meu caso entre amigas e várias estavam passando por processos semelhantes”
Além de entender que precisamos falar mais, Luciana conta da experiência transformadora que teve: “fui pesquisar o histórico familiar a pedido da minha médica e acabou que foi um movimento lindo. Busquei minha mãe, tia, irmãs, e cada uma compartilhou sua história, me senti ganhando um presente de cada uma delas.”
4. Arrasa, não
Para Maria Barreto, terapeuta e coach de mulheres no autoconhecimento, a perimenopausa e a menopausa em si não são o problema, mas sim a ideia de envelhecimento a que essas fases estão associadas. E envelhecer na nossa sociedade é ter pele mole, peito caído, cabelo branco. “É preciso entender que envelhecer não é ruim. A peri é o começo de uma abertura para trabalhar o campo espiritual, como um grande portal. É a fase de virar bruxa, porque tem sabedoria, é meio Rita Lee”, diz. Ela ainda lembra que a mulher contemporânea é quem briga tanto com esse momento, as mulheres dos povos originários sempre valorizaram a sabedoria e torceram para chegar lá e virar anciãs.
5. Passado o susto, saiba como aproveitar
Nem tudo são flores, pode ter sintoma, pode ter luto, mas nem tudo é lástimas Segundo a visão de Maria Barreto, na peri começa, por exemplo, uma força criativa potente que vem de um lugar mais profundo. “É a aposentadoria dos ovários e a gente acha isso ruim. A gente tem mais é que achar isso foda e falar: vai descansar”, diz ela, que ainda lembra que atualmente a mulher vive ⅓ da vida na fase pós menopausa. Depois da sensação muito forte de tristeza, Luciana relata mesmo “uma coisa forte, comecei a ter muitas vontades. Me libertou para outros sonhos”.
6. Tentando sintonizar
Além de olhar para si e tentar se acertar com o novo corpo e mente, sintomas que não nos deixam enganar e também forças internas, é bom lembrar que a perimenopausa não afeta só a mulher, mas todo o círculo familiar e social dela. “Eu passei a acordar de madrugada e isso influencia meu companheiro, no sono dele. Teve e ainda tem uma adaptação nossa para as questões. Cogitamos dormir em camas separadas”, diz Luciana. A dessintonia é geralmente um marco e é preciso ter conversas para tentar acertar os ponteiros. No trabalho, por exemplo, é preciso ter um ambiente acolhedor para uma mulher que tem ondas de calor, por exemplo. Mas mais importante é reivindicar mesmo a voz da mulher dentro e fora de casa e reconhecer sua importância e seu momento de transição.