Quando você planeja vivenciar a solidão? Dificilmente alguém coloca esse evento na agenda. Mas, talvez, você já tenha experimentado esse momento em algum ponto da sua vida, de forma intencional ou não. Recentes estudos apontam que o Brasil lidera o ranking de países onde a solidão é mais prevalente, com metade da população brasileira admitindo se sentir só. Em meio a essa era de conexões digitais intensas, é intrigante refletir sobre o significado desse sentimento.
Constantemente, preenchemos o vazio da “não solidão”. Seja ao ouvir música, podcasts, assistir a vídeos no YouTube ou navegar nas redes sociais. Parece que nossas conexões, mesmo virtuais, nos afastam cada vez mais da possibilidade da solidão. Além disso, é crucial considerar as associações que fazemos com ela. Seria a solidão sinônimo de desconexão, vazio emocional, depressão, escolha, tranquilidade, sofrimento ou simplesmente a ausência de outras pessoas?
Vivenciar solidão por opção pode ser um encontro profundo consigo mesma
Antes de discutirmos a importância de escolher vivenciar a solidão, uma ponderação importante. Não podemos nos esquecer de quem a vive para valer – e não por vontade própria. Uma pesquisa do IBGE revela que, além do gênero, fatores como idade e raça influenciam significativamente a experiência da solidão. É preciso destacar que as mulheres negras enfrentam maiores dificuldades em encontrar parceiros amorosos e, consequentemente, isso impacta na percepção e vivência da solidão.
Agora sim, vamos conversar sobre solidão como escolha. Optar por vivenciá-la pode ser um encontro profundo consigo mesma, permeado por criatividade, liberdade e autocomprometimento. Esse momento de introspecção nos permite assumir a responsabilidade por nossos atos, confrontar angústias e obter uma perspectiva mais autônoma da realidade.
Então, escolher a solidão, mesmo que de vez em quando, também pode ser uma escolha pelo amor. Pode soar contraditório, mas o amor tem o poder de transformar a experiência de estar só em algo interessante. A única companhia que temos desde o início até o fim é a nossa própria, então aprendermos a apreciar e destinar um tempo a desenvolver essa relação é algo precioso. E escolher estar só às vezes é um grande ato de amor porque pode ser uma escolha que preze o cuidado de si.
Vivenciar a solidão não é uma experiência unicamente positiva; ao contrário, pode envolver desconforto e inquietação. Não é à toa que tanta gente evita. Mas viver bem os momentos de solidão é um exercício, em que cada novo espaço explorado na companhia de si mesmo pode ser uma oportunidade para nos sentirmos verdadeiramente conectadas. Surpreender-se na própria companhia pode ser uma descoberta fascinante.