Você já deve ter ouvido falar que “você é aquilo que você come”, porque uma boa alimentação é peça-chave para a nossa saúde e bem-estar. Mas será que você sabe que grande parte da responsabilidade por cuidar dessa comida é do intestino? Isso é tão verdade que talvez a frase certa seja: “você é a forma como o seu corpo digere”. Isso seria bem mais justo com esse órgão tão fundamental para a saúde do nosso corpo.
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A magia começa pelo seu tamanho. Entre intestino grosso e delgado, são cerca de 8 metros (equivalente a um prédio de 3 andares), tudo enrolado e devidamente compactado dentro do nosso ventre. Mas a sua inteligência também impressiona: ele tem um sistema nervoso próprio, que trabalha em conjunto com o cérebro e é habitado por milhões de micro-organismos (bichos que vivem dentro da gente, falaremos deles mais adiante). Tudo isso não só garante uma boa digestão e absorção de nutrientes, como influencia o que a gente pensa e sente. Exato: a forma como reagimos ao mundo vêm direto da barriga! É só lembrar que o termo “enfezado” se refere à raiva que brota na gente quando há fezes paradas dentro do intestino grosso. Tem também as “borboletas no estômago” quando a paixão acontece e o “frio na barriga” antes de uma apresentação em público. Nada disso é por acaso.
Intestino em ação
O intestino exerce inúmeras funções que são vitais para a nossa sobrevivência, como digestão, absorção de nutrientes, detoxificação, fortalecimento do sistema imunológico, produção de neurotransmissores e de hormônios. Funciona assim: após as refeições, ele identifica os nutrientes dos alimentos ingeridos e produz hormônios fundamentais para o funcionamento do corpo. Para se ter uma ideia, 95% da serotonina é produzida no trato gastrointestinal. Esse é um dos hormônios do bem-estar, que ajuda a reduzir ansiedade e depressão.
O intestino tem mais neurônios que a medula espinhal
Mas não é só a felicidade que mora no nosso ventre, o controle glicêmico, a sensação de saciedade e a diminuição do colesterol e triglicerídeos também moram. Pensa que acabou? Não. São esses hormônios produzidos no intestino que fortalecem a imunidade e controlam a retenção de líquidos. A nutricionista Ligiane Loureiro explica que ele tem mais neurônios que a medula espinhal. Ah, e como esquecer? Esse órgão também é responsável pela excreção. Como diria a professora de ciências: os intestinos grosso e delgado fazem parte do Sistema Nervoso Entérico, conhecido também como “segundo cérebro”, que se estende do esôfago ao reto.
Por que o intestino é considerado o segundo cérebro?
Cérebro e intestino se comunicam de forma bidirecional, ou seja, se influenciam mutuamente e envolvem outros sistemas: nervo vago, sistema nervoso simpático, endócrino, imunológico e a microbiota. Isso, microbiota! O intestino é habitado por trilhões de bactérias, vírus, fungos e protozoários, que têm um papel fundamental nessa conexão cérebro-intestino, já que a microbiota intestinal se comunica com o sistema nervoso central por meio de canais de sinalização imunológicos neurais e endócrinos. Quando equilibrados, esses micro-organismos vivem numa boa com a gente, em simbiose com os seres humanos, e se alimentam de tudo o que nos alimenta. E é exatamente por isso que nossos hábitos – alimentação, sono, exercícios físicos – definem a saúde da nossa microbiota e, consequentemente, nossa saúde física e mental.
As pessoas têm 10% de DNA humano e 90% DNA microbiano
Para quem quiser mergulhar nesse assunto fascinante, Sonia Hirsch, escritora e jornalista, tem um livro chamado Almanaque de Bichos que Dão em Gente. Tem também a obra 10% humano – como os micro-organismos são a chave para a saúde do corpo e da mente, da escritora inglesa Alanna Collen, doutora em Biologia Evolutiva. Ali ela diz que as pessoas têm 10% de DNA humano e 90% DNA microbiano. Não é maravilhoso?!
“Existe uma total relação da microbiota com todos os nossos órgãos e tecidos. Logo, só existe saúde, melhor performance, mais fertilidade, menor risco de desenvolver doenças, se houver a manutenção de uma microbiota saudável”, explica a nutricionista Ligiane Loureiro. Por isso, beber bastante água e comer alimentos ricos em fibras, por exemplo, que ajudam na digestão, é tão importante para o bom funcionamento intestinal e, consequentemente, para o bom funcionamento do corpo em geral. Por outro lado, uma alimentação muito rica em gordura está associada ao desenvolvimento de bactérias ruins.
Hábitos que promovem uma boa saúde intestinal
Ter um intestino saudável mantém a pele bonita e uma boa saúde mental. O bom funcionamento desse órgão nos dá disposição e leveza, além de evitar ansiedade e depressão. Ligiane dá a dica: “cuidar dos hábitos de vida, incluindo prática de atividade física, qualidade do sono, manejo do estresse e do emocional, além de cuidar da alimentação com foco em modular a microbiota, são os comportamentos fundamentais para garantir saúde intestinal”. E, como aprendemos aqui, saúde intestinal é saúde do corpo como um todo – e também bem-estar!