Cadê o retorno das empresas nos processos seletivos? - Mina
 
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Ghosting corporativo: cadê o retorno das empresas?

Ficar esperando uma resposta sobre uma vaga de emprego já é angustiante, pior ainda é ela nunca chegar. As empresas precisam ter mais responsabilidade corporativa com seus candidatos

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A evolução tecnológica nos trouxe a era dos relacionamentos virtuais e, com eles, vieram novas formas de se conectar com o mundo e se afastar das pessoas. Quando falamos de flerte, por exemplo, é difícil encontrar alguém que não levou um ghosting. Caso você não esteja familiarizada com esse termo que já tá mais do que incorporado na nossa cultura, eu explico: é quando a pessoa que você está paquerando ou saiu algumas vezes para de responder suas mensagens ao invés de dizer que não tá mais afim, ou simplesmente te bloqueia sem dar explicações. 

Mas será que isso se aplica apenas ao ato de flertar romanticamente? Rolando o feed do LinkedIn, rede social de trabalho e vagas de emprego, em meio a dicas de coaches e frases motivacionais sem sentido, observo também os trabalhadores cada vez mais dispostos a denunciar o fenômeno do ghosting corporativo. 

Isso mesmo, assim como nos apps de relacionamento, muitas empresas deixam no vácuo as pessoas interessadas em suas vagas. Começam um processo seletivo com um candidato, passam etapas alimentando expectativas sobre a tão sonhada vaga de emprego, e, de repente, somem. Simplesmente não dão mais retorno.

Após um 2023 com muitas demissões em massa, os trabalhadores tiveram que procurar com afinco por novas oportunidades. E o que muitos relataram foi o descaso com o retorno dos RHs e das plataformas de anúncio de vagas, com problemas que vão de falhas em automações básicas de feedback até falta de resposta em processos que exigem que a pessoa praticamente entregue um projeto anual prontinho (existem até boatos de empresas que usaram ideias de candidatos que ficaram à deriva).

O ghosting corporativo cria feridas emocionais e faz as pessoas duvidarem do próprio potencial

Mas o que será que está por trás desse comportamento? Vejo três causas:

  • Todo mundo está sempre correndo, inclusive o RH, então acabam esquecendo de dar retorno. Fechar as vagas vira um projeto meramente transacional: acaba uma, começa a próxima;
  • Dar feedback negativo é mais difícil e exige explicações, então dar um ghosting pode sair mais barato (já que ninguém terá que investir tempo enviando e-mails e respostas customizadas) e ser menos desgastante; 
  • Consertar e automatizar a plataforma de vagas sai mais caro do que simplesmente não dar retorno para as pessoas.

E aí eu deixo uma questão para as empresas: de que adianta fazer lindos posts de diversidade, ESG (sigla em inglês que signigica sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa), colaboração e inovação durante o ano todo e pecar em algo tão simples? Se vocês se dizem tão preocupadas com employer branding (ações que as empresas fazem para despertar o desejo de trabalhar lá) e reputação de marca, como podem vacilar justamente em um momento tão importante quanto a entrada de um novo colaborador? 

Assim como nos relacionamentos pessoais, o ghosting corporativo cria feridas emocionais e faz as pessoas duvidarem do próprio potencial. Os candidatos não estão apenas buscando emprego (o que já é muita coisa), estão buscando uma chance de contribuir, de crescer, de fazer a diferença. Negligenciar esse momento não é apenas desrespeitoso, mas também prejudicial para a reputação da empresa.

OK que ninguém tá dando conta de responder todas as mensagens, mas tal qual os crushes (que, quando querem, arrumam tempo), os líderes, gerentes, chefes e RHs  precisam ter responsabilidade corporativa, né? Até porque isso não é um favor, nem é como responder vendedores tentando te empurrar produtos que você não quer – nova linha de telefone, um loft ou jazigo. 

Estamos falando de gente que já fez uma conexão profissional e que tem um interesse em comum. Um simples feedback, mesmo que seja para dizer “não”, é melhor do que não dizer nada. As pessoas estão ansiosas por uma resposta. Não reproduza um padrão social de desconexão. Não permita que a indiferença defina sua marca. Ter coragem para fornecer uma resposta, por mais difícil que seja, mostra profissionalismo e empatia. Organização é a chave para criar processos eficientes e humanos. 

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