Gina Lapertosa: musa fitness conta sua histórua - Mina
 
Seu Corpo / Arquivo Pessoal

Gina Lapertosa: “Não tá pago porque não é dívida, é investimento”

Com bordão educativo, a produtora de conteúdo fitness Gina Lapertosa fala do pai gordofóbico e conta como virou sensação crossfiteira nas redes aos 62 anos

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Mineira e a mais velha de quatro irmãos. Gina Lapertosa sempre foi uma menina que amava brincar, seja na rua ou na terra, adorava se sujar. Incentivada pelo pai, que sempre gostou de praticar atividades físicas, passou por diversos esportes, como vôlei e natação. 

Pedagoga aposentada e ex-natação competitiva, Gina conta que estar em movimento sempre foi uma paixão. Mesmo quando estava se recuperando de um grave acidente de moto, ela deu um jeito de se movimentar. Mas foi aos 55, que se apaixonou pelo crossfit após o convite de uma das suas filhas. 

Virou sensação na academia e estimulada pelos colegas, passou a gravar seus treinos, que em pouco tempo viralizaram nas redes sociais. No Instagram, Gina tem mais de 680 mil seguidores e no TikTok 95 mil. “Eu custei aprender a ficar parada, era ligada no 320 e continuo sendo, mas agora sei medir”. Por meio de 6 fotos, a atleta conta um pouco da sua história, que como a de muitas brasileiras têm pressão estética e flerte com distúrbio alimentar. 

6 anos de idade – Vestida para a primeira comunhão | Arquivo Pessoal 

“Me vestia de menininha só pra agradar a família no Natal” 

Gina é a mais velha de quatro irmãos e nunca foi fã de brincar de boneca, ou casinha. Desde os seis anos, seu negócio era a rua e todas as aventuras que ela podia proporcionar. A esportista comenta que a foto de sua comunhão não corresponde a sua verdadeira identidade. “Essa foto é uma fake news das boas, e isso era coisa da minha avó”. 

Ela confessa que desde de muito pequena nunca gostou de andar com roupas com laços e babados, muito comuns para meninas na década de 1960. “Sempre brinquei de pique-esconde e adorava carrinho de rolimã. Eu não tinha nada de menininha, a menininha era pra agradar a família no Natal”. Sua mãe sempre compreendeu e a incentivou a ser do jeito que quisesse. “Ela deixava eu ser quem eu era, mas dos outros adultos ouvia sobre arrumar o cabelo, sentar que nem mocinha”.

12 anos  – Numa escola só de meninas e jogadora de vôlei | Arquivo Pessoal 

“Enfiei a mão na goela pra vomitar”

No colégio de irmãs, Gina era da equipe de esportes e viajava representando a escola, mas estar imersa no universo do esporte não fez com que escapasse das pressões estéticas que cercam muitas das meninas no Brasil. “No começo, não consegui me adaptar, por ter o cabelo cacheado, por ser larga.. Por conta disso, em algumas situações cheguei a enfiar a mão na goela pra vomitar, mas tudo mudou quando encontrei as meninas da natação e do handebol, que eram mais robustas como eu”. 

A neura com o corpo também teve a ver com a pressão do próprio pai. “Hoje percebo que ele era gordofobico, queria que a gente fizesse muito esporte pra que nada saísse da medida. Ele cobrava muito da gente e foi complicado porque meu corpo se desenvolveu muito rápido e de uma vez só.” 

Mas ao mesmo tempo, Gina lembra que foi no esporte que aprendeu a cuidar da sua saúde mental. “O esporte dá um controle emocional, você passa a entender seu processo de evolução interna e foge das pegadinhas”, diz. 

18 anos – Era apaixonada por usar biquíni | Arquivo Pessoal

“Nessa época, era sexo, drogas e rock roll”

Se tivesse uma oportunidade de usar biquíni, Gina aproveitava. Ela confessa que depois da adolescência ficou mais satisfeita com o seu corpo. “Essa cobrança de estar fora do peso, de ter neuras no corpo, já não me pegava mais”, diz.  Aos 18 anos, Gina namorava um rapaz e sua turma gostava era de uma bagunça. “Gostávamos de fumar maconha”, brinca. “Nessa época, era sexo, drogas e rock roll”.

Naquela altura da vida, ela não se sentia cobrada profissionalmente pelos pais, era incentivada a ser quem ela quisesse. Todos os seus 3 irmãos se tornaram professores nos anos seguintes. 

33 anos – Natação como estilo de vida | Arquivo Pessoal 

“Quando você está bem com a sua cabeça, reflete no resto” 

Aos trinta e poucos anos, Gina já estava casada e era mãe, mas se dedicava à natação de forma profissional. “Me matriculei numa escola que levava atletas para competições estaduais e federais”, conta. Nesse momento, ela já enxergava a prática esportiva como estilo de vida, mesmo que tivesse a pedagogia como profissão. “Me formei em magistério muito para tirar aquela neura de que menina tem que ficar sentada para copiar, eu sabia que as crianças aprendiam de outro jeito, então dava muita importância para ficar com as minhas filhas e levá-las pra rua”, conta. 

Nesse momento da vida, a mineira tinha noção de que as variações do corpo, não são só sobre o corpo: “quando você está bem com a sua cabeça, reflete no resto”, diz. “Às vezes, a gente enfia o pé na jaca porque é emocional. Tem gente que fuma, tem gente que bebe, tem gente que dorme… Mas ali, eu já estava bem comigo mesma”. 

50 anos – Após sofrer um acidente de moto | Arquivo Pessoal 

“Que porra é essa climatério?”

Por volta dos 50 anos Gina largou a natação ao ser informada pelo médico que havia indícios de uma lesão no ombro, mas nem isso a fez ficar parada. Ela seguia treinando musculação. Até que um dia, indo para a academia, sofreu um grave acidente de moto que a deixou imobilizada por três meses e sem poder colocar o pé no chão. “Mas eu não conseguia ficar parada, e dei meu jeito de me movimentar. Lavava a louça com a perna apoiada numa cadeira”. 

Foi também nessa faixa etária que Gina lidou com os primeiros sintomas da perimenopausa (fase que antecede a menopausa) mas não foi de cara que entendeu o que estava passando. Depois de uma viagem, Gina sentiu uma angústia muito grande e resolveu procurar uma médica. “Ela falou para manter a calma porque eu estava entrando no climatério, e eu respondi: que porra é essa de climatério?”, lembra.  

Após a explicação do ginecologista, Gina entendeu o que eram os sintomas. “Não dormia mais, era um cansaço, uma instabilidade emocional… Só anos mais tarde, fiz reposição hormonal.” 

62 anos – Com cinco meses de criação de conteúdo, Gina tem 679 mil seguidores | Arquivo Pessoal 

“Envelhecer é sobre se preparar, mas tem que começar cedo”

Foi aos 55 anos que Gina deu uma grande virada na sua vida rumo a um estilo de vida mais saudável. Após aceitar o convite de uma de suas filhas para uma aula experimental de Crossfit, a pedagoga aposentada se apaixonou pela prática. “Me tirou da zona de conforto, porque exigia mobilidade e força. Nunca senti preconceito pela minha idade lá, sempre fui recebida com muito carinho”, conta. 

Meio resistente a compartilhar sua experiência nas redes sociais, Gina acabou cedendo ao fã clube que já ia se criando dentro do Crossfit, e com a ajuda da filha passou a criar conteúdo. Em cinco meses tem muitos fãs e mais de 770 mil seguidores, somando Instagram e Tik Tok . “A maioria do meu público tem entre 25 anos e 45 anos, no geral, eles buscam inspiração e motivação”. 

Aos 62 anos, Gina se vê em plena evolução no Crossfit e também na vida. “Estarei melhor do que estou hoje, continuando no processo que iniciei há muitos anos. Porque envelhecer é sobre se preparar, mas tem que começar novinho”, conta. 

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