Já aconteceu de você chegar em casa apertadíssima sem encontrar a chave, dar um espirro mais forte ou praticar exercício físico e sentir a calcinha molhada de xixi? A incontinência urinária, condição de nome pomposo para aqueles escapes de urina, é assim: chega sem avisar e acontece quando a gente menos espera.
E, sim, aquela molhadeira pode assustar. Muitas mulheres sentem vergonha por achar que estão “ficando velhas” ou até fingem que nada está acontecendo pensando que só “escapou”. Mas saiba que este fenômeno é mais comum do que a gente pensa e nem sempre tem a ver só com a idade.
A incontinência urinária pode ocorrer em qualquer idade
A perda involuntária do xixi é causada principalmente por alterações no assoalho pélvico – músculo que fica no chão da pelve e sustenta a bexiga, o útero e o intestino –, que podem ser fraqueza, excesso de tensão ou falta de coordenação. Mas há outros fatores de risco que incluem a gestação e o parto, sobrepeso, cirurgias ginecológicas, tosses crônicas de fumantes e doenças pulmonares que possam gerar pressão no abdômen, entre outros.
Quais são os principais tipos de incontinência urinária?
De esforço: é a perda de urina quando a gente tosse, ri, faz exercício e se movimenta;
De urgência: quando dá aquela vontade súbita de fazer xixi e a pessoa perde urina antes de chegar ao banheiro;
Mista: é uma mistura dos dois tipos de incontinência e é impossível de controlar a perda de urina pela uretra.
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Segundo Laura Della Negra, fisioterapeuta especializada em reeducação do assoalho pélvico, no geral, de 25% a 45% das mulheres são acometidas por este fenômeno. “A partir dos 20 anos, cerca de 17% tem algum tipo de incontinência, incluindo as gestantes e quem está no pós-parto. Depois, temos as mulheres no climatério [fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo] e na menopausa. Dos 70 anos em diante há cerca de 60% de chance de uma mulher ser incontinente”, revela.
“Eu tenho pacientes atletas com média de 15 anos que já experimentam esta perda urinária nas atividades físicas”, alerta Tathiana Parmigiano, obstetra e ginecologista com atuação em esporte.
Durante a gestação
Nas gestantes, a incontinência acontece principalmente por causa das alterações hormonais do período e também porque, com o crescimento do útero, a bexiga muda de posição, fazendo com que as perdas de xixi sejam mais frequentes. “Há uma sobrecarga da musculatura do assoalho pélvico, que não está acostumado a um útero (normalmente do tamanho de nossa mão fechada) que aumentou de tamanho e fica pesado por abrigar um bebê. A perda urinária é um sinal de que todo este complexo está desequilibrado, causando, por exemplo, dor lombar e diástase”, esclarece Tathiana.
A perda de urina depois do parto dura em média duas ou três semanas
Mas não só. A fisioterapeuta Laura Della Negra atenta para o fato de que como perto de 90% das mulheres têm algum tipo de trauma vaginal decorrente do parto normal – por exemplo, a laceração, corte que pode ocorrer na região do períneo, entre a vagina e o ânus –, é comum que a perda de urina aconteça, com duração, em média, de duas ou três semanas. Depois, pouco a pouco, a maioria experimenta uma melhora.
“No caso de uma cesariana, essa incontinência pode persistir, já que no local onde é feito o corte existem muitas conexões entre os músculos do abdômem, da perna e do assoalho pélvico, que podem sofrer alterações”, completa Laura.
Escape na menopausa
O problema é ainda mais recorrente nas mulheres que estão passando pela menopausa. Isso porque os níveis de estrogênio (hormônio responsável pelo colágeno e que mantém as estruturas de sustentação) caem drasticamente, intensificando o processo de enfraquecimento do assoalho pélvico. “Quando há essa diminuição, é como se a uretra – canal por onde sai a urina – ficasse mais aberta, facilitando sua saída”, explica a fisioterapeuta.
Já com relação às mulheres acima dos 70 anos, a perda urinária é mais frequente. “Mas percebo que isso vem mudando, porque como hoje temos uma expectativa de vida maior, vemos mulheres nesta faixa etária muito mais ativas e se informando sobre o assunto”, observa.
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Agora, como explicar o fato de a incontinência afetar mulheres que são atletas se elas estão fisicamente em constante atividade, saudáveis e em forma? “Nelas, o escape acontece principalmente devido ao esforço, seja de um salto ou no fim de uma corrida. Como a musculatura está cansada, ela pode não cumprir sua função de dar estrutura ao assoalho pélvico”, explica Tathiana. “Essas mulheres precisam ficar atentas e desvincular a incontinência da menopausa. Muitas vezes, acabam não percebendo o problema por achar que perder xixi é simplesmente vontade de ir ao banheiro depois do esporte. Na verdade, a incontinência é perder xixi sem querer”, aponta a ginecologista.
“Uma maneira de amenizar o problema são os tratamentos, a exemplo do laser vaginal. Este recurso já é utilizado na menopausa para corrigir a atrofia vaginal causada pela falta de estrogênio e do colágeno e pode ajudar a tratar a incontinência leve. Eventualmente, outra saída é a cirurgia. Mas o sucesso a médio e longo prazo vem quando a paciente desenvolve uma consciência da musculatura do assoalho pélvico e de como utilizá-la para fazer exercícios. Isso tudo é possível por meio da fisioterapia pélvica”, recomenda Laura.
É preciso cuidar para que a incontinência não prejudique nosso bem-estar físico e emocional
A especialista também aconselha rever hábitos corriqueiros: evitar tossir e espirrar para dentro, sem permitir a saída do ar, e lembrar de travar a respiração ao carregar algo pesado que requer esforço.
E ela defende que a consciência corporal – adquirida por meio de movimentos para a área da vulva, do ânus e do abdômen e o posicionamento correto da pelve – aliada à atividade física, é fundamental. Yoga, pilates e ginástica funcional são boas opções, mas ressalta que nosso corpo gosta é de movimento, e mais ainda de variação.
“Quando somos crianças, estamos o tempo todo pulando, agachando. Adultos, trocamos essas atividades pelo trabalho, passando horas à frente do computador, sentando e levantando pouco. Ou seja, ficamos cada vez mais imóveis e perdemos a habilidade. E essa falta de mobilidade também faz com que a gente fique mais incontinente”, conclui. “Digo às minhas pacientes que, para o assoalho pélvico funcionar melhor, além da atividade física, precisamos dançar, pular e brincar mais. É ser um pouco criança.”