Falta de tesão é normal? Como lidar com a libido baixa - Mina
 
Seu Corpo / Reportagem

Sem culpa, nem noia: precisamos conversar sobre falta de tesão

7 em cada 10 mulheres já experienciaram períodos de baixa libido. Se por um lado é preciso desencanar da pressão para sermos sexualmente ativas, por outro é importante saber quando é hora de se preocupar.

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Nunca antes, na cultura ocidental, falamos tanto sobre sexualidade feminina como nos últimos 2 anos. A pandemia fez com que encarássemos de frente a relação com o corpo, a nossa intimidade e o nosso prazer. E, é claro, que o mercado encontrou nisso uma oportunidade, criando diversas sextechs e ampliando a oferta de produtos de sexcare. Ainda assim, diversos fatores seguem atrapalhando o prazer feminino: o corpo da mulher continua sendo vigiado, educação sexual é vista como um tabu, enfrentamos jornadas triplas de trabalho, além das questões de saúde – como menopausa, endometriose e outros.

7 em cada 10 mulheres já experienciaram um período de libido baixa na vida

Um estudo publicado em agosto de 2022 pelo aplicativo americano de fertilidade Peanut mostrou que 7 em cada 10 mulheres já experienciaram um período de libido baixa na vida. E, cá entre nós: basta meia hora de conversa com uma roda de amigas para reparar que a “falta de tesão” é mais comum do que parece – mas por que não falamos sobre isso? Em uma época de tantos avanços sociais, é hora de tirar o peso do assunto. Para que essa questão não entre na “lista de culpas femininas”, precisamos naturalizar o tema. Afinal, são vários os motivos que impactam no tesão da mulher, mas há caminhos para solucioná-los. Especialistas mostram como.

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Fatores clínicos

Não existe uma causa clínica única que resulte na queda do tesão feminino. A médica e ginecologista natural Débora Rosa lista algumas: fadiga, estresse, depressão, hipertrofia da musculatura perivaginal, cicatrizes vaginais, infecção urinária, corrimento, medicamentos psiquiátricos, alterações hormonais, diminuição da testosterona e estrogênio, lactação, puerpério, menopausa, endometriose, período do ciclo menstrual e contraceptivos. Bastante, né? E essa é só uma parte. 

Justamente por isso, ela frisa: “temos que avaliar tanto os aspectos físicos quanto sociais e emocionais envolvidos e só então partir para uma abordagem técnica. Dependendo do caso, encaminho a paciente para a psicóloga, para a fisioterapeuta pélvica ou para a nutricionista”, comenta Débora – sim, a nutrição também influencia no desejo.

Falta de autoestima

Questões culturais, como a pressão estética, também costumam agir no prazer feminino. Uma pesquisa feita em 2016 com 437 mulheres de 45 a 60 anos mostrou que aquelas que estavam mais satisfeitas com o corpo, tinham maior índice de prazer sexual. “Se não me sinto bem com quem sou, com o corpo que habito, se tenho pensamentos de inadequação, com certeza terei o meu impulso de desejo atravessado, diminuindo o tesão”, analisa a terapeuta e sexóloga Andreia Paro.

“A comparação só atrapalha o prazer”

Lua Menezes, também sexóloga e autora do livro Rio Profano, dá dicas de como combater a baixa autoestima corporal: “É necessário reconstruir a autoimagem que essa mulher tem de si. Para isso, o primeiro movimento é o de buscar terapia. Depois, outra sugestão é parar de seguir nas redes sociais perfis de influencers que não tem o corpo parecido com o seu. A comparação só atrapalha o prazer”.

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“Relaxa”… e goza?

“Tudo que interfere na sua liberdade de ser, na sua autenticidade, na sua expressão no mundo, vai afetar a libido. Já entendemos que ela tem relação direta com secreções de hormônios, mas também que é circunstancial”, destaca Andreia. Por essa razão, é importante que a mulher crie uma relação especial com o próprio corpo. 

A dica das duas sexólogas para que isso aconteça é a adoção de rituais de autoprazer na rotina. Entre os benefícios da masturbação – além do estímulo do tesão feminino – estão: redução de dores menstruais, aumento da autoestima e melhora na qualidade de vida. “Tem mulheres que não sentem desejo porque não foram ensinadas a sentir prazer, então, às vezes, a repressão é tão grande que, na verdade, não é que a mulher não tem libido, mas ela não entra em contato consigo mesma porque não sabe como”, alerta Lua.

Quando se preocupar

Não existe um remédio para combater a falta de apetite sexual. O viagra masculino, por exemplo, combate a disfunção erétil, e não a falta de desejo. “A libido é multifatorial. Nossa falta de vontade de transar pode estar ligada a questões culturais, repressão, castração, ou então  estar relacionada a problemas no relacionamento. Tem um milhão de motivos e, por isso, é importante que a mulher não ache que o problema está nela”, reflete Lua.

“Você não tem que fazer sexo se não está com vontade”

Ter momentos em que o tesão dá uma desaparecida é normal. A preocupação deve vir apenas quando for algo que está impactando a saúde (ainda que emocional) da mulher. “Temos que entender que a vida é cíclica, então é absolutamente natural que em algum momento a sua libido caia por situações que estão acontecendo”, diz Lua, que faz um porém: se você nunca teve apetite sexual na vida, talvez seja hora de investigar a causa. “Você pode ser uma pessoa do espectro assexual ou homossexual e aí eu recomendaria estudar o assunto”.

De qualquer forma, independente do motivo, chegou a hora de naturalizar o baixo tesão. “Precisamos normalizar o fato de não termos libido o tempo todo. Ou mesmo, de que existem pessoas que não possuem um grande interesse por sexo”, reforça Andreia. Apesar de estarmos vivendo um momento importantíssimo sobre bem-estar íntimo e sexual da mulher, não devemos criar mais uma coisa para nos aprisionar. “É tudo sobre autoconhecimento, sobre os seus desejos mais íntimos, sobre as suas experiências e não sobre ter que fazer algo. Você não precisa fazer sexo se não está com vontade, então não se sinta culpada e não se compare, não existe uma regra”.

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